Coronel Antonio Correia Lima.
Fazia pouco mais de um mês, tinha chegado a Varzea-Alegre, vindo de Mauriti, onde fizera umas estripulias, um morenão parrudo, solteiro, de seus 30 anos, mãos calejadas, fisionomia serena e poucas conversas. Ofrasio foi pedir moradia a Padrim Tonio. O Coronel, na sua calma, olhou-o com um olho fechado e, sabedor dos seus antecedentes, deu-lhe uma casa, no Graviel, recomendando, no entanto, não beber, não provocar arruaças, evitar problemas. O morenão olhou para o meu avô e, candidamente, disse: seu Coroné, eu num sou home de briga, nem quicé eu tenho. Agora, se eu tiver com um porrete de jucá, com uma correia ensebada, preso no punho, num tem home que diga que eu sou feio. Meu avô riu e pensou que tudo era farofia. Pois, sim!
Nem lhe conto: foi numa feira de Agosto, dessas mais movimentadas, que se deu o causo. Ofrasio foi pra feira comprar seus biscates e vender umas esteiras de melão-caetano que fizera. Estava sentadinho, no seu cantinho, direitinho, serio, respeitador, paciente, oferecendo seu produto. Foi quando um praça dele se aproximou, magro, cheio de cacoetes e, cismou com a cara do home! Começou por mostrar sua otoridade perguntando de quem eram as esteiras e qual era o preço. Atendido respeitosamente, nas suas inquirições, achou de dizer: Você tem cara de ladrão. Meu Deus! pra que falou isto? O morenão, que estava sentado num monte de esteiras, passou a mão por baixo delas, apanhou seu anjo da guarda, um porrete de jucá, de uns setenta centímetros, tipo casse-tete, tamanho família, destes que os mantenedores da ordem usam, hoje. De pé, olhou o meganha e lhe disse, calmamente: Seu Salgente, se voicemincê ripiti o qui dixe, Meu padim Cico qui mi perdoe. Nem esperou que ele abrisse a boca – mandou-lhe o jucá na caixa dos peitos, foi bater e cair! Dois outros soldados que estavam na bodega de Chico Cecilia – em frente ao incidente – se jogaram da calçada ao chão. Um deles, por azar, foi apanhado no ar por uma cacetada que o deixou sem poder se levantar. Foi bem na canela. O outro não ficaria sem sua recompensa: Ofrasio mandou-lhe uma cipoada na marra do chocalho, que o quepe foi cair longe e ele caiu mais perto. O destacamento tinha sido minosiado.
Feira livre.
Na maior calma, Ofrasio pegou duas esteiras que sobraram, pôs debaixo do braço e partiu para casa. Nu momento do sururu, aquele trechinho de rua virou um fuzuê. Um corre-corre danado e uma morena, na queda, engachou o pé na azelha de uma mala de rapadura e, vendo o guarda caído ao seu lado, abriu a goela: Mi laiga seu praça, mi dexa seu peste. Na sua marcha serena e tranqüila, Ofrasio deu uma cacetada numa pedra enorme que existia em frente da igreja, que retumbou na rua. Acidentalmente, meu avô ia passando. Ao vê-lo, o caceteiro tirou o chapéu e, respeitosamente falou: Eu num li dixe, seu coroné. Pra que mexero cumigo. Manha, de manha eu vou simbora. Mi adiscuipe e obrigado. Vou por esse mundo percurá onde possa viver em paz. Na manhã da segunda, a casa estava vazia.
J. Ferreira
Do Livro Varzea-Alegre
Minha terra e minha gente.
Que bela historia. "Padrim Tonio" era o Coronel Antonio Correia Lima, Foto da postagem - uma das maiores autoridades de Varzea-Alegre em todos os tempos. Era neto do Major Joaquim Alves e avô do Deputado Otacilio. Vejam o que fizeram com o Major Joaquim Alves, cortaram a historia da familia em quatro gerações.
ResponderExcluirTremenda falta de respeito com o Major Joaquim Alves e com o povo da cidade. É o que sempre falo, Morais, não me conformo com isso. Chego a ser antipatizada por muita gente de lá mas vou continuar reclamando.
ResponderExcluirFafá
morais eu e o flávio tivemos aí no crato chegamos agora a mikaela passou-me um celular mas a ligação não deu certo nós queriamos ter passado ai abraços
ResponderExcluirIsrael.
ResponderExcluirPodemos nos encontrar no Sanharol no sabado a tarde. Estarei na Casa do Menezes Filho.
Abraços.
Várzea Alegre traz a graça
ResponderExcluirDos contrastes naturais
Onde os fatos bem reais
A população abraça.
Chora no meio da praça
A tradição que perdeu.
Novo contraste nasceu
Com decisão descabida
A guerra não combatida
O major morto perdeu.
O Poder Legislativo
Que nomeia toda a rua
Na cantiga da perua
Dá um bote bem ativo.
Muda o nome primitivo
Da rua de seu Dirceu.
Deu cabo a quem já morreu
Sem a defesa merecida
A guerra não combatida
O major morto perdeu.
Major Joaquim Alves tem
Pra nós, passado fecundo
Pois para papai Raimundo
Foi um filho muito além.
Ao povo ele fez o bem
E a cidade o agradeceu.
Nome de rua lhe deu
Agradecendo a sua lida
A guerra não combatida
O major morto perdeu.
Amigo vereador,
Representante da gente,
Você abriu um precedente
Histórico de valor.
Mudou na rua o primor,
Que o povo lhe concedeu.
O passado não valeu
Nem a luta destemida
A guerra não combatida
O major morto perdeu.
Dr. Savio.
ResponderExcluirSeu poema dar um sentido todo especial a historia do Ofrasio.
Muito Obrigado.