Ramiro era muito feio e todos os bonitões da cidade riam de sua feiúra. Descaradamente. Até os que também eram feios riam de sua feiúra, tão feia que era.
Ele não se importava e seguia a vida, carregando bagagens na estação de trem, trabalhando como chapeado: era assim que se chamavam aqueles que transportavam malas, identificados por um número na chapa de bronze colada ao quepe: o seu era o 341.
Um dia Ramiro ganhou de um viajante um espelho encantado que refletia a alma das pessoas que nele se olhassem.
Ramiro olhou, viu-se e passou a rir da feiúra de todos os bonitões da cidade. Discretamente, sem que ninguém percebesse que estava rindo.
Como era feio aquele povo! Como era belo o Ramiro!
Prezado Xico Bizerra.
ResponderExcluirHoje voce faz um resgate merecido. Ramiro foi muito conhecido pela irreverencia e pela feiura tambem. Cheguei a conhecer no Seminario do Crato onde terminou seu tempo prestando os seus serviços. Era muito espirituoso e são muitas as suas estorias.
Boa cronica.
Parabens
Xico não só compõe como escreve bem.
ResponderExcluirLembro-me perfeitamente Ramiro passando pela calçada da Praça da Sé, vindo do cemitério em direção ao Semináio São José.
As calças arregaçadas, como se fosse pescar, magro, passos largos e lentos os cambitos bem finos e um pouco feio. Eu pensava, será uma alma penada? rs rs
Maria da Gloria.
ResponderExcluirO Xico Bizerra está nos presenteando com uma bela cronica semanalmente. Dificil saber a melhor e mais autentica. Xico é genio.