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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

MANÉ GINIPAPO - Por Mundim do Vale

Manoel Sapateiro e sua esposa Maria, chegaram em Várzea Alegre no ano de 1.966. Alugaram um prédio na rua Major Joaquim Alves e se estabeleceram no ramo de calçados. A princípio era só consertos, depois o negócio foi crescendo ele comprou máquinas, contratou empregados e transformou a oficina também em loja.
Montou um quadro de doze funcionários, um contínuo e ainda duas secretárias uma pra ele e outra pra Maria. Chegou a fazer promoções arrojadas. Quem comprasse um sapato Bamba levava grátis uma chinela japonesa, quem comprasse um cinto ganhava de brinde um fanabu. Chegou até a patrocinar filme no cine Odeon para os clientes. Na festa de São Raimundo alugou o carrossel de Zé Júlio por uma noite para rodar de graça com os filhos dos fregueses.
Certo dia um vendedor de pianos da Mesbla chegou com um mostruário ele sem nem olhar para os preços disse: - Eu vou ficar com dois um pra mim e outro pra Maria.
Mundim da Varjota dizia: - Eita qui Mané Sapateiro tá mais mió do qui papai Noé! Tombém, um jumento cum uma carga de açúcar, até o rabo é doce. Com essas tolices o negócio caiu mais do que prestígio de deputado cassado. Manoel caiu nas mãos de agiotas e foi aí que a firma desandou mais ainda.
O livro dos fiados era mais grosso do que Seu Lunga, mas ninguém pagava. O cartório já estava cheio de títulos protestados. Foi falência Total. Os credores acompanhados de oficiais de justiça recolheram o estoque, as máquinas e os móveis deixando apenas as prateleiras vazias.
Aluguel vencido, e cobradores na porta foi essa a situação que ficou Manoel e Maria. João Coco Seco dizia: - Vôte! isso é putaria. Num deixaro matériá nem pra Mané botar meia sola num sapato.
Quando foi um dia os dois anoiteceram e não amanheceram. Os funcionários além de desempregados ainda ficaram sem receber os direitos trabalhista. Estavam todos revoltados comentando o assunto numa sombra de uma marquise, quando Seu Tõe de Cota disse: - Mané Sapateiro foi bancar o rico e quem tomou no caneco foi nós. Chagas Taveira que escutava o conversa falou:
- Arre égua! Seu Mané Sapateiro fez qui nem ginipapo. Caiu e derrubou os ôto.
Mundim do Vale.

Um comentário:

  1. Mundim.

    Seu Toe de Cota, falou a experiencia antiga. Bancou o rico e quem pagou o pato fomos nós!

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