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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 6 de novembro de 2011

Croniqueta para mamãe - Antonio Alves de Morais.

O Sanharol era um sitio há dois e meio quilómetros  da cidade. Hoje um bairro bastante populoso. No final da década de 60 do século passado chegaram os primeiros sinais de progresso: a energia eletrica. Na década de 80 instalou-se um telefone para facilitar a comunicação. E agora mais recente a Enternet.

Está proeza, dedicada a mamãe, aconteceu  nos anos 50 quando a família se constituía de quatro pessoas: meu pai, minha mãe, eu e o segundo filho de casal. Pedro.

Tinha a galinha com uma ninhada de frangos, ao todo 21, todos graúdos, as frangas já  procurando ninhos pra botar ovos e os frangos  já  querendo dar uma de galos, portanto no ponto de consumo. Mamãe convidou Raquel, uma moça velha, filha de seu Zezinho, conhecida pela alcunha de Requer para  fazer a capação dos frangos. Reuniram os apetrechos: faca, agulha e linha e deram inicio ao serviço. Cabia a mim e ao Pedro pegar os frangos.

De posse do primeiro, a cirurgiã, arrancou as penas, limpou bem o local do corte, fê-lo, introduziu o dedo e  começou a procurar os ovos do franco. Depois de algum tempo exclamou: Tonha, esse franco tem os vos muito pequenos e, retirando o primeiro observou que era  o coração da ave.  O frango bateu asa e morreu. 

Raquel ficou desesperada,  atribuiu o fato a fase lua, que não era  conveniente continuar  com o serviço e por fim suspenderam. 

Quando meu pai chegou da roça, passou direto para cozinha, cumprimentor minha mãe, lavou as mãos e  foi surpreendido com um suculento franco ao molho pardo para o almoço. Minha mãe contou a historia da capação.

No outro dia, ao chegar da roça, papai  encontrou um almoço,  como se diz lá em nós: d'agua no sal, sem mistura e, naquele jeitão  risonho disse: eu vinha era animado pensando que Requer  tinha continuado capando os frangos de Tonha.

7 comentários:

  1. Morais, ou lua danada! Pois em muntas casas acontecia isso, inclusive na minha. kkkkkkkkkkkk
    Abraços!

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  2. Morais, minha mãe era muito cuidadosa nessas observações, era a cirurgiã de seus franguinhos, não confiava a ninguém essa terefa e não nos ensinou a fazê-la. Talvez já prevendo que não seríamos tão boas quanto ela, todos iriam pra panela que nem o de Tonha.
    Um abraço.

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  3. Não tenha dúvida, tempo onde não existiam meios de sanar uma economia muito irrisória, não existia bolsa renda, vale gás e nem benefício de aposento. Fato que acontecia nas diversas moradias da região e circunvizinhas, só que na minha casa a cirurgiã era a vó do nobre primo Antonio Morais, conhecida por Dona Andrezinha, que por sua vez acontecia os mesmos erros cirúrgicos e a festa continuava saboreando frangos vítimas de má capação. .

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  4. Antonio, essa é uma singela e linda maneira de você como bom filho,continuar a dizer: Papai e Mãe, eu lhes amo. Quanto ao ato cirúgico, isso continua a acontecer; até mesmo nos grande hospitais-granjas.Tenho loucura, para aprender fazer esse tipo de operação. E na proxima oportunidade que eu tiver, ire até o Sanharol ou São Nicolau, fazer um curso intensivo com uma dessas boas capadeiras. Tinha pavor dessa palavra: d'água no sal...graças a Deus os tempos são outros; mais tudo que passamos, foi necessario para nosso crescimento. Abraço carinhoso e fraterno. Fatima Bezerra.

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  5. É...

    D. Tonha. Exemplo de mãe dedicada. Conheço-a e muito e lhe quero muito bem.

    Nas minhas viagens a Fortaleza, tenho parada obrigatória em sua casa, e agora paro também no comércio do Zé André Neto, meu afilhado. É aquela alegria.

    Quanto a essa história de capação, acontece de vez em quando com os home. Ô coisa de mau gosto.

    Vôte, sai pra lá.

    Lá em casa no Sitio Belmonte, também tinha dessas coisas. Nunca gostei!

    Mas quando a cirurgiã errava, todos gostavam e o pobre frango virava galinha à cabidela.

    Vicente Almeida

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  6. Antonio Alves de Morais

    Esse é nome de escritor de gente que sabe o que diz quando o assunto é falar da nossa gente, é esse, o Antonio Morais que eu gosto e que faço questão de preservar por que sei do que é capaz quando resolver tornar público esses interessantes casos que só o vale do machado é capaz de produzir.
    Pura literatura, parabéns!

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  7. POR DIVERSAS VEZES VI O MEU PRIMO ALUÍZIO LAURENTINO CASTRAR PORCOS. ELE APERTAVA BEM OS TESTÍCULOS DOS COITADOS E COM UMA FACA BEM AMOLADINHA, E AQUECIDA,FAZIA O CORTE, RETIRAVA O CONTEÚDO E COSTURAVA COM LINHA ZERO. MAS FRANCO, SÓ AGORA, QUANDO ESTOU PRÓXIMO DOS 56 ANOS DE IDADE, FIQUEI SABENDO. SÁBIO DITADO: É VIVENDO E APRENDENDO. PARABÉNS MORAIS.

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