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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Um bonito conto - Por Paulo Coelho.

Um homem, seu cavalo e o seu cão iam por um caminho. Quando passavam perto de uma árvore enorme caiu um raio e os três morreram fulminados. Mas o homem não se deu conta de que já tinha abandonado este mundo, e prosseguiu o seu caminho com os seus animais, as vezes os mortos andam um certo tempo antes de tomarem consciência da sua noiva condição.

O caminho era muito comprido e, colina acima, o sol estava muito intenso; eles estavam suados e sedentos. Numa curva do caminho viram um magnifico portal de mármore, que conduzia a uma praça pavimentada com portas de ouro. O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada e travou com ele, o seguinte dialogo: 
- Bons dias.
- Bons dias, respondeu o guardião. 
- Como se chama este lugar tão bonito? 
- Aqui é o céu
- Que bom termos chegado ao céu, porque estamos sedentos! 
- Você pode entrar e beber quanta agua queira. E o guardião apontava a fonte. 
- Mas o meu cavalo e o meu cão também tem sede... 
- Sinto muito - disse o guardião - mas aqui não é permitido a entrada de animais.

O homem levantou-se com grande desgosto, visto que tinha muitissima sede, mas não pensava em beber agua sozinho. Agradeceu ao guardião e seguiu adiante. Depois de caminhar um bom pedaço de tempo, encosta acima, já exaustos os três, chegaram a um outro sitio, cuja entrada estava assinalada por uma porta velha que dava para um caminho de terra ladeado por árvores. A sombra de uma das árvores estava deitado um homem, com a cabeça tapada por um chapéu. Dormia provavelmente.

- Bons dias - disse o caminhante. O homem respondeu com um aceno. 
- Temos muita sede, o meu cavalo, o meu cão e eu. 
- Há uma fonte no meio daquelas rochas - disse o homem apontando o lugar. 
- Podeis beber toda agua que quiserdes. O homem, o cavalo e o cão foram até a fonte e mataram a sua sede. O caminhante voltou atrás, para agradecer ao homem. 
- Podeis voltar sempre que quiserdes- respondeu este.
- A propósito, como se chama este lugar? Perguntou o caminhante. 
- O céu
- Mas, o guardião do portão de mármore disse-me que ali é que era o céu! 
- Ali não é o céu, é o inferno - contradisse o guardião. O caminhante ficou perplexo. 
- Devemos proibir que utilizem o vosso nome! Essa informação falsa deve provocar grandes confusões. Advertiu o caminhante. 
- De modo nenhum - respondeu o guardião - na realidade, fazem-nos um grande favor, porque ficam ali todos os que são capazes de abandonar os seus melhores amigos.

2 comentários:

  1. Perfeito! Amigo é coisa pra se... preservar, cuidar e amar sempre!

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  2. É...

    Que bela história.

    É desta forma que gostaria de ver o mundo. Amigos de verdade. Amigos do peito. Amigos, Amigos!

    Vicente Almeida

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