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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 20 de outubro de 2024

Manuel Marcelino - O Bom de Veras V



Bom de Veras era um cabra disposto, inteligente e matreiro - disse Taveira. Era homem que se aconselhava ao Capitão Virgulino Ferreira na astucia e nos planos estratégicos de ação do grupo. Por isto estava se tornando uma ameaça a Lampião como chefe-supremo do famigerado e temível agrupamento de cangaceiros. Por esta razão, se separaram. A decisão foi do próprio Virgulino, tomada em Poço Cercado.

Corria o ano de 1926. Bom de veras rumava tranquino com destino a Caririzinho. Com ele os manos João Vinte e Dois e Lua Branca e mais quanto a cinco companheiros. Era chegado o momento da vingança ao seu mais odiado inimigo: Ioiô Peixoto. Na sua chegada ao distrito de Caririzinho, matou Zé Pretinho, que levava carta de Nicanô Peixoto ao seu parente Ioiô, avisando da vinda de Bom de veras. Mandou que o Zé Pretinho corresse e atirou pelas costas. Um irmão, um filho, e o genro de Ioiô foram, neste mesmo dia, vitimas da sanha criminosa do perigoso grupo.

Chegaram, finalmente, à rua, Ioiô não se encontrava em casa. Tinha ido ao bebedouro de gado, em cujo local foi travado o seguinte dialogo, após a resolução de Bom de Veras de que iria, como realmente fez, sozinho, fazer o serviço.

Levanta, cabra velho safado. Não diz que é valente...que briga...que tem autoridade? Não diz que os Marcelino são uns cagões? Eu sei que você não é capaz de fazer isso, Manuel. Você não é capaz de matar-me...toda vida fomos amigos...Conversa, velho safado e frouxo... Trés tiros de rifle puseram termo ao dialogo fatal. Contorcendo-se e se esvaindo em sangue, com três balaços na testa, Ioiô Peixoto tombou sobre as raízes de frondosa baraúna, em cujo tronco ainda hoje existe, solitária e esquia uma enorme cruz.

Um comentário:

  1. Esta parte da historias dos Marcelino já mostra como a historia toma rumos desastrosos por conta de decisões impensadas, muitas vezes para mostrar apenas a vaidade, a autoridade, quantas mortes por causa de uma simples faca.

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