Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 21 de junho de 2023

082 - Preciosidades antigas de Várzea-Alegre - Por Antônio Morais.


II Grande Guerra Mundial - Várzea-Alegre é bombardeada.

Consequência do nascimento de um menino loiro, em 28 de Abril de 1889, à Rua Salzburg, numero 79, em Branau-am-Inn Austria, o mundo está em polvorosa. Ex-soldado afastado do exercito, por sua capacidade como cabo, é hoje o chefe supremo das forças armadas alemães e sonha para pátria que não é sua o domínio do mundo, por mil anos, sob o “guante nasista”, seu catecismo, sua escola. Seu nome, com licença da palavra, é Adolph Schihlgruber Hitler, mais conhecido pelo apelido de “Fuhrer”.

Determinismo histórico ou o que seja! Com as voltas que dá o mundo, fez-se edição grosseira e ampliada de Gengiscão: sem duvida, a quinta das quatro bestas do Apocalipse! Desde primeiro de Setembro de 1939, quando invadiu a Polônia, esmagando com seu poderio e sua blitz o valoroso exercito de Rito Smigli, a Segunda Guerra Mundial foi instalada. Antes, porem, já fizera miséria, com punchs, golpes, anexação da Áustria e outros agressivos atos de perfeita paranoia. A ele se associaram seus comparsas Benitu Mussolini, o verdadeiro criador da religião e agora seu discípulo, apelidado de Duce e o japonês Hiro Hito, com sua aguerrida gente e poderosas armas.

Tinham os três um ideal comum – devorar a Europa e os Estados Unidos e, de quebra, as restantes nações do mundo. Tiro, felizmente saiu pela culatra. O tal eixo Roma-Tóquio-Berlim foi partido e esmagado: quatro anos de ferozes combates, mais de 40 milhões de mortos, feridos sem conta, destruições inestimáveis. Pesadelo que viveu toda a humanidade e do qual despertou para dias não menos agitados. O grande historiador Toynbee, examinando os 2.000 anos de Cristo até nós verificou e com tristeza que, nestes dois milênios – apenas 40 anos a humanidade tinha vivido em paz, e, ainda assim, paz relativa. Que esperar deste monstro que se diz feito a semelhança de Deus, descendente do fratricida Caim? Foi mais um pretexto para a defesa dos direitos do homem, o resguardo da democracia, da liberdade.

Várzea-Alegre, como não poderia deixar de ser, cumprindo seu histórico destino de “Defensora de Deus e da Liberdade”, tinha dois dos seus mais bravos e valorosos filhos a serviço da Democracia. Os irmãos Joaquim e José Ferreira. Dois super-homens. Bastava ver-lhes a compleição hercúlea, sentir-lhes o olhar penetrante, o agudo, firme e incisivo timbre de voz... Joaquim, jornalista de carreira, desde o pré-natal, era comentarista da BBC de Londres, e, nos abrigos anti-aéreos da famosa emissora, conclamava os aliados para a luta, para vitoria, que nos custaria, no dizer de Churchill, sangue, suor e lagrimas. José – o modesto escriba destas mal batidas – era segundo-tenente medico da reserva da Aeronáutica e mostrava sua bravura na Base Aérea de Fortaleza.

15 de Junho de 1944 – Sábado. A guerra está no seu ponto mais alto, no seu maior furor. Enquanto na Inglaterra o seu Estado Maior estudava planos para o dia D, na base Aérea o Tenente Uruguai e o Tenente Ferreira planejavam o bombardeio a Várzea-Alegre. Como extrategista de alto nível, traçam a lápis, num papel de operações higiênicas, os detalhes mínimos para o bom êxito da incursão. Direção do vento, posição da casa do Senhor Ferreira, quinta da rua, a direita da igreja, peso do petardo e outras mumunhas.

Papai me havia telegrafado, de véspera, pedindo mandasse, com a máxima urgência, medicação, que faltava em Várzea-Alegre – Anti tetânica. Eu conseguira na Farmácia Osvaldo Cruz acondicionei numa caixinha e pedir ao Tenente Uruguai que tinha missão em Juazeiro que a levasse, de onde seria enviada a Várzea-Alegre. Uruguai porem, sugeriu que acondicionasse direitinho e como Várzea-Alegre ficava no roteiro: por que não sacudir do alto na rua ou na própria casa.

Era sábado, dia de feira, as ruas se encheram de gente quando o bi-motor deu a primeira passada pela cidade a uns 500 metros de altura. Depois da queda do pacote, serenados os ânimos, cadê um herói para ir ver o que estava no tal embrulho? Quem era besta de ir pegar um quilo de TNT? Foi então que surgiu Miguel do Padre, preto velho conhecido como a maior e mais perito tirador e fazedor de goteiras daquelas altas cumieiras. Com a leveza de pluma e o macio andar de gato, foi lá em cima, apanhou, tranquilamente, a bolinha e com ela, debaixo do braço, desceu. Acompanhava o remédio um bilhete, em que eu explicava ser o Tenente Uruguai, bom amigo e grande piloto, o nosso colaborador solicito.

Dr. José Ferreira.


7 comentários:

  1. O escritor esqueceu de dizer que tinha em Várzea Alegre, dois torcedores do Hitler.

    ResponderExcluir
  2. Prezado Mundim.

    No mundo tem gente pra tudo. Várzea-Alegre não fica atras. Eu até duvido que fossem apenas dois.

    Grande Abraço.

    ResponderExcluir
  3. Prezado Primo.

    Com você agente está sempre aprendendo. A casa do Seu Ferreira ficava ao lado da Igreja Matriz. Foi aí o bombardeio.

    ResponderExcluir
  4. Como sempre, a informação e o humor nos fazem conhecer mais sobre Várzea Alegre e nosso povo.

    ResponderExcluir
  5. Amigo Antônio Morais, é por essa e outras histórias, os parentes, amigos , minha infância e adolescência, que amo a minha Várzea Alegre. Muito bom ler o que você publica, isso faz muito bem para amenizar ou ao mesmo tempo, aumentar a saudade do Meu Torrão Amado!

    ResponderExcluir
  6. O importante é o contexto do artigo e seu valor histórico. Ter ideologia é uma coisa, permanecer defendendo-a depois de constatada inócua é outra premissa.

    ResponderExcluir