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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

COMPOSITORES DO BRASIL



Por Zé Nilton

Cleivan Paiva é de Simões, no Piauí.

Veio para o Crato na década de setenta. Aqui encontrou um movimento efervescente liderado por muitos artistas, e logo encontrou um jovem rebeldista de talento e armado até os dentes com muitas poesias, músicas e propostas, o excelente e hoje premiadíssimo cineasta Rosenberg Cariri. E com ele iniciou uma sequencia de prestigiadas parcerias.

Cleivan foi um dos primeiros violonistas e principalmente guitarrista do maravilhoso conjunto Ases do Ritmo, que fez a alegria da danceteria dos anos setenta nos bailes e tertúlias da região.

Sem dúvida, houve na região, no final da década de sessenta e em toda década de setenta, verdadeiras escolas musicais, formadoras de uma variedade de músicos que estão aí até hoje palmilhando os caminhos da arte, infelizmente nem sempre devidamente reconhecidos, mas orientam e produzem os novos talentos no registro de suas composições. Cito alguns: Edilberto, Lifanco, Hugo Linard, Jayro Stark, Libério, Divane Cabral, Cleivan Paiva, Maestro Felipe, Rosenberg Cariri, Batista...

Guardo comigo uma passagem hilária quando do segundo Festival da Canção em Crato, já que o primeiro fora em Juazeiro do Norte, em dezembro de 1968, quando um concorrente precisou acompanhá-lo em seu bolerão nostálgico.

- Vai Cleivan, vai Zé Nilton, pediu a apresentadora do Festival, Fátima Barreto, aos únicos instrumentistas imediatamente à disposição da comissão organizadora.

Cleivan disse: não vou!

Sobrou pra mim. Lembro-me que acompanhei ao violão, vaiado pela platéia, o desafinado concorrente no seu bolero fora de moda. Alguns compositores presentes acharam que a música seria de minha autoria. Havia como sempre houve uma rivalidadezinha das turmas, sendo que a turma da Quadra era a mais afoita.

Cleivan seguiu mundo a fora mostrando sua arte musical, e chegou a se apresentar em casas noturnas na capital paulista. Como disse o músico e cineasta Firmino Holanda, também atuou em festivais: na Tupi classificou “Perímetro Urbano” (Nota: Na ocasião defendida por Marku Ribas, incluída [no disco “Guerra e Paz”] nele rende tributo a Victor Assis Brasil, tocando-a com arranjo do genial saxofonista). Antes disso, participou do Festival Universitário de SãoPaulo, com trabalhos em parceria com Rosenberg Cariry e Ivan Alencar.

O nosso ilustre compositor procurou nas frestas da MPB, no sul maravilha, exercitar sua arte em movimentos vanguardistas formando com músicos de origem de todas as tendências do século XX o conjunto “Ave de Arribação”. Foi para o meio do povo, para as feiras e periferias da paulicéia desgraçada, mostrar o que infelizmente o povão nem sempre capta, por estar com os ouvidos impregnados de sons que todas as mídias lhe incutem como valor imediato.

Cleivan acompanhou grandes músicos como Djavan e outros, em shows e gravações. É o compositor das trilhas sonoras dos filmes do cineasta caririense Rosenberg Cariry. É referência no cenário musical do Ceará e do Brasil.

Preferiu ficar no Crato, ao lado da sua família, dispensando a sua gravadora para os músicos de várias tendências, sem preconceitos, mas sempre atento em mostrar caminhos que primem pela elevação da música de qualidade.

Nesta perspectiva, termino este texto citando a poeta Socorro Moreira declarando seu respeito e reconhecimento ao grande compositor brasileiro:

“Até um dias desses, Cleivan era meu vizinho.
Cruzávamos no dia a dia, nas calçadas e na bodega da esquina.
Conheço e admiro o seu trabalho desde nem sei quando.
Quando mudou de endereço, a rua sentiu faltas daquele violão no batente,
Quando a noite fazia silêncio
Sem dúvidas, um dos mais talentosos violonistas brasileiros!
E pensar que ele é nosso, mora no Crato...
Merece ser prestigiado e homenageado com todo o nosso entusiasmo.”

Nessa quinta-feira, no programa Compositores do Brasil, na Rádio Educadora do Cariri, Cleivan vai falar e tocar ao vivo a sua arte, merecedora de todos os aplausos pelo que representa para a identidade da música popular brasileira.

Quem ouvir, verá !

Programa Compositores do Brasil
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Todas às quintas-feiras, às 14 horas
Rádio Educadora do Cariri – 1020 khz
Apoio. CCBN
Porf. Zenilton

3 comentários:

  1. Prezado professor Zeniltom.

    Sua postagem é justa, merecida e oportuna. Voce fala dos Ases do Ritimo. Que tempo para dar saudade. Que tempo bom. Como o Crato era diferente. Manso, cordato e irmanado. Parabens amigp.

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  2. É isso aí Morais.
    Concordo com você. Além disso, quero, com o programa, mostrar o talento do compositor brasileiro, principalmento à juventudde de hoje, que vive a ditadura da porcaria musical. É preciso se tomar a música, a arte musical, como algo educativo, formativo. No entanto não assim hoje em dia, principalmente no nosso estado.
    É uma pena.
    Abraços

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  3. Prezado prof. Zé Nilton, tive o prazer de ser colega de sala, no Estadual, do Cleivan, nos idos de 69/70, quando o mesmo chegou ao Crato. Sentávamos vizinhos e logo nos tornamos amigos, além de colegas.
    Depois de muitos anos tive a grata satisfação de encontrá-lo nas ruas da capital paulista.
    Depois do seu retorno e do meu ao Crato, me tornei seu aluno de violão.
    Devo dizer que nesta época, ele morando na casa da sua mãe, dava aula para muitas pessoas, totalmente gratuito.
    Quando a gente falava em pagar, ele ia protelando e terminava sem cobrar nada. Depois é que a gente começou a entender que aquilo era uma maneira dele também se exercitar.
    Entre o músico e a pessoa humana que é Cleivan Paiva, fica difícil fazer um julgamento. Se é um grande músico/Compositor/cantor é, acima de tudo, uma extraordinária pessoa.

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