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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 17 de outubro de 2020

O prefeito - Por Maria Anatércia Arraes Schilke.

Um fato político muito interessante aconteceu na fazenda Viana, municipio de Saboeiro - CE na ocasião das eleições de 03 de Outubro de 1950. Os adultos, residentes na fazenda, foram para Mocambo, distrito mais proximo, cumprirem seus deveres cívicos, isto é escolherem : prefeito, governador e deputado respectivamente.

As crianças ficaram em casa. Elas estavam embuidas do espirito civico eleitoral. Há vários meses só se falava em votos, candidatos e vitória. 

Conversaram e resolveram simular uma eleição. Escolheram os candidatos : Dultimare e Luiz Cláudio.

Usaram como  cédulas folhas de propaganda. Prepararam a urna. Houve discurso, discurssões, promessas, menos planos de governo, que na época nem se sabia o que era. 

A votação ia começar  quando um solitário cavaleiro apontou na curva da estrada no alto do morro em frente. Os adultos só eram esperados no final da tarde.

A visita não era bem-vinda. Não naquele momento. A visita chegou. Era um vizinho  que parou para descansar e contar o andamento do pleito, falar das tentativas de fraude e compra de votos. Ao despedisse presenteou Dulimare, candidato a prefeito, com duas garrafas de guaraná, produto raríssimo naquela época, principalmente numa fazenda no alto sertão nordestino. 

O primeiro impulso foi dividir irmanamente como havia aprendido, como regra básica de solidariedade, a compartilhar sempre. Todos queriam.

Então veio a ideia brilhante de candidato, acostumado a ouvir falar no voto de cabresto, como se fosse muito natural essa prática exercida abertamente. Sapecou :

Tudo bem. Só bebe guaraná quem votar em mim.

Todos concordaram, o desejo era maior do que a lealdade. A unanimidade dos votos, inclusive do candidato adversario consagrou o prefeito. 

Dultimare tornou-se o mais legitimo dos prefeitos. A partir daí ficou conhecido como prefeito, e o cargo outorgado, vitalício. 

Um comentário:

  1. Um texto de leitura aprazível. Coisas inocentes. De crianças já imitando os adultos.

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