Canto IX
Erínias e Medusa Círculo da heresia (6) - Túmulos
O medo me tomou quando vi o semblante do mestre, que se aproximava, e dizia quase para si:
- Precisamos triunfar, se não... Mas não, ora! A ajuda nos fora prometida! Como demora!
Eu vi muito bem como ele mudou de tom ao tentar encobrir o que falara, ou a palavra que não havia pronunciado, por isso mais medo tive ainda, pois a frase que ele deixara incompleta, eu completei com sentido pior.
- Alguma vez já desceu, a estes círculos profundos do inferno, alguém do Limbo? - perguntei-lhe.
Virgílio continuou a falar, mas, de repente, minha atenção se voltou para o céu onde vi três Fúrias infernais. Eram figuras femininas, ungidas de sangue e com serpentes ferozes no lugar dos cabelos. O mestre, que já conhecia as escravas de Proserpina, me apontou:
- Olha! São as Erínias ferozes! Aquela é Megera, à esquerda, e aquela que chora à direita é Aleto. Tesífone é a do meio.
Elas gritavam alto e com as unhas rasgavam o peito. Eu fui para junto do poeta, tomado pelo medo.
- Venham, Medusa chama, venham! - gritavam - vamos transformá-lo em pedra! Que pena que deixamos Teseu escapar!
- Fecha os olhos e volta-te! - gritou Virgílio - pois se a górgona vier e tu olhares para ela, não haverá mais volta ao mundo! - e com estas palavras ele me virou de costas e, não confiando nas minhas mãos que já estavam sobre os olhos, colocou as dele sobre as minhas e lá as manteve.
- Precisamos triunfar, se não... Mas não, ora! A ajuda nos fora prometida! Como demora!
Eu vi muito bem como ele mudou de tom ao tentar encobrir o que falara, ou a palavra que não havia pronunciado, por isso mais medo tive ainda, pois a frase que ele deixara incompleta, eu completei com sentido pior.
- Alguma vez já desceu, a estes círculos profundos do inferno, alguém do Limbo? - perguntei-lhe.
Ilustração de Gustave Doré
- Olha! São as Erínias ferozes! Aquela é Megera, à esquerda, e aquela que chora à direita é Aleto. Tesífone é a do meio.
Elas gritavam alto e com as unhas rasgavam o peito. Eu fui para junto do poeta, tomado pelo medo.
- Venham, Medusa chama, venham! - gritavam - vamos transformá-lo em pedra! Que pena que deixamos Teseu escapar!
- Fecha os olhos e volta-te! - gritou Virgílio - pois se a górgona vier e tu olhares para ela, não haverá mais volta ao mundo! - e com estas palavras ele me virou de costas e, não confiando nas minhas mãos que já estavam sobre os olhos, colocou as dele sobre as minhas e lá as manteve.
Os demônios barraram a entrada de Dante e Virgílio, mas um anjo
desceu das alturas para abrir os portões da cidade de Dite.
Ilustração de Gustave Doré
desceu das alturas para abrir os portões da cidade de Dite.
Ilustração de Gustave Doré
De repente, ouvi um grande estrondo e uma ventania tomou conta do ar levantando poeira e fazendo um barulho assustador. Depois, o inferno começou a tremer. Ele então tirou as mãos dos meus olhos e disse:
- Agora vira-te e olha na direção do pântano, onde a bruma é mais espessa.
Olhei e vi mais de mil almas apavoradas no ar, fugindo, saindo do caminho de um ser que vinha, caminhando sobre o Estige, sem molhar os pés. Ele afastava o ar sujo com as mãos, e essa aparentava ser a única coisa que o incomodava. Eu tinha certeza, agora, que ele vinha do céu. Voltei-me para o guia mas ele fez um sinal para que eu permanecesse em silêncio.
O anjo chegou e tocou as portas de Dite com uma pequena vara, fazendo com que elas abrissem sem esforço.
- Ó almas mesquinhas - ele começou, sobre as portas da cidade sombria - por que resistis contra aquela vontade que nunca pode ser negada e que, mais de uma vez, só fez aumentar vosso sofrimento?
Depois de falar, voltou pelo mesmo caminho por onde tinha chegado. Nós depois prosseguimos, seguros por suas palavras sagradas, e entramos sem dificuldades pela porta principal.
- Agora vira-te e olha na direção do pântano, onde a bruma é mais espessa.
Olhei e vi mais de mil almas apavoradas no ar, fugindo, saindo do caminho de um ser que vinha, caminhando sobre o Estige, sem molhar os pés. Ele afastava o ar sujo com as mãos, e essa aparentava ser a única coisa que o incomodava. Eu tinha certeza, agora, que ele vinha do céu. Voltei-me para o guia mas ele fez um sinal para que eu permanecesse em silêncio.
O anjo chegou e tocou as portas de Dite com uma pequena vara, fazendo com que elas abrissem sem esforço.
- Ó almas mesquinhas - ele começou, sobre as portas da cidade sombria - por que resistis contra aquela vontade que nunca pode ser negada e que, mais de uma vez, só fez aumentar vosso sofrimento?
Depois de falar, voltou pelo mesmo caminho por onde tinha chegado. Nós depois prosseguimos, seguros por suas palavras sagradas, e entramos sem dificuldades pela porta principal.
Já dentro da cidade, encontramos um cemitério de tumbas abertas, de onde se ouvia o lamentar de muitas vozes que queimavam em brasa dentro das covas.
- Mestre - perguntei -, que sombras são estas que aqui jazem e que só podemos perceber pelos seus lamentos?
- São os hereges e seus seguidores. - respondeu-me Virgílio - Em cada tumba repousam os réus de uma mesma seita, que são torturados pelo fogo eterno.
Dobramos, então, à direita, e continuamos a caminhar entre a muralha da cidade e as sepulturas.
- Mestre - perguntei -, que sombras são estas que aqui jazem e que só podemos perceber pelos seus lamentos?
- São os hereges e seus seguidores. - respondeu-me Virgílio - Em cada tumba repousam os réus de uma mesma seita, que são torturados pelo fogo eterno.
Dobramos, então, à direita, e continuamos a caminhar entre a muralha da cidade e as sepulturas.
No Canto X Espíritos de Farinata e Cavalcanti - uma profecia sobre Dante
25/06/2011
É...
ResponderExcluirDITE - Cidade dos hereges: como cidade dos mortos, contém um cemitério que abriga vários grupos heréticos, entre eles, aqueles que não acreditaram na sua existência, como os seguidores das doutrinas de Epicuro, que negava a sobrevivência da alma após a morte corporal.
As gravuras do poema, foram inseridas no decorrer do tempo, por desenhistas e pintores consagrados. A maioria pertence a Gustave Doré.
Elas têm a finalidade de auxiliar a leitura, simbolizando a visão do pensamento de Dante em cada passagem.
O curioso é que no inferno, as almas dos pecadores estão sempre despidas. É uma alegoria dando a entender que da terra nada se leva de bens materiais, ficando a alma totalmente indefesa a mercê das mentes malígnas.
Vicente Almeida
Vicente, como as gravuras ajudam a entender a leitura: como elas são belas; a nudez das almas, nos lembrando que, só levamos da terra as boas ações; ou seja para os que acreditam na sobrevivencia da alma, viveremos eternamente no estado que acreditamos ser, ou está; nos leva a meditar no misterio da vida.
ResponderExcluirObrigada querido. Gosto muito da maneira como tu escreves. Abraço fraterno. Fatima Bezerra Cordeiro.
Olá, Vicente, eu aqui outra vez.
ResponderExcluirLendo o texto e seus comentários.
É...
ResponderExcluirFátima:
Uma imagem/quadro fala mais do que mil palavras.
Mas uma frase é tambem como se fosse um quadro pintado pela linguagem.
Assim como não compreenderemos o quadro antes da sua conclusão, a frase tambem não será entendida até que se pronuncie a última palavra.
Artemísia:
Tô vendo você ai na sua cadeira cativa.
Continuem com a leitura, há muitos pontos possitivos, do contrário eu não faria estas postagens.
Abraços do
Vicente Almeida