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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A Cuscuzeira - Por Giovani Costa

Depois de contar muitas proezas dos outros, resolvi contar-lhes esta que aconteceu comigo há algum tempo atrás. Estava havendo um surto de roubo de galinha no nosso Sanharol e vizinhança: Chico, Serrote, Inharé, Canto etc. Lá em casa desde os anos 60 nunca faltou uma espingarda de cartucho que os meus irmãos usavam para caçar. Só que teve uma noite que eu resolvi me prevenir se o ladrão viesse. Dar-lhe um susto grande. Tinha uma espingarda Rossi, calibre 28, com uns cartuchos cheios, próprios para matar veado. Quando foi uma certa noite eu fui dormir na cozinha, a espingarda debaixo da rede com o bornal e os cartuchos que Manoel Leandro havia preparado. Botei uma cadeira encostada na porta, pois da brecha de cima dava prá ver o puleiro. Uma certa hora, meia noite talvez, eu acordei ouvindo aquele grito de galinha sendo presa.
Quielllllll
Eu pensei é ele: subi na cadeira e avistei debaixo do puleiro um vulto redondo que não dava para distinguir direito, pois estava muito escuro. Não tive dúvida: engatilhei e atirei: um tiro igual o do Capitão da música Samarica parteira. Acho que até da Tarrafas deu prá escutar. Quando olhei pela brecha da porta, veio o pior: o vulto havia sumido. Aí eu gelei, subiu uma resfrialidade, como diz Luiza de Abrão, do pé até a cabeça. Apavorei-me. Minha mãe querendo saber o que tinha acontecido e eu sem puder explicar porque estava sem fala. Agora era um criminoso. Passei o resto da noite sentado, sem dormir, planejando uma fuga. Oh, noite comprida, só vim respirar direito e sentir um alívio, quando o dia clareou, e, eu tive coragem de olhar de novo e vi que não tinha nem um corpo estirado no terreiro. Também não era possível ter escapado com um tiro espritado daqueles. Mas alegria mesmo foi quando minha mãe levantou-se inspirada cantando: se dirigiu para a porta, como de praxe, passou a mão na tramela, e quando correu o olho no terreiro, alarmou:
Eu só queria saber quem foi o diabo que quebrou minha "cuzcuzeira" que eu tinha botado ali naquela cabeça da estaca.

2 comentários:

  1. Prezado Giovani.

    Muito boa a historia da cuscuzeira. E no outro dia como foi o almoço? Sem cuscus! Oh tiro certeiro.

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  2. Certeiro ficou prá mais de 1500 cacos miúdos espalhados pelo terreiro. E o jeito foi encomendae outra cuzcuzeira 'a Emília de Chiquinho da Unha d eGato

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