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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

101 - O Crato de Antigamente - Postagem do Armando Rafael.


Texto do Manuel Patrício de Aquino.
Há alguns anos (não muitos) viveu em Crato um mendigo chamado Pedro Cabeção. Jamais se soube o seu completo nome de batismo. Ou jamais se quis sabê-lo...

Mas Pedro era popularíssimo. Mormente entre a criançada, a quem sempre fazia rir (em especial quando metia o dedo polegar na boca, ou o fura-bolo, comprimindo-o para, em seguida, puxa-lo de repente a fim de conseguir sons engraçados (estampidos) com que agradecia as esmolas recebidas, ou simplesmente cumprimentar as pessoas.

Pedro andava sempre só, apoiado num velho cajado de “frei–Jorge”. Caxingando. Gemendo... Mas passava a maior parte do tempo “estacionado” numa calçada qualquer do centro da cidade, de preferência perto das esquinas ou nas proximidades da casa de Seu Mário Limaverde. Forrava o local com velhos e rotos panos e com pedaços de papelão. Tinha um banquinho de madeira, de um palmo de altura, onde, às vezes, se sentava ou expunha a desbotada lata de manteiga: seu caça-níquéis.

Apresentava, além da macrocefalia, outras bem visíveis deformações anatômicas, as quais, no entanto, não despertava a mínima curiosidade de ninguém, pois o importante mesmo era a sua enorme cabeça, que lhe valera a alcunha.

Pois bem, meu caro leitor. O Ceará de hoje, mais do que nunca, lembra-me o miserável Pedro Cabeção. Estado pobre. Paupérrimo. Com sua enorme e disforme cabeça (Fortaleza e a Região Metropolitana) e aleijões pelo resto do sofrido corpo. Mendigando pela televisão. E o seu homem do campo caxingando, gemendo, chorando... morrendo.

Desde a promessa do último brilhante da coroa do Imperador Dom Pedro II, que seria vendido, se preciso, para que ninguém aqui passasse fome, pouca – muito pouca coisa –mudou.

Quanto ao Cariri, que ninguém se engane: inobstante algumas aparências e apesar da propaganda enganosa, está perdendo, e feio a corrida do progresso. Ah! velho Pedro Cabeção, faz pena! E dá vergonha!!!

(*) Manoel Patrício de Aquino, advogado, é Presidente do Instituto Cultural do Cariri

12 comentários:

  1. O cearense tem sim cabeção, mas não é deformação causada por inanição e sim por inteligência. Quase todo ano vou ao ceará e posso garantir que, não só no ceará, mas no nordeste como um todo, não há mais fome. Hoje é mais fácil morrer de fome em São Paulo que no nordeste.

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  2. Prezado Dr.Manuel Patricio.

    Boas lembranças do Crato de outrora.

    Armando.

    Uma Boa postagem.


    Francisco.

    O Dr. Manuel Patricio fala com conhecimento de causa. Eu sei que voce é diferente de São Tomé. São Tomé só acreditava no que via, e voce não acredita nem no que vê. Quando vier ao Ceará eu posso lhe mostrar o que voce não viu nas suas vindas. Pobreza absoluta, miseria, fome, desasistencia total na saude, educação de pessima qualidade, prostiuição e drogas.

    Quem sabe talvez voce deixe de entender que o seu pais seja esse mundo encantado que só voce imagina.

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  3. --- 1 ---
    Como sempre respeito as opiniões do Sr. Francisco Gonçalves de Oliveira, mas não consigo aguentar calado algumas delas...

    Recentemente O “Jornal do Commercio”, do Recife, veiculou um caderno especial chamado “ Feridas Abertas da Fome”. Trata-se de uma matéria séria, uma homenagem ao médico Josué Apolônio de Castro que lutou pela erradicação fome no Nordeste.
    Uma equipe formada pelo fotógrafo Arnaldo Carvalho, pela repórter Ciara Carvalho, e pelo motorista Reginaldo Araújo rodou quase dez mil quilômetros, em 15 dias, pelos nove estados do Nordeste do Brasil. O que eles testemunharam, - o seu contato com as pessoas “invisíveis” aos olhos da nossa sociedade -, demonstra que ainda temos um longo caminho a percorrer até a realização dos ideais de Josué de Castro.

    No Ceará a equipe visitou a Serra do Cafundó.
    Escreveu o repórter:

    “Algumas das localidades marcadas pela fome e pela desolação encontram-se listadas dentre os municípios tidos como modelo pelo programa “Fome Zero”. O que revela quão distante estamos de uma sociedade onde a dignidade da vida seja uma realidade para todos. Apesar das incipientes vitórias alcançadas no combate à miséria nos anos recentes, infelizmente, ainda é vasto o caminho a ser percorrido acaso queiramos que “justiça social” deixe de ser um vago conceito e se transforme em viva realidade”.

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  4. --- 2 ---

    Isso se contrapõe a outros jornalistas e ao ex-presidente da República, Lula, que têm usado um ingênuo jogo de palavras para dizer que não há fome no Brasil. Todos esses argumentos são sofismas baseados num falso jogo de palavras.
    A priori, basta lembrar que até o ex-presidente FHC, também resvalou nessa demagogia ao declarar – no fim do mandato dele – de que “95% das crianças vão hoje à escola e como na escola recebem merenda, não tem como passar fome”. Mas e os 5% restantes? E as crianças na faixa de dois a seis anos que não vão à escola? Puro sofisma, pura enganação,

    Por fim, Sr. Francisco Gonçalves de Oliveira, quando o Sr. fizer sua visita anual ao Ceará, gostaria de convidá-lo a visitar não a zona rural, onde a situação é pior, mas alguns bairros periféricos na Região Metropolitana do Cariri para constarmos se ainda existe, ou não, fome por aqui.

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  5. Eu sei e acredito que há muito o que se fazer neste sentido no Brasil, País Continente em miséria, País de Todos os Problemas! A Sociedade é convocada a ajudar a resolver... "São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo!!!"

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  6. É...

    Meu caro Manoel Patrício de Aquino: - Nezinho Patrício

    Que belo resgate. Sou testemunha ocular de todos os fatos narrados nesta postagem.

    Tudo que você escreveu sobre o Pedro Cabeção, é verdadeiro.

    O Pedro Cabeção faz parte da minha infância, do meu passado, e ainda hoje lembro dele alí na rua Dr. Miguel Lima Verde, pouco abaixo do DENERU, depois SUCAM.

    As vezes via-o andando tropegamente, tamborete na mão e a lata debaixo do braço.

    Esses fatos do Crato passado, não podemos esquecer.

    Valeu

    Abraços do

    Vicente Almeida

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  7. Nezim meu primo, se vivo estivesse, constataram a realidade do seu texto.

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  8. Lembrando me do Pedro Cabeção, quando os meninos o irritavam gritando seu apelido em alto e bom som ,ele respondia com um palavrão bem feio

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  9. Havia nas Guaribas uma moça ou senhora não sei ao certo ,que a chamavam de Maria Bago Mole ! pois bem um dia um rapaz morador da localidade querendo se aparecer a chamou pelo apelido em uma roda de amigos .ele olhou pra ela riu e é falou ei Maria Bago Mole .Ela o encarou e olhando para todos os outros respondeu Bago Mole é o teu cacho

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  10. Límpido e forte o texto ! Parabéns ao iluminado e eterno autor 👏🏻👏🏻👏🏻

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  11. Uma maravilha de texto. Sensacional!

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  12. Lembranças algumas tristes outras interessantes ! Vida que segue 🙏🏽 so são fatos que vai acontecendo e deixando sua marca !!!!

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