Um homem que nasceu na penúltima década do Século XIX, meu avô Cícero Pinheiro, foi um cidadão de bem e de poucas letras. Estudos? Possuía o suficiente para ter direito ao voto; ser vereador do Crato; fazer sua contabilidade; administrar suas terras; gado e seus três engenhos de rapadura. No entanto, meus avós não se descuidaram da educação dos filhos. Como era comum, as mulheres, professoras. Dos três filhos homens, dois deles, enviados ao Rio de Janeiro, os dois, mais adiante, Generais de Divisão e comandantes do exército brasileiro. O terceiro filho foi enviado ao Seminário, mas, por falta de vocação, casou-se e foi cuidar do Engenho Romualdo, vivendo lá por muitos anos, como se fosse seu único proprietário, ou seja: explorava o engenho para o sustento de sua vasta prole.
Tinha meu avô o hábito e predileção de assistir todos os filmes que apareciam pelo Crato. Desde aquela época do cinema mudo, contava ele com a companhia assídua de uma das filhas, ainda criança, era a minha mãe, que por sua vez tornou-se cinéfila desde então.
Por isso em nossa casa pai, mãe, minhas irmãs e eu sempre apreciamos com muito gosto e amamos a Sétima Arte.
Houve uma época de quando crianças, impreterivelmente, todos os domingos assistíamos a missa na Igreja da Sé no horário das nove horas, e, em seguida nos dirigíamos ao Cine Moderno a fim de assistirmos à seção das dez horas da manhã. Pela religiosidade fervorosa de nossa mãe, não tinha conversa, primeiro a missa depois o lazer. Vestido novo? Somente vestir pela primeira vez para ir à missa. Ela sempre nos dizia: "Primeiro a devoção em segundo lugar vem a distração." Foi sempre assim, inclusive, na adolescência. Ordem é ordem e tinha que ser cumprida, portanto, não adiantava contestar.
Foi por volta de 1958 quando a missa terminou... Como sempre acontecia nos reuníamos no patamar da Igreja, uma vez que os homens na hora da missa ficavam do lado direito e as mulheres do lado esquerdo da Igreja. Após a missa meus irmãos gêmeos idênticos saíram rapidinho da Igreja e cada um se dependurou em cada um dos braços de um senhor e, animadamente, falavam: "-Vamos ao cinema, papai?!?" Foi quando minha mãe saiu da Igreja, distraída, observando os filhos ao redor daquele senhor, aproximou-se com certa intimidade. Ao perceber que era somente um homem muito parecido com meu pai, só lhe coube fazer um pedido de desculpa pelo engano cometido. Ficou tudo esclarecido e compreendido e nos dirigimos todos ao Cine Moderno. Meu pai sempre bem humorado às vezes relembrava esse episódio.
Glória, ótimo texto. Criança sempre apronta. Quando meus filhos eram pequenos fui buscá-los na escola, mas antes passei no salão de Baísa para dar um corte no cabelo. O cabelereiro, depois de fazer um ligeiro corte, fez um penteado deixando meus cabelos cacheados, antes era liso. Quando cheguei no colégio Carlos Eduardo o mais novo correu para me abraçar, mas creio, que me achando diferente parou e disse "mamãe, é tu"?
ResponderExcluirVocê está uma ótima contadora de histórias. Parabéns!
Abraços
Magali
Maria da Gloria.
ResponderExcluirHistoria bonita e interessante por que fala do convivio familia, de união e de um tempo que marcou a infancia de todos.
Quando eu tinha lá meis seis anos, eu tinha pavor de fogos, foguetão. O meu pai me levou para novena e eu encontrei um meio de diminuir o medo enrolando a mão na fralda da camisa do meu pai. Certa vez enrolei a mão com a camisa de um estranho e só fui notar que não era meu pai quando levei o maior carão. O susto foi maior do que com os foguetões de Chico de Carrinho.
A. Morais
Criança tem cada uma, não é Magali e Morais?
ResponderExcluirCerta ocasião meus tios viajando de Recife à Crato com a filha caçula, o ônibus deu uma paradinha na estrada. No menor descuido a prima desapareceu por alguns minutos. Ao reaparecer a mãe vendo-a surgir do nada, saindo do banheiro masculino foi logo dizendo: - Maria Ângela!! Esse banheiro é para homens!! Ao que ângela de imediato respondeu: - Ora, minha mãe, eu li DAMAS e CAVALHEIROS, como ainda não sou senhora, entrei no de Cavalheiros! Aí, Inês já era morta. Nada se podia fazer que não fosse rir da suposta esperteza daquela criança recém alfabetizada.
Glória
ResponderExcluirAo se referir ao estudo do seu avô, lembrei-me que nos anos 1860 até oa vinte primeiros anos do século XX, nossos avós não tinham muito estudo. Meu pai somente tinha o curso ginasial que era de cinco anos, equivalia ao curso cientíico e minha mãe também somente estudou até o 2° ano. Tanto meu pai quanto ela escreviam bem, tinha letra boa, estilo antigo. Papai tinha conhecimentos de física, química, gemoetria, etc,etc.
O pessoal estudava pouco e aprendia muito.
Gostei muito desta sua crônica.Parabéns!
Carlos Eduardo, você tem toda razão. Vovó Dedé, creio que nasceu no mesmo ano que seu pai,(1900) tinha pouco estudo e se casou aos 15 anos de idade, foi aluna da Profa. Vicência Gadelha que morava dentro da Igreja da Sé, sua casa ficava naquele pequeno corredor que dava acesso à Rua José Carvalho. Vovó até ensaiava um pouco de francês. Obrigada pelo comentário.
ResponderExcluirCara Glória,
ResponderExcluirComo sempre, leio e aprecio suas crônicas. Nem sempre as comento, a não ser para agregar alguma informação como o faço agora.
Permita-me, pois, uma pequena retificação ao seu último comentário: a mestra cratense, por você citada, era Vicência Garrido e não "Vicência Gadelha" como na pressa você constou, pois sei que você sabe o nome correto.
Segundo Lindemberg de Aquino, Vicência Garrido nasceu em Crato em 22.06.1863, tendo falecido na mesma cidade em 1963, faltando um mês para ser centenária. Filha ilegítima de Vituariana Felício, adotou o nome “Garrido” porque sua mãe vivia na casa de seus patrões: Rita e Benedito da Silva Garrido Nóbrega.
Vicência foi ama dos filhos do Dr.Garrido. Com a morte dos patrões e dispersamento da família Vicência residiu 3 anos na Batateira, na residência de Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes onde começou a lecionar. Aprendeu música com o professor Miguel Naú e foi cantora do Coro da Igreja de Nossa Senhora da Penha por muitas décadas.
Sua vida foi pautada de extrema pobreza e muita dedicação à infância tendo ensinado as primeiras letras a muitas gerações de cratenses, desde filhos de famílias ilustres até crianças pobres.
Nos últimos anos de vida foi amparada por Monsenhor Rubens Gondim Lóssio, Cura da Catedral, e viveu de pequena pensão municipal.
A Câmara Municipal denominou uma das ruas de Crato de Vicência Garrido.
Sempre que puder poste seus escritos. Eles são bem interessantes.
Saúde e Paz!
Glarita, sua historia é linda! e cheia de vida. Gosto muito do seu jeito Escritora de ser; continue nos prestigiando com seus textos bem escrito e humorado. Abraço carinhoso e fraterno. Fátima
ResponderExcluirMinha cara cronista, Glória.
ResponderExcluirO seu excelente conto, além de muito bom, ainda mostra como o ser humano é passivo de atropelos.
Todos podem cometer enganos.
Lá na minha bela V. Alegre, meus
conterrâneos passaram vários anos
adorando São Braz, pensando ser São Raimnudo.
Na sua simpática Crato, esse seu amigo virtual, uma vez apanhou um ônibus que se destinava ao Assaré,
pensando ser o de V. Alegre.
Abraço caririense.
Mundim.
Minha cara cronista, Glória.
ResponderExcluirO seu excelente conto, além de muito bom, ainda mostra como o ser humano é passivo de atropelos.
Todos podem cometer enganos.
Lá na minha bela V. Alegre, meus
conterrâneos passaram vários anos
adorando São Braz, pensando ser São Raimnudo.
Na sua simpática Crato, esse seu amigo virtual, uma vez apanhou um ônibus que se destinava ao Assaré,
pensando ser o de V. Alegre.
Abraço caririense.
Mundim.
Minha cara cronista, Glória.
ResponderExcluirO seu excelente conto, além de muito bom, ainda mostra como o ser humano é passivo de atropelos.
Todos podem cometer enganos.
Lá na minha bela V. Alegre, meus
conterrâneos passaram vários anos
adorando São Braz, pensando ser São Raimnudo.
Na sua simpática Crato, esse seu amigo virtual, uma vez apanhou um ônibus que se destinava ao Assaré,
pensando ser o de V. Alegre.
Abraço caririense.
Mundim.
Prezado Armando.
ResponderExcluirConsiga uma foto da professora Vicencia e poste esse seu comentario historico na pagina principal deste blog. Será motivo de muito orgulho para todos nós e para o Crato.
Abraços.
Obrigada aos queridos amigos Maria de Fátima, Raimundinho e Armando.
ResponderExcluirArmando, obrigada pela correção. Já havia percebido a falha, era sim Profa. Vicência Garrido. Creio que ela também alfebetizou minha mãe e irmãos. Por isso eu gostava de observar com carinho àquela velhinha quando passava em frente de sua casa. Em seu tempo foi a professora que antecedeu a também grande mestra Adalgisa Gomes.
Concordo com o amigo Morais, pela segunda vez, lhe peço, faça uma homenagem a professorinha Garrido. Algum tempo atrás falamos isso, lembra? Saúde e paz, meu amigo.