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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 8 de setembro de 2013

MIMI, UM GATINHO ESTIMADO - POR ANTONIO MORAIS


Um casal abastado de minha terra, residente no sitio Rosário, depois de muita luta, promessas e tratamento em clinicas especializadas em reprodução humana, viu nascer uma menina em sua casa. Filha única, criada com muito mimo, educada nos melhores colégios, a primeira normalista formada dessas bandas. De tanto escolherem pretendentes à altura terminou ficando na prateleira, no caritó. Genoveva assim a chamavam. De tão feia, fazia bode entrar n'água e menino largar de comer terra. Ninguém se atreveu a aceita-la em casamento apesar do grande dote que seria sua herança.

Depois de cinco décadas nos costados, danou-se a rezar, era uma zeladora aplicada da Associação do Sagrado Coração dos Pobres Desamparados. Por fim, arranjou um gatinho de estimação, um angorá a quem tratava como o filho que não conseguira ter.

Já velhinho o padre Joaquim Mané foi substituído na paróquia local, e, em seu lugar assumiu o novato padre Raimundo Montado, com idéias novas e bem mais liberais. Recebeu Genoveva em audiência confissionária: Padre, eu acho que já é tempo de Mimi, o meu gatinho, fazer a primeira comunhão! Como é? O que você está dizendo? Isso é um sacrilégio, Deus não há de perdoar uma blasfêmia destas, isso é passagem direta para o inferno sem escala pelo purgatório, fala o Padre bastante aborrecido.

Perdoe-me, senhor vigário, é que quando ele nasceu, Joaquim Mané, o padre da época o batizou. Eu ofertei cem mil reais para igreja, ele dividiu parte com paroquianos necessitados, comprou um carro para seu deslocamento pessoal, pintou a igreja e ainda comprou uma indumentaria nova para o sacristão Pedro Anjos.

E ele já é batizado? Você devia ter me avisado. Eu falei tudo isto porque não sabia que ele já era cristão! O gatinho fez a primeira comunhão com direito a festa para convidados, bolo, retrato nos braços do padre e tudo mais.

Dona Doroteia, uma velha cuviteira, que estava na fila da confissão, ouvidos afiados, ouviu a conversinha, entendeu direitinho a historia, acompanhou de perto o seu desdobramento, comeu um pedacinho do bolo com aloar, fez uma carta denunciando para o bispo. De posse da carta, Dom José Dobrão intimou de imediato a padre para se explicar. Você fez a primeira comunhão de um gato? Perguntou irritado o bispo. Fiz sim, respondeu padre Raimundo Montado. Genoveva, a proprietária do Mimi fez uma doação de cem mil reais para a paróquia. Eu fiz uma pintura na igreja com dez mil, troquei o carro velho por um novo, foram outros vinte mil, gastei outros vinte mil com ajuda humanitária aos paroquianos carentes e trouxe cinquenta mil para o Senhor.

O Bispo jogou o patuá na gaveta, passou a chave e assuntou outra conversa. Ao se despedir, padre Raimundo Montado ouviu de Dom José Dobrão: Aguarde uns dez minutos que estou preparando o termo de excomunhão de Doroteia, pra ela deixar de ser fuxiqueira e se meter com a vida alheia, e, não esqueça de avisar para Genoveva que no próximo mês haverá crisma.

3 comentários:

  1. Excomungou a fuxiqueira e não a dona do gato, como o de Recife que não excomungou o maior pecador dentre todos. Essa história é verdade? Pois se for é muito parecida com a que Ariano Suassuna conta no Alto da Compadecida, onde só muda o animal, que lá era um cachorro, e o motivo, lá era um enterro em latim!
    Muito Bom Antonio!

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  2. O padre Raimundo Montado já não dava conta. A paróquia havia crescido muito e o numero de capelas também. Numa celebração pras banda do Novo Jordão, observou do confessionário uma fila de 100 pessoas de um lado e outras tantas para outro lado. Certo que não conseguiria fazer a confissão de todos foi à casa do zelador da capela, vestiu uma batina velha no sacristão Pedro Anjos, colocou boina, mandou para o outro confessionário e dividiu as filas. O sacristão estava orientado pelo padre para no caso de qualquer duvida ir aconselhar-se com Ele. Uma mulher confessou o roubo de quatro galinhas. O falso padre achou um pecado grave e procurou saber com o verdadeiro padre a penitencia a ser aplicada: Seis atos de contrição, nada a menos, disse padre Raimundo Monte. Cinco minutos depois, outra mulher confessa o roubo de duas galinhas. O padre Pedro Anjos, o falso padre, como bom fazedor de matemática lascou: volte pra casa, roube mais duas galinhas, depois reze seis atos de contrição!

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  3. Morais, eu estive dia desses,pras bandas da praça santo antão;e lá estão batizando motos, dizendo ser nossa irmã. Abraço fraterno Fatima Gibão.

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