Beatriz vai ao limbo pedir a Virgílio para acompanhar Dante ao inferno
CANTO II
Razão da viagem - Beatriz
CANTO II
Razão da viagem - Beatriz
Já anoitecia quando iniciamos a jornada. Ó Musas, ó grande gênio, me ajudem para que eu possa relatar aqui sem erro esta viagem que está escrita para sempre em minha mente! E então comecei:
- Ó poeta que me guias, julga minha virtude e dize se é compatível com o caminho árduo que me confias. Não sou ninguém diante de Paulo ou Enéas. Não consigo crer que eu seja digno de tal, nem acho que outro pensaria da mesma forma.
- Se eu de fato compreendi o que acabas de dizer - respondeu o poeta -, tua alma está tomada pela covardia, que tantas vezes pesa sobre os homens, os afastando de nobres empreendimentos, como uma besta assustada pela própria sombra. Para te libertar desse medo, deixa que eu te explique como cheguei até ti:
"Eu estava com os outros espíritos suspensos no Limbo quando apareceu-me uma mulher beata e bela.
- Ó generosa alma mantuana, - disse ela -, ajude-me a socorrer um amigo, que está perdido na selva escura. Vai com tua fala ornada e ajuda-o para que eu seja consolada. Eu sou Beatriz, que pede que tu vás. Venho do céu e para o céu voltarei. Foi o amor que me trouxe e é ele quem me faz falar.
- Ó mulher de virtude, tanto me agrada obedecer-te, que basta dizeres o que desejas que eu faça que eu o farei. Mas dize-me, não tens medo de descer até este centro escuro?
- Deve-se temer as coisas que de fato têm o poder de nos causar mal - respondeu -, e mais nada, pois nada mais existe para temer. A mulher gentil que se compadeceu do que acontece com aquele a quem te envio, pediu a Luzia, dizendo: 'aquele teu adepto fiel precisa de tua ajuda e a ti o recomendo.' Luzia, inimiga de toda crueldade, veio então a procurar-me, onde eu sentava com a antiga Raquel. 'Beatriz', disse, 'não vais salvar quem mais te amou e que por ti se elevou do povo vulgar?' Logo que ouvi tais palavras desci aqui, do meu beato posto, por confiar na tua palavra honesta.
E assim, ela me deixou, e eu cheguei para afastar aquela fera que impedia que tu escalasses o belo monte."
- Então o que é que há? Por que tu és tão covarde? Por que não és bravo e corajoso, quando tens três mulheres abençoadas que te guardam lá do céu?
Depois que ele terminou de falar, eu não era mais o mesmo. Recuperei a coragem, perdi o medo e afastei todas as minhas dúvidas. Imediatamente voltei a confiar na jornada que me fora proposta e disse-lhe:
- Ó piedosa aquela que me socorreu, e tu que tão cortês atendeste ao seu pedido. Com tuas palavras tornei-me outra vez disposto. Vamos, que agora ambos queremos a mesma coisa. Tu serás meu guia, e eu te seguirei.
E assim, seguimos por um caminho árduo e silvestre
No Canto III, chegaremos à porta do inferno
- Ó poeta que me guias, julga minha virtude e dize se é compatível com o caminho árduo que me confias. Não sou ninguém diante de Paulo ou Enéas. Não consigo crer que eu seja digno de tal, nem acho que outro pensaria da mesma forma.
- Se eu de fato compreendi o que acabas de dizer - respondeu o poeta -, tua alma está tomada pela covardia, que tantas vezes pesa sobre os homens, os afastando de nobres empreendimentos, como uma besta assustada pela própria sombra. Para te libertar desse medo, deixa que eu te explique como cheguei até ti:
"Eu estava com os outros espíritos suspensos no Limbo quando apareceu-me uma mulher beata e bela.
- Ó generosa alma mantuana, - disse ela -, ajude-me a socorrer um amigo, que está perdido na selva escura. Vai com tua fala ornada e ajuda-o para que eu seja consolada. Eu sou Beatriz, que pede que tu vás. Venho do céu e para o céu voltarei. Foi o amor que me trouxe e é ele quem me faz falar.
- Ó mulher de virtude, tanto me agrada obedecer-te, que basta dizeres o que desejas que eu faça que eu o farei. Mas dize-me, não tens medo de descer até este centro escuro?
- Deve-se temer as coisas que de fato têm o poder de nos causar mal - respondeu -, e mais nada, pois nada mais existe para temer. A mulher gentil que se compadeceu do que acontece com aquele a quem te envio, pediu a Luzia, dizendo: 'aquele teu adepto fiel precisa de tua ajuda e a ti o recomendo.' Luzia, inimiga de toda crueldade, veio então a procurar-me, onde eu sentava com a antiga Raquel. 'Beatriz', disse, 'não vais salvar quem mais te amou e que por ti se elevou do povo vulgar?' Logo que ouvi tais palavras desci aqui, do meu beato posto, por confiar na tua palavra honesta.
E assim, ela me deixou, e eu cheguei para afastar aquela fera que impedia que tu escalasses o belo monte."
- Então o que é que há? Por que tu és tão covarde? Por que não és bravo e corajoso, quando tens três mulheres abençoadas que te guardam lá do céu?
Depois que ele terminou de falar, eu não era mais o mesmo. Recuperei a coragem, perdi o medo e afastei todas as minhas dúvidas. Imediatamente voltei a confiar na jornada que me fora proposta e disse-lhe:
- Ó piedosa aquela que me socorreu, e tu que tão cortês atendeste ao seu pedido. Com tuas palavras tornei-me outra vez disposto. Vamos, que agora ambos queremos a mesma coisa. Tu serás meu guia, e eu te seguirei.
E assim, seguimos por um caminho árduo e silvestre
No Canto III, chegaremos à porta do inferno
09/06/2011
Prezado Vicente.
ResponderExcluirEstou acompanhando atentamente. Lendo e aprendendo.
Abraços.
É...
ResponderExcluirClareando a compreesão do leitor neste canto II:
I - BEATRIZ foi uma pessoa muito importante na vida de Dante. é retratada como símbolo da pureza e da perfeição.
Dante a conheceu quando tinha nove anos e por ela se apaixonou perdidamente.
Mas o pai de Dante o casou com outra mulher a quem ele nunca amou.
Beatriz morreu cedo e Dante a usou como inspiração em suas obras, ao ponto de trazê-la do Céu para socorre-lo no inferno.
II - O LIMBO é o local onde as almas que não puderam escolher Cristo, mas escolheram a virtude, vivem a vida que imaginaram viver após a morte.
Não têm esperança de ir ao Céu pois não tiveram fé em Cristo. Alí ficam os não batizados e aqueles que nasceram antes de Cristo, como Virgílio.
Na mitologia clássica, o limbo fica suspenso entre o Céu e o mundo dos mortos.
Vicente Almeida