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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 24 de abril de 2024

Se exiba pelo caráter e não pela ausência dele - Por Antonio Morais.

"Não é preciso mostrar beleza aos cegos, nem dizer verdades aos surdos. Basta não mentir para quem te escuta e não decepcionar os olhos de quem te vê.

A decepção não mata, mas faz muito sentimento bom morrer. 

O tempo desmascara as aparências, revela a mentira e expõe o caráter".

Dr. Marchet Callou - Postagem do Antônio Morais.

O Dr. Marchet Callou foi o primeiro dentista do Cariri, aqui chegando em 1937. Era uma extraordinária figura humana: bonachão, poeta de rara sensibilidade, escritor, orador, boêmio no bom sentido,  desapegado das coisas materiais. 

Em todo universo, Marchet Callou fazia uma coisa que somente ele sabia: em vez de colocar inseticida para as formigas do seu jardim, ele colocava açúcar  para alimentá-las. 

Em telefonema para o Padre Agostinho Mascarenhas pediu que, em face da pressa, uma confissão urgente.

Diante do confessor, Marchet Callou  disse para espanto do padre: Eu só tenho um pecado, mas o cometo todo dia: jogo no bicho e nas loterias em geral.

Isso não é pecado, mas uma contravenção penal, vá na capela e reze cinco "Ave Marias" de penitência. Seu pecado está perdoado.

Marchet ao abrir a bíblia encontrou um papelzinho com o numero 31, escrito.

Olhando para esposa Elba Marchet disse : "Um palpite". E, lépido saiu para jogar aliviado  com o perdão do seu confessor.

terça-feira, 23 de abril de 2024

LUGARES - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.


Leio, em uma velha publicação, entrevista com o ator Procópio Ferreira, pai da magnífica Bibi Ferreira.

Por que não mais visitou Paris? Foi uma das perguntas.

Ao que respondeu o grande artista: "Meus amigos não estão mais por lá. E os lugares são as pessoas".

É isso. O lugar é a soma de almas de pessoas que o criaram.

Sem alma, um lugar vira um não lugar.

Como definiu Agualusa: "A alma é uma luz muito pequenina escondida no coração. É o que continuamos a ser depois de ser..."

Passo, às vezes, diante de lugares que frequentei e não ouço nem sussurros, quanto mais vozes. 

Fico, irremediavelmente, melancólico. 

Antes, espaços onde a vida fluia e ninguém atrapalhava. Bagagem volumosa de afetos.

Lugares que abrigaram tanta vida. Ecos de pessoas, vestígios de vidas vividas.

Prazer de viver engolido pelas mudanças do tempo.

O que nos resta: descobrir novos lugares e reconstruir, no presente, a felicidade experimentada no passado

Cora Coralina - Por Cora Coralina


Sou feito de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.

Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... que me tornam mais pessoa, mais humano, mais completo.

E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.

Portanto, obrigado a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. 

Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.

E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de 'nós'.

Cora Coralina.

segunda-feira, 22 de abril de 2024

A TECNOLOGIA E O PRIMITIVO - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Posso até me perder nesse assunto. A guerra não é a praia que frequento.

Entanto, há coisas que mexem com a alma da gente. 

Estamos num Mundo de guerras e retaliações. O Oriente Médio é um barril de pólvora.

Com a escalada tecnológica, paradoxalmente, parece que retornamos ao primitivo.

Leio horrorizado que já se faz uso de uma máquina bélica de poder tecnológico altamente letal. 

Ela tem o nome de Lavender, um sistema de Inteligência Artificial que define alvos e os executa em massa.

Sua utilização se daria matando, indiscriminadamente, populações civis.

Isto é, o que a tecnologia antes prometia como avanço é hoje um perigo.

Não é difícil deduzir que esse tipo de “avanço” nada mais é do que um enredo selvagem e criminoso.

O homem não é mais o mesmo depois de tais invenções.

O que temos pela frente é o horror.

domingo, 21 de abril de 2024

Baladas de outrora. - Por Antônio Morais.



BALADAS DE OUTRORA.

As meninas, bem mais recatadas que as de hoje. Nós, recém saídos da adolescência, sonhávamos a semana inteira com aqueles sábados, com aquelas tertúlias. Cada fim-de-semana na casa de um, em sistema de revezamento.

Havia a necessidade do ‘esquente’, antes da festa, para ter coragem de tirar as meninas recatadas para dançar. Mas havia, também, a falta de dinheiro, fator que limitava um ‘esquente’ decente. O jeito era, num só copo, misturar conhaque, cachaça, rum e um pouco de cerveja e, copo cheio, botar aquelas mistureba pra dentro deixando o fogo sair pelas ventas.

Pouca coragem, quase nenhum dinheiro. Bom e barato. Nada de beber lenta, gradual e socialmente. Bastava uma dose e estávamos no ponto para dançar. E aquelas moças, bonitas e recatadas, aceitavam um convite à dança de um cabra cambaleante e com um hálito de quem engoliu tudo que não presta misturado com tudo que também não presta.

Mas os tempos eram outros e aquelas moças dançavam a noite toda com aquela cambada de cabrinha recém-saído da infância, com todos os hormônios saindo pelos poros e com todas as catingas saindo pelas bocas. A embalar os sonhos ouvia-se Paulo Sérgio, Roberto Carlos e, tantas vezes, Renato e seus Blue Caps.

Dançávamos, alegres, festiva e inocentemente bêbados.

Xico Bizerra.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

ARREMESSOS - Por Wilton Bezerra, comentarista generalista.

Todas as ações humanas que ignoram os limites levam à destruição.

Nunca poderemos usar as armas dos extremistas. É suicídio lutar no campo deles.

Os anos passam e percebemos que somos apenas as experiências que nos moldaram.

O tempo não cura todas as mágoas, mas a dor fica mais suportável.

Todo time tem uma torcida. O Corinthians é o único caso em que uma torcida tem um time.

Não deixe para acordar quando estiver no túmulo.

Não são poucos os que defendem a democracia na aldeia e abraçam ditadores fora dela.

Tem comentarista que não sabe a diferença entre a bola e uma ogiva nuclear.

Em vários sabores, a burrice está à mesa.

O que era doce permanece em nossas lembranças.

O ciúme é único sentimento que quer a morte.

Se o futuro nada promete, o presente é sem futuro.

O mundo real nos parece impenetrável.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Nunca se iluda - Por Antônio Morais



Nunca se iluda, gente ruim não muda. Você espera que a pessoa amadureça e ela vai lá e apodrece.

Muitos irão gostar de você apenas enquanto puderem te usar, a lealdade termina quando os benefícios acabam. A ingratidão é o preço do favor não merecido.

Nada que eu posto é pessoal, muito menos direcionado a alguém. São simples mensagens, frases, imagens, piadas e brincadeiras, para fazer rir e passar o tempo.

Há tanta falsidade que a vida nos faz acreditar que caminhar sozinho nem sempre é o mal maior.

233 - O Crato de Antigamente - Postagem do Antônio Morais.

A noite que transformaram dona Bárbara de Alencar numa "anã" -- por Armando Lopes Rafael


Na noite de 21 de junho de 2016, Data do Município de Crato, o prefeito Ronaldo Gomes de Matos “O Fenômeno”, inaugura um “monumento” no calçadão da Praça da Sé. Criticada por ser uma cidade “pobre de monumentos”, a Cidade de Frei Carlos recebia um “busto” de Bárbara de Alencar, uma figura emblemática no episódio que se convencionou chamar de “desdobramento da Revolução Pernambucana de 1817 na cidade de Crato”.
Tratava-se, na verdade de um simulacro de monumento. Uma anã, colocada rente ao chão, simbolizada a heroína dos cratenses. Sinceramente, dona Bárbara merecia ser homenageada com um monumento à altura da sua memória.
Sobre esse “busto” assim foi noticiado no Blog Plim-plim do Cariri, mantido pelo Sr. André Lacerda:
     “Inaugurado o busto da heroína Bárbara de Alencar no município do Crato, parece brincadeira, ou alguma criança brincando de argila, me desculpe o artista, mas até agora eu fico imaginando de quem foi a brilhante ideia, se a guerreira estivesse viva, era capaz dela ter um enfarte fulminante, já não bastasse a cara torta e mal feita da santa”. (SIC)
 Passados quase dois anos da introdução daquela “aberração” ainda não se viu um protesto à altura contra aquela coisa horrorosa, capaz de motivar a retirada da “anãzinha” que fere os foros da memória histórica de Crato. Triste! 

Sobre a  Revolução Pernambucana de 1817 em Crato:  mito e realidade
     A participação de Crato na Revolução Pernambucana de 1817 tem sido o episódio histórico desta cidade mais exaltado, nos últimos pós–proclamação da República. Costuma-se dizer que a história é sempre escrita pelos vencedores. Os revolucionários republicanos de 1817 – derrotados pela contrarrevolução do monarquista cratense Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro – passaram a ser exaltados como heróis, após o golpe militar que impôs a forma de governo republicana no Brasil, em 15 de novembro de 1889. Os feitos desses republicanos de 1817, no Cariri cearense, são divulgados em proporções maiores que os reais, tanto nos meios de comunicação, como por parte de alguns historiadores. Do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro pouco se fala. Quando se escreve sobre o efêmero movimento que foi a Revolução Pernambucana de 1817, em terras do Cariri cearense, omite-se a decisiva participação do Brigadeiro Leandro, ao debelar aquela revolta. Omite-se, também, a coragem pessoal e cívica de Leandro Bezerra Monteiro naquele episódio.

   Aliás, o historiador cratense J. de Figueiredo Filho, apesar de simpático às ideias republicanas foi veraz ao escrever: “Muito se tem discutido em torno da Revolução de 1817, na Vila Real do Crato. Foi movimento efêmero, que durou apenas oito dias. Ocorreu a 3 de maio de 1817, em consonância com a revolução que eclodiu em Pernambuco. Foi abafada, quase ingloriamente, a 11 do mesmo mês. É verdade que a vila bisonha de então não estava suficientemente preparada para a rebelião que, para rebentar, em Recife, necessitara da assimilação de muitas páginas de literatura revolucionária, da luta entre brasileiros e portugueses, em gestação desde a guerra holandesa e do preparo meticuloso, em dezenas de sociedades secretas, além de fatores econômicos múltiplos”. (01)

   Passados 200 anos daquele episódio e analisando de forma objetiva vários escritos e opiniões dos pesquisadores regionais chegamos à conclusão de que o que ocorreu no Cariri, em 1817, não foi uma simples disputa entre clãs familiares, como alguns historiadores escreveram no passado. Tratou-se, na verdade, de um confronto de ideias. De um lado, o proselitismo e ações concretas em favor dos ideais revolucionários e republicanos, feitos por membros da ilustre família Alencar, um dos clãs mais importantes do Sul do Ceará. O povo não apoiou os Alencares, que lutaram para impor uma ideologia estranha à mentalidade da sociedade caririense de então. Do outro lado, opondo-se a essas ideias republicanas, esteve Leandro Bezerra Monteiro, um homem dotado de profundas e arraigadas convicções católicas e monarquistas. 

   Relembre-se, por oportuno, que a fidelidade à Monarquia, por parte de Leandro Bezerra Monteiro e seu clã, motivou a concessão – partida do Imperador Dom Pedro I – da honraria ao ilustre cratense do primeiro generalato honorário do Exército brasileiro. Àquela época, embora em desuso, o posto de brigadeiro correspondia – na escala hierárquica do Exército Imperial – à patente de general.
    No mais, outro historiador cratense, José Denizard Macedo de Alcântara fez interessante análise sobre a mentalidade vigente na população do Cariri, à época da Revolução Pernambucana de 1817.  A conferir:
    “Um bom entendimento dos fatos exige que se considere a realidade histórica, sem paixões nem preconceitos. Ora, dentre os dados da evolução histórica brasileira há que se ter em conta o seguinte:
a)    a sociedade brasileira plasmou-se, em mais de três séculos, à sombra da monarquia absoluta, com todo o seu cortejo de princípios, hábitos, usos e costumes, não sendo fácil remover das populações esta herança cultural, tão profundamente enraizada no tempo;

b)    daí o apego aos Soberanos, a aversão às manobras revolucionárias que violentavam suas tradições éticas e políticas, os reiterados apelos de manutenção da monarquia absoluta, que aparecem, partidos de Câmaras Municipais – os órgãos públicos mais aproximados das populações – mesmo depois que Pedro I pôs em funcionamento o sistema constitucional de 1826;

c)    o centro de gravidade desta sociedade eminentemente rural era sua aristocracia territorial, única força social de peso na estrutura nacional, repartida em clãs familiares, e profundamente adita ao Rei, de quem recebia posições públicas e milicianas, além de outras benesses, sentimento este que mais se avolumara com a transmigração da Família Real, em 1808, pelo contato mais imediato com a Coroa, bem como pelos benefícios prestados ao Brasil, no Governo do Príncipe Regente;

d)    sendo insignificante a sociedade urbana, era mínima a capacidade de proselitismo da vaga liberal que varria o mundo ocidental, na época, restringindo-se a uma minoria escassa, embora ativa e diligente. (02)

    Donde se conclui que não houve simpatia, nem apoio da sociedade caririense às ideias republicanas da Revolução Pernambucana de 1817, difundidas no Sul do Ceará pelo seminarista José Martiniano de Alencar.

Referências bibliográficas:

(01) FIGUEIREDO FILHO, J. História do Cariri. Vol. I. Edição da Faculdade de Filosofia do Crato, 1964.  p.61
(02) ALCÂNTARA, José Denizard Macedo de. Notas preliminares in Vida do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro. Secretaria da Cultura, Desporto e Promoção Social do Ceará, Fortaleza, 1978. p.26

 (*) Armando Lopes Rafael é historiador. Sócio do Instituto Cultural do Cariri e Membro–Correspondente da Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris, de Salvador (BA).
 

232 - O Crato de Antigamente - Postagem do Antônio Morais.


Terremoto no Ceará.

Depois dos terremotos ocorridos no Haiti, o Governo Brasileiro resolveu instalar um sistema de medição e controle de abalos sísmicos, que cobre todo o país. O então recém-criado Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, já detectou que haveria um grande terremoto no Nordeste do país.

Assim, enviou um telegrama à Delegacia de Polícia de Icó, uma cidadezinha no interior do Estado do Ceará. Dizia a mensagem: "Urgente. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso. Richter 7. Epicentro a 3 km da cidade. Tomem medidas e informem resultados com urgência".

Somente uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu um telegrama que dizia: "Aqui é da Polícia de Icó. Movimento sísmico totalmente desarticulado. Richter tentou se evadir, mas foi abatido a tiros. Desativamos as zonas e todas as putas estão presas.

Epicentro, Epifânio, Epicleison e os outros três irmãos estão detidos, e serão removidos para penitenciária mais próxima.

 Não respondemos antes porque houve um terremoto da porra "aqui" em ICÓ!

231 - O Crato de Antigamente - Postagem do Antônio Morais.


O gado descia mansamente no rumo do sertão.
O trovão reboava no nascente como marco incontestável do limite entre a seca que findava e a quadra chuvosa que já se prenunciava.
O gado tinha secado do capim mimoso dos sertões, enfastiado com o capim agreste da chapada do Araripe onde passara toda a seca.
Eram 200, 300 reses tangidas por quatro vaqueiros, meu pai na guia e eu no coice do gado.
A musica dos bois era a nota marcante daquela alegre tarefa. Tudo era alegria!
De repente, no lambedouro do Auto do Mulungá, um touro mestiço do pescoço grosso, cioso da sua liderança naquele rebanho, parou, deu um urro muito forte e retorcia as moitas com os chifres, dando saltos inopinados.Todo o resto do rebanho aproximava-se do touro e o repetia em lânguidos berros cheirando o chão! Todos paramos instintivamente, como autômatos.
O vaqueiro Zé Félix, muito místico, tirou o seu chapéu de couro e o colocou no peito em reverência àquela inusitada cena como igual jamais vi na vida!
Em seguida, o touro mestiço retomou a guia do rebanho e continuou a caminhada. Fomos verificar a causa daquela tocante cena. Era a ossada ainda verde e recente de uma rês que morreu naquela lambedouro onde as reses sempre iam ao cair da tarde em procura do sal da terra para satisfazerem a sua carência de sal. Dali pra frente os aboios diminuíram de intensidade, Esquece-la, jamais e eu tinha 12 anos de idade e era aprendiz de vaqueiro. O tempo inexorável, vai se acumulando sobre mim, mas aquela bucólica cena fica cada vez mais viva na minha saudosa sensibilidade, nunca vi humanos chorarem tão intensamente os seus mortos. A natureza tem os seus mistérios!

O choro do gado - Napoleão Tavares Neves é médico, radicado em Barbalha; escritor e cidadão atuante; Autor de vários livros. Pertence a diversos institutos culturais do Ceará.