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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 20 de outubro de 2024

Manuel Marcelino - O Bom de Veras IV


Certo dia, a noticia da aproximação dos marcelino deixou o delegado em panico. O negro Felizardo, sabedor da presença dos Marcelino, schou por bem demonstrar sua proclamada valentia. Foi vingar o patrão. Tocaiado na ladeira do Caririzinho, aguardou a passagem do grupo. Manuel Marcelino, que havia estacionado ali, talvez para descanso, foi atingido por Felizardo que, imediatamente, correu a rua anunciando haver morto o famosa bandoleiro. Chegaram a comemorar o grande feito. Foi cachaça a bessa. O velho Ioiô vibrou com a noticia, enquanto Felizardo proclamava alto e em bom tom sua valentia e a gloria de haver morto o terrível bandoleiro da fazenda Olho D'Água.

A amizade entre Antônio Taveira e Manuel Marcelino era grande e fraterna. Eram também compadres. Por isto, reuniu algumas pessoas e resolveu procurar, na mata, o amigo provavelmente baleado. Chegamos ao local e nada. Manchas de sangue, pelo chão,indicavam que a vitima havia penetrado numa vereda. Seguimos a pista. Aqui e acolá, folhas manchadas de sangue. Já a tarde fomos informados, por uma pessoa que regressava da feira de Jardim, que os Marcelino haviam subido a serra e Bom de Veras estava com uma das mãos na tipoia. A bala do rifle de felizardo apenas havia decepado o dedo polegar do famoso cangaceiro.

Na sua sede de vingança Bom de Veras voltou a Caririzinho. Como um tigre esfomeado, pegou Felizardo na garapa, quando este subia a ladeira tantas vezes aqui referida.

Bom dia, moleque.
É você manuel?
Está admirado?

Sim, mas sei que você não vai matar-me. Sempre fomos bons amigos e mesmo meu padim Cico não deixa. Cala a boca, negro, não fale neste nome aqui. Deixa meu Padim no seu canto. O negocio é aqui entre nós dois. Mal encerrou a conversa, doze tiros de rifle papo-amarelo acoaram no silencio daquele pé-de-serra ermo, e o baque do corpo de felizardo anunciava o fim do famoso pistoleiro. Vencida a primeira etapa da vingança, Bom de Veras tomou a direção da serra e foi se incorporar-se ao grupo de Lampião. Dois longos anos se passaram sem nenhuma noticia dele.

Continua.

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