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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 19 de maio de 2020

BICHO DO MATO - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista..

Lá no Icaraí, meu amigo Barnabé me contava histórias da sua terra, Itapajé, geralmente sobre pessoas da zona rural.

Como se sabe, as secas “marvadas” produziram um movimento chamado de diáspora nordestina, que nada mais era que a ida do nosso povo, às carradas, em direção ao sul do país.

Nós mesmos, nos despedimos de tios e primos, gente que nunca mais vimos, ou tivemos noticia, com a sensação de um contato final.

Patativa do Assaré compôs e,  Luiz Gonzaga botou no vinil,“A triste partida” que conta a zaga do nordestino em busca de melhores dias no sul.

Nem é preciso dizer das dificuldades de adaptação do sertanejo a um clima frio e modo de vida diferente.

Um amigo de Barnabé, depois de analisar bem as condições, resolveu encarar a aventura de se mandar com mala e cuia para São Paulo.

Passados uns seis meses, ei-lo de volta à vida tranqüila da zona rural de Itapagé, surpreendendo pelo retorno “mais ligeiro do que enterro de pobre”.
Quando o encontrou, Barnabé travou com o amigo o seguinte diálogo:
-“Não arranjou emprego, macho”?
-“Arranjei e até que a “paga” era boa”.
-“E porque não ficou por mais tempo” ?
-“Aquilo alí não é lugar prá nós não”
-“Como rapaz, empregado e ganhando bem, tu queria o que mais” ?
-“Hômi, mesmo assim eu lá ia ficar num lugar onde a gente caga e não vê a “ruma”, anda e não vê o rastro” !
Um autêntico bicho do mato.

Um comentário:

  1. Prezado Wilton - Falando de flagelo e dificuldades de nossa gente, eu tenho procurado a razão e origem do termo "Cassaco" que qualifica todo nordestino que faz parte das frentes de serviços nos tempos de seca e emergência.

    Joaquim Mendes, do sitio Iputy em Várzea-Alegre resolveu não ir para as frentes de serviços. Com uma reca de 12 filhos preferiu enfrentar as dificuldades.

    O primeiro bem que se desfez foi um bode. Quando foi vender o couro na cidade, de passagem por uma frente de serviço, um dos trabalhadores perguntou : vai vender o couro?

    Se for para vender eu compro por um real.
    Virado na muzenga Joaquim respondeu : Eu estou vendendo o couro de um bode que pesou 45 kilos, não é o couro de um "cassaco" não.

    Fica a pergunta : Porque Cassaco? Para quem se habilitar responder.


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