Se eu tivesse congelado
Várzea Alegre antigamente,
Eu voltava no passado
Com a minha boa gente.
Juntava a rapaziada,
Cada um com a namorada
Na rua do Juazeiro.
Afinava um violão,
Cantava a melhor canção
De um poeta violeiro.
Comia um bolo ligado
No café de João maduro,
Que não vendia fiado
Porque não tinha futuro.
Depois eu ia na praça,
Só para flertar com Graça.
Que nunca me deixou quieto.
Comprava lá na esquina,
Dois mil réis de brilhantina
A José Felipe Neto.
Se eu ficasse apertado
Não fazia nem lundu,
Corria muito apressado
Pro beco de Zé Ginu.
Lá do beco a gente ouvia,
Quando o locutor dizia
A mensagem de rotina:
- Com carinho a letra G,
Oferece para a B
O xote Cintura Fina.
Ia lá pra Zé Bitu
Com Dedé e Nicolau,
Para pegar um bigu
No misto de Lourival.
Varri o Cine Odeon,
Depois vendia bombom
Ganhando uma comissão,
Vigiado por Tonheiro,
Porque, dinheiro é dinheiro
Desdobra qualquer cristão.
Comprava o milho cozido
Que Chico neném vendia
E o sabugo roído
Rebolava na bacia.
Rezava pra Deus do céu,
Acreditava em Noel
E desprezava o racismo.
Vivia com aquela gente,
Como criança inocente
Sem conhecer o machismo.
Fazia uma serenata
Com Nilton, Caubí e Tércio,
Caçava nambu na mata
Com Manoel de Natércio.
Comia mel com farinha,
Dizia: - Oba Costinha!
E o maluco respondia.
Juntava a turma legal,
Domingo de carnaval
E caía na folia.
Contava com a ajuda
De Cicim de Zé Bile,
Só para roubar o Judá
De Carlito Cassundé.
Eu comprava a Valdelíz,
As flores pra Diassís
Sem ter no bolso um vintém.
Também via no bilhar,
Luís Inácio jogar
Sem perder para ninguém.
Mas tudo foi só saudade
Não deu para congelar,
Porém a minha vontade
Era do tempo voltar.
Mesmo sem congelamento,
Vou guardar no pensamento
Até o final da vida.
É como viver de novo,
Junto com aquele povo
Na minha terra querida.
Raimundim Piau.
"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".
Dom Helder Câmara
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Prezado Mundim.
ResponderExcluirÉ por esta razão que não consigo seguir o conselho de Fernando Pessoa no texto e postagem anterior. Mundim, desta vez voce arrasou, não esqueceu nada. Muito bonito o poema, a historia e o resgate.
Abraços.
Adorei a poesia, Mundin. Muitas figuras marcantes de nossa cidade foram resgatadas...
ResponderExcluirAbraçosss
Tempo bom, tempo em que nós éramos felizes e não sabíamos. Mundin do vale, Mundin do Riacho do Machado, Mundin da Várzea-Alegre, Mundim do cardume dos Piaus. Você tem demonstrado ao longo do tempo amor a sua terra natal, dando testemunho e apreço pela cultura, educação e sempre valorizando pessoas que marcaram e continuam servindo de exemplos ao povo bom de nosso torrão amado.
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