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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

DANADO DE BOM - Por Mundim do Vale

O coronel Juca Furtado, inimigo mortal de Lampião, era proprietário da fazenda Sossego, no município da Lardânia. No mês de São João ele convidou vizinhos e amigos para uma quadrilha. Entre os convidados estavam o cambista de Matorzinho Tomaz Pinto e uma buchinha da capital chamada Chiquita bacana. Acenderam a fogueira, decoraram o barracão e dançaram forró, enquanto chegava a hora. Por volta das nove horas da noite, foram começando a quadrilha, quando chegou lampião com o seu bando todo armado. A surpresa e o medo fizeram com que aquela gente ficasse toda passiva. Lampião por sua vez tomou conta da situação e falou:
- Quem vai marcar a quadrilha sou eu. Cavalheiros de um lado e damas do outro.
Chiquita Bacana perguntou:
- Capitão e eu fico de que lado?
- Do lado de fora! Minha quadrilha é pra homem e mulher, não é pra fresco não.
- Cavalheiros cumprimentam as damas. – Damas cumprimentam os cavalheiros. – Grande roda. – Lá vem a chuva. – Todo mundo nu. - Um dedo na boca e outro na bunda. - Trocar de dedos. – Coluna por um. – Olha o trem. – Aperta o trem. – Damas deitadas. – Cavalheiros em pé. – Cavalheiros fazer apoio de frente. – Passeio.
Quando a neta do coronel passava pelada com um comprador de algodão, Virgulino arrastou, abraçou e disse:
- Você é minha!
O par da moça falou:
- Mas capitão essa é a minha dama.
- Era. Agora é minha. Vá buscar Chiquita Bacana pra você.
Nessa hora o coronel Juca que estava na mira de dois rifles gritou:
- Mas tá danado!
Lampião apontou um terceiro rifle e perguntou:
- Danado de que coronel?
- Danado de bom.
Depois de todo esse constrangimento, o bando saiu batendo no povo e levando cuecas e calcinhas nos fuzis, como se fossem bandeirinhas. Um cangaceiro poeta ainda improvisou esse verso de despedida, para desmoralizar mais ainda o coronel Juca.

“ Lampião marcou quadrilha
Na fazenda do Sossego,
Coronel Juca cagou-se
Depois foi pedir arrego.
Quando a dança terminou,
Virgulino amancebou
Uma branca com um nego.”

Quando lampião já estava no cavalo, Tomaz Pinto Gritou:
- Capitão quando é qui o sinhor vai maicar uma quadrilha dessa lá im Matorzinho?
Mundim do Vale

Um comentário:

  1. Mundim

    O Cel Pedro Xavier, de Ipueiras, hoje Serrita, mandou um recado para Lampião: Não venha a Ipueiras, do contrario será recebidoa bala.

    Lampião devolveu um dilhete: Sempre que passei em Ipueira respeitei voce e sua gente. Agora com esse seu recado desaforado se prepare que vai ter choro.

    O cel Pedro Xavier se preparou, deixou permanente 100 homens armados de rifle e um dia Lampião invadiu a Vila e quando deu conta já estavam estirados no chão cinco de seus melhores cabras, entre eles Tempero. Lampião bateu em arribada e o Cel escolheu 30 cabras de confiança e ainda deu uma voltas a procura do bandido, que nunca mais voltou a região.

    Parabens pela postagem.

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