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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

106 - O Crato de Antigamente - Por Antônio Morais.


Dom Francisco de Assis Pires - Por Armando Rafael.

Foi o Cardeal Dom Sebastião Leme, à época, Arcebispo do Rio de Janeiro, quem atribuiu a Dom Francisco de Assis Pires – segundo Bispo de Crato – a designação de “A violeta do episcopado brasileiro”. Desde a Idade Média, a violeta simboliza fidelidade, castidade e humildade. Merecidamente, Dom Francisco ficou conhecido como “A violeta do episcopado brasileiro”.

Outros títulos foram-lhe atribuídos. Monsenhor Francisco Holanda Montenegro – no livro “Os quatro Luzeiros da Diocese” – refere-se a Dom Francisco como “O Bom Samaritano”. Já Monsenhor Raimundo Augusto – no opúsculo “Histórico da Diocese de Crato” – escreveu que o segundo bispo de Crato “era a caridade em pessoa. Desprendido dos bens terrenos, bondoso e manso, veio para servir aos seus diocesanos sem nada receber em troca”. Tudo em consonância com o lema episcopal escolhido por Dom Francisco: Não vim para ser servido, mas para servir. Monsenhor Raimundo Augusto justificou a sua opinião: “A longa e diuturna convivência com Dom Francisco, na prestação de serviços à Cúria Diocesana, autoriza-me a expressar-me assim. Vi de perto a riqueza de virtudes que ornavam sua alma Angélica, seu coração de ouro”.

Nascido no seio de uma rica família da capital baiana, Dom Francisco era, no dizer dos seus biógrafos, um verdadeiro aristocrata. Monsenhor Montenegro é taxativo: “Um rico que se fez pobre a serviço dos mais pobres”. É voz unânime que o segundo bispo de Crato tinha, realmente, predileção pelos mais pobres e mais sofredores. Por conta disso, possuía centenas de afilhados de batismo ou crisma. Dotado de uma delicadeza impressionante, tratava a todos – de qualquer condição social – com educação esmerada.
Entre os afilhados de Dom Francisco, um merece ser citado. No final dos anos 40 veio residir em Crato um casal francês, que sofrera as agruras da Segunda Guerra Mundial: Hubert Bloc Boris e sua esposa Janine. Hubert, em pouco tempo, tornou-se figura estimada na sociedade cratense, mercê seu temperamento extrovertido, facilidade de fazer amizades, além do destaque social adquirido por ser administrador do maior imóvel rural do Sul do Ceará – a Fazenda Serra Verde, localizada em Caririaçu – participar do Rotary Clube de Crato, dentre outros atributos de que era possuidor.Hubert era judeu de nascimento, o primeiro, talvez, a integrar o rebanho das ovelhas pastoreadas por Dom Francisco. Este, aproximou-se do casal francês e, depois de longas e demoradas conversas, conseguiu a aquiescência de Hubert para batizá-lo na Igreja Católica. Bom lembrar que Janine tinha procedência católica o que facilitou, certamente, a conversão ao catolicismo do saudoso e sempre lembrado “Cidadão Cratense” (título concedido pela Câmara de Vereadores), Hubert Bloc Boris.

Dentre as muitas realizações materiais de Dom Francisco destacamos três: a construção do primeiro hospital do Cariri – o São Francisco de Assis – onde havia lugar destinado à indigência, ou seja, aos doentes pobres; o Liceu de Artes e Ofício (hoje extinto) destinado à profissionalização da juventude masculina de baixa renda; o Patronato Padre Ibiapina, também extinto, (cujo prédio é ocupado hoje pela reitoria da Universidade Regional do Cariri) destinado à educação de moças pobres.
Numa edição especial do jornal “Folha da Semana”, comemorativa ao centenário da cidade de Crato, com data de 17 de outubro de 1953, foi inserido um artigo da lavra do Padre Neri Feitosa, com o título “A venerável figura de Dom Francisco Pires”. Dali retiramos os seguintes tópicos:
“(...) Ele é eminentemente “Homem de Deus”, com um porte que fala de modo impressionante à piedade. Êmulo e imitador do pobrezinho de Assis, seu onomástico. Dom Francisco de Assis Pires é uma figura muito venerável de asceta contemplativo e cheio de bondade cristã.

“É de ver como se perturba, como se angustia, como sofre o coração do Bispo de Crato, quando se declaram sintomas (dos fenômenos periódicos) da Seca. Indaga sobre o sofrimento do povo, sobre as possibilidades dos poderes (públicos), sobre os migrantes, sobre a produção nas diversas zonas da Diocese. Com a mão trêmula pelos anos e pela aflição, traça as feições abatidas de seus filhos diocesanos, em telegramas a quem possa prestar socorro.
“Aquela face carrancuda não expressa nada aquela bondade compassiva e providente que lhe enche o grande coração de Bom Pastor.
“Por estas e por outras razões, Crato guardará, nos arquivos da justiça e da melhor gratidão, a lembrança perene desta venerável figura que constitui Dom Francisco de Assis Pires”.

(*) Armando Lopes Rafael é historiado

10 comentários:

  1. Caro Armando.

    Quem leu e estudou a historia da Diocese do Crato tem conhecimento que o trabalho dos dois primeiros Bispos desta Diocese deixou uma base que facilitou muito aos seus sucessores. O Crato deve muito, ou quase tudo ao trabalho desses benfeitores. Agradeço o seu belo texto.

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  2. Morais,
    Toda a herança paterna que coube a Dom Francisco ele a investiu em obras em prol da diocese de Crato.Incorporou ao patrimônio diocesano o Ginásio do Crato (hoje colégio Diocesano, fundou e construiu o Patronato Padre Ibiapina (onde hoje é a Reitoria da URCA; criou e construiu o Liceu Diocesano de Artes e Ofícios (aquela prédio ao lado do Seminário São José) destinado a jovens e garotos pobres da periferia da cidade; construiu o Hospital São Francisco e o Palácio Episcopal.
    Mas os frutos maiores foram na ordem espiritual, com a dinamização da Ação Católica, Conferências Vicentinas, confrarias religiosas, criação de paróquias, dentre outras.

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  3. Armando,

    Gosto de reler sua história sobre D. Francisco, sobretudo porque nos entremeios me toca o fato de ele ser responsável pela conversão de meu pai.
    Não era muito comum acontecer esse tipo de ocorrência, mas o temperamento suave e educado de D. Francisco foi realmente o fator preponderante para que tudo acontecesse.

    Parabéns pelo texto bem escrito e hostoricamente rico e correto.

    Correto também é seu caráter e fidelidade aos fatos.

    Um abraço e tente postar esses seus textos no Cariricaturas. Nos sentiríamos honradas com sua presença por lá, que é um ambiente saudável, amigo pacífico.

    Claude

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  4. Claude,
    Obrigado por suas amenas e bem escritas palavras, certamente resultado de seus conhecimentos sobre a língua portuguesa o que lhe proporciona facilidade (e autoridade) para escrever.
    Quanto ao convite fica aceito.
    Aguarde para breve.
    Saúde e Paz.

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  5. Prezado Amigo Armando Rafael,

    É uma honra para nós, tê-lo no nosso quadro de membros do Blog do Crato, e sempre um grande prazer receber as suas postagens no nosso Blog, que também é um ambiente Saudável, Amigo e Pacífico, assim como o Blog do Sanharol tambem é.

    Abraços,

    Dihelson Mendonça
    BLOG DO CRATO

    www.blogdocrato.com
    www.blogdosanharol.blogspot.com

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  6. Claude, Armando e Dihelson.

    Agradeço as visistas e os comentarios. Eles são um complemento ao texto já recheado de informações importantes deste que foi um dos maiores benfeitores do Crato em todos os tempos Do, Francisco de Assis Pires.

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  7. Caríssimo Armando Rafael

    Quando o tema relatado bate o coração a resposta vem a galope.
    Pelos comentários que vejo nas duas postagens sobre D. Quintino e D. Francisco, percebo que pessoas de bem, cultas e experientes, têm sede de saber e de se atualizar com a história da nossa terra.

    E por isso mesmo, tomo a liberdade de lembrar ao amigo que o Liceu Diocesano de Artes e Ofícios, ainda existe no mesmo bairro Seminário, não precisamente no mesmo prédio, pois quando o prédio principal foi alugado ao Hospital Pediátrico, o Liceu se mudou para o local onde funcionava o Noviciado das Filhas de Santa Teresa de Jesus, ocupando a parte que fica na Rua Marcos Macedo até hoje.

    A finalidade principal que de fato, era a profissionalização da juventude masculina de baixa renda, com o passar do tempo foi alterada para creche e hoje atende a cerca de 500 crianças carentes, graças aos esforços do seu Presidente Antonio Teodósio Nunes (ex Pe. Teodósio) assessorado pela irmã Lúcia Pedro de Oliveira (irmã Lúcia).

    É muito gostoso a gente se debruçar na janela do passado quando alguém nos dá passagem. Sim, pois, quando alguém narra um fato, abre uma janela. Ai saltamos a janela e nos juntamos aos personagens ilustres, e de uma maneira invisível observamos seus feitos gloriosos. Quando retornamos trazemos uma marca indelével: a marca do conhecimento.

    É claro que esses dois Bispos no seu tempo, modificaram o futuro do Crato, administraram com amor e por amor. A singeleza de suas condutas nos remete a pensar como seriamos se agíssemos como eles: Esquecendo de si mesmo e pensando apenas no bem estar do próximo. Não há felicidade interior maior do que fazer o bem.

    Parabéns

    Qual será o próximo resgate histórico?

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  8. Meu caro Vicente.

    Parabens pelo belo comentario. A proxima será um surpreendente texto sobre Mons. Pedro Rocha de Oliveira.

    Aguarde até amanhã.
    Um Abraço.

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  9. Caro Vicente,
    Seu comentário me deixou muito feliz.
    1º - por saber que uma das obras de Dom Francisco ainda resiste a ação implácavel do tempo;
    2º - pelo estilo agradável da sua escrita, o que prova ser o Sr. um homem de cultura;
    Embora não o conheça pessoalmente, dá para perceber a boa pessoa que é, pois, como diz a Bíblia: "A boca fala do que o coração está cheio".
    Saúde e Paz

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  10. Vicente e Armando.

    Parabens. Como é bonito, salutar, e proveitoso assistir esse embate de conhecimentos de voces da parte mais importante da historia de nossa cidade.

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