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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 15 de junho de 2022

Ramiro, o belo - Por Xico Bizerra



Ramiro era muito feio e todos os bonitões da cidade riam de sua feiúra. Descaradamente. Até os que também eram feios riam de sua feiúra, tão feia que era. 

Ele não se importava e seguia a vida, carregando bagagens na estação de trem, trabalhando como chapeado: era assim que se chamavam aqueles que transportavam malas, identificados por um número na chapa de bronze colada ao quepe: o seu era o 341.

Um dia Ramiro ganhou de um viajante um espelho encantado que refletia a alma das pessoas que nele se olhassem. 

Ramiro olhou, viu-se e passou a rir da feiúra de todos os bonitões da cidade. Discretamente, sem que ninguém percebesse que estava rindo. 

Como era feio aquele povo! Como era belo o Ramiro!

3 comentários:

  1. Prezado Xico Bizerra.

    Hoje voce faz um resgate merecido. Ramiro foi muito conhecido pela irreverencia e pela feiura tambem. Cheguei a conhecer no Seminario do Crato onde terminou seu tempo prestando os seus serviços. Era muito espirituoso e são muitas as suas estorias.

    Boa cronica.
    Parabens

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  2. Xico não só compõe como escreve bem.
    Lembro-me perfeitamente Ramiro passando pela calçada da Praça da Sé, vindo do cemitério em direção ao Semináio São José.
    As calças arregaçadas, como se fosse pescar, magro, passos largos e lentos os cambitos bem finos e um pouco feio. Eu pensava, será uma alma penada? rs rs

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  3. Maria da Gloria.

    O Xico Bizerra está nos presenteando com uma bela cronica semanalmente. Dificil saber a melhor e mais autentica. Xico é genio.

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