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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Cangaço - XV - Ultimo.

A Morte de Lampião
Em julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situado no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão de mansinho que nem os cães pressentiram. Por volta das 5:15 do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o oficio e se prepararem para tomar café, foi quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais. Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, segundo a opinião de Virgulino, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.O ataque durou uns vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro, e as joias.A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepa a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando sua cabeça foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luís Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto, e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro.Feito isso, salgaram as cabeças e as colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal. Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto para servirem de alimento aos urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocado creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados por creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor.Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumadas cuidadosamente na escadaria da igreja, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografadas. Depois Maceió e depois, foram ao sul do Brasil.No IML de Maceió, as cabeças foram medidas, pesadas, examinadas, pois os criminalistas achavam que um homem bom não viraria um cangaceiro: este deveria ter características sui generis. Ao contrário do que pensavam alguns, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificados, pura e simplesmente, como normais.Do sul do País, apesar de se encontrarem em péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA da Bahia. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas.Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno aos seus parentes. O economista Sílvio Bulhões, em especial, filho de Corisco e Dadá, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de vez por todas, essa macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro do seu pai violaram a sepultura, exumaram o corpo e, em seguida, cortaram-lhe a cabeça e o braço esquerdo, colocando-os em exposição no Museu Nina Rodrigues.O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do projeto de lei no. 2867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois. Assim, a era CANGAÇO se encerrou, com a Morte de Virgulino.
Fonte - Blog do Crato

3 comentários:

  1. Já li bastante sobre Lampião. Não encontrei nada de serventia. Quem se deteve a ler essas poucas informações postada no Blog do Sanharol pode abservar a vida errante. E como tudo que é errante tem fim triste, não foi diferente com o Virgulino.

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  2. Meu Compadre Morais

    Na minha juventude ainda havia grande temor, o simples fato de falar em Lampião.

    Meu pai e seus companheiros de caçada, no inicio da década de 30 foram aprisionado por um bando de Lampião na Chapada do Araripe.

    Quer ver a história?

    Muito bem! era costume de papai, alguns amigos e parentes, todo Sábado a noite munidos de suas respectivas espingardas soca-soca, subirem a Chapada do Araripe para caçar. Lá passavam a noite, voltando somente no domingo ao cair da tarde. Eles moravam no Sopé da Serra em um sitio denominado Belmonte.

    Pois bem, na noite do sábado, já na mata fechada, um dos componentes do grupo pisou em um buraco coberto por galhos de folhas verdes. Ele se abaixou descobriu e viu muitas mantas de carne bovina escondidas sobre o folharal. Chamou a atenção de todos e quando viram aquilo, um do grupo que era padrasto do meu pai, disse: meninos vamos simbora, isso é coisa de cangaceiro.

    Fizeram jeito para correr, mas já era tarde, ouviram foi o estalar de cravinotes sendo engatilhados e um cangaceiro dizendo: fiquem parados, se correr morre todo mundo.

    Papai contava que ninguém teve coragem de mover uma unha. Ai um do bando falou: nós não vamos matar vocês se um for ao Crato comprar um saco de sal para salgarmos essa carne.

    Ai um cangaceiro olhou para o padrasto de papai e disse esse aqui é mais velho parece ser mais responsável e não vai dar com a língua nos dente. Ele vai comprar o sal e vocês ficam presos, se ele não vier, vocês morrem, se ele avisar os macacos que estamos aqui, vocês morrem.

    O Padrasto de Papai que a gente chamava de Tio Romão, desceu para a cidade do Crato para comprar o sal. Comprou e voltou. Mas ao chegar no sopé da Serra Foi falar com um dos grandes proprietários rurais e contou o ocorrido Ao Major Artur e pediu: não leve soldado agora pois vai morrer todo mundo, dê um tempo de eu chegar lá e voltar com os meninos.

    Assim foi feito. Na manhã do domingo, Ele então chegou junto ao bando com o sal e trataram de salgar toda a carne em seguida Tio Romão dizia; meninos vamos simbora e repetia, meninos vamos simbora. Ai um cangaceiro notou a pressa e disse: Qué isso veinho, ta com mede, você avisou os macacos? E ele tremendo ueem var verde dizia não sinhô, não sinhô. Ta bom, disse um cangaceiro, já demoramos de mais, vão embora e levem essas mantas de carne pra vocês.

    Todos saíram apressados e quando chegaram na estrada, montados em seus burros e cavalos, cada um corria mais e ao chegar na cabeça da ladeira encontraram com a força policial subindo. Ai o padrasto de papai disse: eu avisei o Major Artur e tava com medo de nós morrer tudim se demorasse mais ou chegasse antes da hora de nós sair.

    Passado o susto já na descida da ladeira, meu pai perguntou ao seu primo Miguel Gomes: Migué tu ta trazendo uma panela de feijão fervendo e ele respondeu: Sê besta, o medo destemperou minha barriga e eu não sei como to aqui nessa sela.

    E foi assim, paai dizia nunca mais foram caçar, mesmo depois que Lampião morreu.

    Vicente almeida

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  3. Meu caro Vicente.

    Muito boa a historia do seu pai. Posteriormente passarei para pagina principal do Blog.
    A. Morais

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