Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 22 de novembro de 2009

Irmã Edeltraut – por Armando Lopes Rafael


(Texto de apresentação do livro sobre Irmã Edeltraut Lerch que será lançado no próximo dia 5 de dezembro)


Neste 5 de dezembro de 2009, Irmã Edeltraut Lerch chega aos 80 anos de idade. Para perpetuar a sua trajetória – toda ela voltada em fazer o bem – o casal Tadeu e Luisiane Alencar mandou editar este livro que tem o mérito de se constituir na preservação do exemplo dessa admirável religiosa beneditina.

Falar em Madre Edeltraut Lerch é falar de uma pessoa cuja vida parece pertencer aos outros. Nos contatos que temos com ela – nos quais sempre aflora o seu sorriso fácil, todo ele em consonância com um semblante sereno, pleno de benquerença – ficamos com a impressão de que os problemas particulares de Irmã Edeltraut são sempre deixados de lado, já que todo o tempo dessa religiosa é dedicado a resolver os problemas alheios. Fica evidente que a felicidade dela tem como parâmetro a felicidade do seu próximo.

Permita-me retroagir um pouco na profícua vida de Irmã Edeltraut. Era o dia 5 de dezembro de 1929. Naquela data, o casal Gisela e Wenzel Lerch via nascer seu terceiro rebento: uma menina. Deram-lhe o nome de Edeltraut. Depois dela viriam mais quatro filhos. Eram tempos felizes. Modestos fazendeiros, os Lerch tinham sempre batata e pão farto à mesa. Mas os sofrimentos advindos com a Segunda Guerra Mundial atingiram profundamente a vida daquela família que perdeu tudo o que possuía.

Edeltraut não teve adolescência. Nem por isso se deixou vencer pelas dificuldades. Resoluta, certo dia entrou num trem de desabrigados e partiu para a cidade grande procurando resposta para os anseios de sua alma. Passou fome. Trabalhou como empregada doméstica. E aos 20 anos achou a resposta que procurava: sentiu o chamado de Deus para a vida religiosa.

O ano 1950 veio encontrá-la, em Frankfurt, como noviça na Ordem Beneditina. Ora et labora. Reza e trabalha. Nessa ordem. São Bento não disse: trabalha e reza. Ordenou: Reza e trabalha. A famosa Regra dos Beneditinos deixa claro o caminho para se chegar a Deus: Ora et labora. Primeiro a oração. Depois o trabalho pelo bem comum. Ocupar a mente e o corpo. Edeltraut Lerch seguiu à risca essa regra.

Já beneditina se fez enfermeira. A enfermagem é a ciência que cuida da saúde do ser humano prevenindo ou curando as doenças do corpo. Mais do que isso: a enfermeira é aquela que também orienta psicologicamente as pessoas. No caso de Irmã Edeltraut Lerch, acrescente-se a isso a orientação espiritual prestada por ela às pessoas que a procuram.

Cinco anos mais tarde, a Ordem enviou-a para um país diferente e distante: o Brasil. Mais precisamente para o Priorado de Olinda, em Pernambuco. Novo desafio. A freira alemã não dominava ainda o português. Mesmo assim passou a ensinar, às novas freiras, puericultura e higiene no curso de pedagogia. Sem falar que era a enfermeira na Casa Mãe. Ficou ali até 1969, quando lhe confiaram novo desafio: a diretoria de uma recém criada Fundação do Hospital Maternidade São Vicente de Paulo na longínqua e pequenina cidade de Barbalha, no extremo Sul do Ceará.

Estava escrito no destino de Irmã Edeltraut que Barbalha seria o palco de suas maiores lutas e desafios. Naquela cidade – emoldurada pelos verdes canaviais e pela chapada do Araripe – ela conseguiu modificar o meio na área da saúde. E o fez vivenciando um cristianismo autêntico. Entenda-se o adjetivo "autêntico" como "verdadeiro, aprovado, genuíno, resistente, não falsificado, confiável, digno, sincero". Foram lutas sofridas– quantas vezes incompreendidas– somente conhecidas pelo coração de Irmã Edeltraut. Todas colocadas na patena da renovação do sacrifício de Cristo Jesus.

Louvo a iniciativa de Tadeu e Luisiane em propagar a epopéia protagonizada por Irmã Edeltraut Lerch. Ela nos mostra a dignidade de que somos portadores pela filiação divina. E mostra de forma explícita, lembrando que todos nós fomos feitos para viver. Viver é o grito do coração humano. Viver é o grito de toda natureza. Nada é feito para a morte, tudo é feito para a vida.
E de vida poucos a entendem igual a Irmã Edeltraut Lerch...

Texto e postagem: Armando Lopes Rafael

5 comentários:

  1. Parabens Armando.

    Poucas pessoas se igualam a irmã Ideltraut, na sensibilidade de tratar os humanos. Poucos tambem são tão empreendedores quanto ela. Tudo que for oferecido em gratidão a irmã será pouco. Homenagem justa e merecida.
    Obrigado pela postagem.

    ResponderExcluir
  2. Tadeu e Luisiane Alencar estão se revelando grandes cristãos. Parabens por disseminarem o bem e promoverem que o pratica. A irmâ Ideltraut merece muito, muito mais.

    ResponderExcluir
  3. Obrigada Armando por nos trazer esse texto e nos fazer conhecer a Irmã Edeltraut.

    ResponderExcluir
  4. É...

    Armando Rafael

    Alguns milhares de pessoas em nossa Região, lembrarão com ternura, a Freira que veio de longe com o coração voltado para o amor ao próximo.

    Irmã Edeltraut marcou a sua passagem nos corações nordestinos.

    Não a conheço pessoalmente, entretanto, conheço-a profundamente, pelo trabalho desenvolvido na área de saude com total apoio ao necessitados.

    Você falou do lançameneto do livro, onde será?

    ResponderExcluir
  5. Caríssimos Morais, Glória e Almeida:

    Seus comentários significam uma adesão às homenagens que serão prestadas a Irmã Edeltraut Lerch.
    Os empresários Tadeu Alencar e Luisiane Monteiro Alencar foram de uma felicidade a toda prova, ao resgatarem, em livro, a epopéia dessa freira akenã que fez de Barbalha um centro de referência na área de saúde.

    (A propósito, Glória, Luisiane deve ser sua parente, porquanto ela é filha da professora Lourdinha Monteiro, esta irmã de Quinco Monteiro e daquela freira da Congregação do Silêncio ( que era dirigida por dona Chiquinha Piancó), cujo nome me foge agora).
    Obrigado pelos comentários.

    ResponderExcluir