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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 6 de novembro de 2011

A VOLTA DO INCENDIÁRIO - Por Mundim do Vale.

1.966 semana da terra.

O IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, resolveu recadrastar todas as terras do Brasil. O governo federal repassou a verba das despezas e o material para as prefeituras e a coordenação ficou por conta dos municípios. Em Várzea Alegre o secretário Lourival Frutuoso, nomeou as equipes e deu as devidas instruções.

As equipes eram compostas por cinco pessoas, sendo um monitor e quatro auxiliares. A equipe do distrito de Riacho Verde ficou formada assim: Sebastião Bezerra ( Bastião Panelada ) Como monitor, Chico de Raimundo Brito, Francivaldo Martins, meu irmão Ozanam Morais e esse contador de causos.

Fizemos os treinamentos e fomos ao Riacho Verde, onde ficamos dormindo e fazendo refeições na casa da mãe do coronel Julião.

No primeiro dia de trabalho, no grupo escolar da Bela Vista, por volta das 10:00 Horas, recebemos a visita de Antônio do Vijo, que nós não conhecíamos ainda. Ele dirigiu-se a Francivaldo sem dizer nada. Francivaldo muito atencioso perguntou:

- O Senhor quer recadastrar sua terras?

- Não meu fí. Eu só tenho terra no pescoço e nas unha. Eu vim aqui pra ver se arranjo um pedaço de terra prumode fazer uma broca..

Antônio saiu e nós demos sequência ao trabalho. Quando foi por volta das 10:30 Horas nós sentimos um calor e ouvimos os gritos do Pessoal:

- FOGO!

Antônio tinha feito um rozário de mato seco contornando o grupo e ateou fogo. Foi uma correria dentro e fora do grupo, até quando Chico Máximo e Zé Vitorino juntos com alguns moradores, fizeram a contenção do fogo e botaram o incendiário para o Monte Alegre. Nós fiquemos inseguros querendo deixar o trabalho, mas o pessoal garantiu de prestar uma segurança para que nada de mal nos acontecesse.

A noite quando fomos dormir um menino dise que o maluco botava fogo até em lagoa. Isso fez com que a nossa segurança diminuisse.

Na manhã seguinte mais-ou-menos no mesmo horário, nós estávamos na classe com algumas pessoas e de repente eu notei Francivaldo olhar na direção da janela que ficava atrás do meu birô, com uma certa expressão de terror. Quando eu ve virei deparei com o Incendiário que foi logo perguntando:

- Alguém pode me arrumar fosco?

As duas portas e as duas janelas foram poucas para sair tanta gente. Depois que imobilizaram Antônio, foram me encontrar lá no Riacho Fundo.


Dedicado ao: Tropeiro do Mameluco, Coronel Julião, e aos filhos de Chico Máximo.

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