Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CORREDOR POLONÊS - Por Mundim do Vale

Certa vez um grupo de alcoólatras de Várzea Alegre resolveu formar um pelotão de guerra. Era coronel, major, capitão, tenente, sargento, cabos e soldados. Escolheram a rua do juazeiro para treinamentos, o fuzil era representado por pau de lenha e o cantil por meiota de cachaça. Na barraca de Bié eles fizeram acampamento, paiol e alojamento. O horário para treinamentos era sempre das duas da madrugada até o dia amanhecer.
O silêncio da madrugada era rompido pelos gritos de comando: Sentido! Em forma! Direita volver! Esquerda volver!Dispersar!
O grito de guerra era repetido várias vezes:
O sargento já tomou/ A cachaça do tonel,
O cabo Hélio furtou/ O quepe do coronel.”
Os moradores da rua do juazeiro fizeram queixa ao delegado, que era um tenente da polícia militar que depois de reformado foi nomeado delegado civil.
Chegando ao acampamento o tenente Josias apresentou-se e pediu ao comandante para colocar a tropa em forma, que ele queria fazer um comunicado.
Depois das formalidades militares o delegado falou: Bem. Eu tenho recebido várias reclamações sobre o barulho e os palavrões, portanto vocês terão que suspender os treinamentos. Mesmo porque eu não tomei nenhum conhecimento de que a nossa cidade estivesse ameaçada de guerra. Eu lamento dizer a vocês que se continuar esse treinamento, eu vou poupar apenas os oficias superiores em respeito a hierarquia, mas de sargento abaixo eu vou botar tudo no xadrez.
Nesse momento um soldado assustado saiu de forma e foi tentando fugir quando o coronel Gonçalves gritou: SD Chagas! Se você abandonar a tropa eu vou ter que lhe levar a corte marcial, como desertor de guerra.
Nessa hora chegou a diretora do grupo escolar, uma Senhora de cinqüenta e dois anos que foi logo dizendo: Tem que prender todos eles, não tem o menor fundamento essa anarquia todas as madrugadas. Não há mais quem possa dormir nessa rua. O coronel deu um passo a frente encarou a educadora e falou com voz autoritária - A Senhora deixe de conversar besteira aí, senão eu lhe boto no corredor polonês. Ái vai! E o que é que venha a ser esse tal de corredor polonês?
- É assim. eu coloco todos os meus praças em fila dupla e a Senhora vai ter que passar no meio. Aí cada um deles vai lhe dar uma dedada com todo respeito.
Depois dessa, a hierarquia militar deixou de ser respeitada e o alojamento do pelotão foi transferido para a cadeia pública.
Mundim do Vale.

4 comentários:

  1. É...

    Mundim

    Muito boa, isso aconteceu mesmo ou é mais um causo varzealegrense?

    Vicente Almeida

    ResponderExcluir
  2. O alojamento passou a ter sede na cadeia: mais um contraste. Né verdade primo.

    ResponderExcluir
  3. Meu caro poeta Vicente. esse fato
    aconteceu e muita gente ainda lembra, eu acho que ainda nem completou 45 anos.
    Nós podemos chamar de mais um causo
    da terra do Arroz, pela omissão de alguns dos personágens e pela penteada que dei. Mas que foi verdadeiro, isso foi.
    Abraço.
    mundim.

    ResponderExcluir
  4. Meu amigo Mundim você penteou muito bem o causo, ri ontem e hoje! Parabéns!

    ResponderExcluir