Padre Antonio Gomes de Araujo - Por Mônica Aquino.
Voltemos ao Padre, seu outro lado, seu silêncio martirizado no quarto de estudos, onde dormir é privilégio. Aí doma seus fantasmas, suas letras. Não tem com quem conversar, aprofundar argumentos, buscar o verme que contamina o miolo de seu fruto, o fruto vermelho da História. Busca nos alfarrábios, cruza garatujas de batistérios. E sempre Nascimento e Morte de permeio, desmontados em árvores desenhadas em páginas coladas, para chegar ao mais idiota descendente de um coronel qualquer da Guarda Nacional.
Voltemos ao Padre, seu outro lado, seu silêncio martirizado no quarto de estudos, onde dormir é privilégio. Aí doma seus fantasmas, suas letras. Não tem com quem conversar, aprofundar argumentos, buscar o verme que contamina o miolo de seu fruto, o fruto vermelho da História. Busca nos alfarrábios, cruza garatujas de batistérios. E sempre Nascimento e Morte de permeio, desmontados em árvores desenhadas em páginas coladas, para chegar ao mais idiota descendente de um coronel qualquer da Guarda Nacional.
O Álbvm do Seminário do Crato, de 1925– álbvm com ‘v’, para imitar o latim da Santa Igreja – registra o aluno na página 202; o clérigo, na 207. A fotografia da página 189, carcomida pela traça, revela: batina, barrete, mas sem a capa romana que o acompanharia durante tantos anos, tremulante e negra sob o sol dos Cariris. Pois assim reza o artigo 12 do capítulo III do Regulamento do Seminário Maior: “Uma modéstia sem afetação e um porte digno ressaltem do seu todo, mormente nos actos religiosos e quando estiverem recebendo instrucção” (sic).
É necessário lupa para recompor feições e formas. Segundo da segunda fila, da direita para a esquerda. A cabeça encoberta inclinada à direita; deixa-se ver o relógio de algibeira, quem sabe um Patek Philippe. O rosto é magro; o nariz, aquilino, mouro; as orelhas não se deixam passar despercebidas. Não mira a objetiva do fotógrafo. É uma visão para o largo, um ar que o distingue da bonomia do grupo. Tem um ar triste, inquieto. Um homem sozinho atravessa a cidade: batina negra, capa romana, faixa à cintura. Segue o trajeto que vai da igreja da Sé ao Ginásio. Quantas vezes terá feito esse percurso? Saúda Tandô, sentado no meio-fio da praça.“Em que pensa esse padre, com jeito de homem”, se pergunta o anão? Aqui tudo é vigiado. A cada janela há um olho à espreita.
O padre caminha sem prestar atenção a quem passa, nem atentar para quem se furta por detrás das gelosias. Anda rápido para dar tempo à chamada do refeitório e, logo depois, recomeçar reflexões e leituras. Abrirá a porta de vidro da estante de cedro com a chave escondida dentro do sapato, enrolada na meia. Lembrança do regulamento, de quando era regente:“Só poderão fazer leituras extra-programma mediante prévia autorização do Padre Prefeito” (sic). Passa o Padre Gomes e Tandô, o anão, se pergunta:“Em que diabo está pensando esse homem?”Somente hoje é possível compreender o porquê daqueles passos apressados, daquela inquietação permanente, de sua genialidade e equívocos.
A fotografia: não é mais necessário lupa para recompor as feições. Não mira a objetiva do fotógrafo. É uma visão para o largo, um ar que o distingue do resto. Tem um ar triste, inquieto. Pensa num mundo mais largo, sem cadeias, distante do jugo das genealogias, longe de um sol que é o mesmo sol de todos os dias, segundo Machado de Assis, onde nada existe que seja novo, onde tudo cansa, tudo exaure...Até aqui a poesia de Everardo Norões
O padre caminha sem prestar atenção a quem passa, nem atentar para quem se furta por detrás das gelosias. Anda rápido para dar tempo à chamada do refeitório e, logo depois, recomeçar reflexões e leituras. Abrirá a porta de vidro da estante de cedro com a chave escondida dentro do sapato, enrolada na meia. Lembrança do regulamento, de quando era regente:“Só poderão fazer leituras extra-programma mediante prévia autorização do Padre Prefeito” (sic). Passa o Padre Gomes e Tandô, o anão, se pergunta:“Em que diabo está pensando esse homem?”Somente hoje é possível compreender o porquê daqueles passos apressados, daquela inquietação permanente, de sua genialidade e equívocos.
A fotografia: não é mais necessário lupa para recompor as feições. Não mira a objetiva do fotógrafo. É uma visão para o largo, um ar que o distingue do resto. Tem um ar triste, inquieto. Pensa num mundo mais largo, sem cadeias, distante do jugo das genealogias, longe de um sol que é o mesmo sol de todos os dias, segundo Machado de Assis, onde nada existe que seja novo, onde tudo cansa, tudo exaure...Até aqui a poesia de Everardo Norões
Postado por Mônica Aquino - Texto Everardo Norões.
Prezada Mônica Aquino.
ResponderExcluirEstou postando na pagina principal do Blog do Sanharol parte do seu comentario a postagem do grande historiador Armando Rafael sobre Padre Gomes em 26.06.2010.
Sou um admirador do padre Gomes e, nunca li algo tão puro, tão bonito, tão igual como esse relato postado por voce. Parabens e muito obrigado por sua enorme contribuição para com o nosso Blog do Sanharol. Deus lhe abençoe e lhe faça muito feliz.
Antonio Morais
Fui aluno, admirador e amigo do Padre Gomes. Escrevi este texto, que intitulei Um certo Padre Gomes. E fico feliz que ele tenha sido publicado também no seu blog. No entanto, sugiro que conste o nome do autor. Você pode publicá-lo da forma como editei no meu blog (veja abaixo) e como está sendo editado em outras revistas, como a Calibãn. Tentei com o meu texto reavivar a memória de um dos homens mais interessantes e um dos intelectuais mais brilhantes de nosso Cariri.
ResponderExcluirGrato e um abraço,
Everardo Norões
Prezado Everardo.
ResponderExcluirInicialmente meus parabens pelo belo texto e por ter sido aluno e amigo do Padre Gomes. Voce conseguiu reavivar a memoria ilustrando o grande bemfeitor de nossa Diocese.
No comentario postado dia 26.06.2010 a Monica Aquino coloca a autoria de Everardo Norões, na postagem de hoje eu citei ao final do texto. Parabens mais uma vez. Salve padre Gomes.
Olá,
ResponderExcluirpesquisando sobre os antepassados da família do meu pai, originária de Águas belas, PE, encontrei o nome do Padre Antônio Gomes de Araújo, neto de Basílio Gomes da Silva que no século 19, junto com seus pais e irmãos, saíram de Pernambuco para o Ceará.
Ficaria muito grata se alguém pudesse me acrescentar informações sobre a história do padre e de sua família. Como também onde poderia encontrar seu(s) livros.
Atenciosamente,
Márcia Ramos
Márcia: as obras publicadas por Pe. Gomes (décadas 1950/1960) estão esgotadas. Procure na Internet as edições da revista Itaytera,órgão oficial do Instituto Cultural do Cariri (números 1 até mais ou menos número 17) que você encontrará trabalhos do Pe.Gomes.
ExcluirO avô dele, Cel. Basílio, foi chefe político em Brejo Santo, por sinal uma pessoa sensata e de credibilidade, e você encontrará referências a ele em alguns autores da história de Brejo Santo, a exemplo de Joaryvar Macedo, autor do livro "Império do Bacanarte".
ResponderExcluirMárcia Ramos o Padre José Alves de Lima foi vigário da paróquia de São Raimundo em Várzea-Alegre de 1918 a 1923 = Padre Jose Alves de Lima era um padre da confiança da Diocese de Crato e dos seus bispos..
Foi meu professor no diocesano do Crato de história pense numa pessoa intergra e honrado e bom
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