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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 19 de março de 2014

Menino Lenheiro - Por Loudes Morais Cesar.



O menino chora. Tem uns 12 anos, mas aparenta bem menos. Seu corpo franzino, castigado pelo sol escaldante desaba no chão, num choro sentido.
Tamanho de menino, responsabilidade de homem.
Sobre o lombo do jumento está a carga de lenha, que deverá ser vendida a fim de comprar alguma coisa para o almoço.
Mas o jumentinho cansado resolve parar e não levanta de jeito nenhum para seguir a jornada. Ainda falta mais  da metade do caminho até a ¨Rua¨.
Ao menino, restam somente as lágrimas. Ou talvez uma oração pedindo a Deus que se compadeça e que faça com que o danadinho do jumento genioso se levante e siga em frente.
Em sua cabeça, a lista de compras que sabe de cor: farinha de mandioca,  feijão de corda e rapadura. A irmã mais velha e os irmãos pequenos esperam pela sua volta.Sua mãezinha descansa lá no céu...
Ele sabe que tem que ir, vender logo essa carga e voltar bem rapidinho para que a irmã possam preparar o que trouxer ainda para o almoço.
Mas o jumento, nada...
Ainda torce para que possa realmente vender a lenha e pegar algum dinheiro, porque algumas vezes, tinha que deixar toda a carga como pagamento de seu pai a algumas senhoras que lhe haviam prestado certos favores. Favores estes que ele não entendia muito bem.
Mas, êta que o jumento resolveu levantar! Ainda faltam muitas léguas até a cidade, é melhor se apressar antes que o companheiro se canse de novo e resolva parar!
Um dia,quem sabe, este caminho se torne mais curto...
E essa carga não seja tão pesada...
Para o jumentinho cansado...
E para o menino...
Magrinho...
Toinho.

11 comentários:

  1. Loudes Morais.

    Parabens.

    O seu texto mostra parte da verve de nosso povo de antanho.

    A maneira carinhosa com que você trata o assunto comove a quem lê. Muito bom texto. Uma historia real, bonita e meditativa para quem sabe voltar ao passado de lembranças e saudades.

    Aguardamos os proximos - "Meninos Lenheiros". Eles existiram, deram sua comtribuição e precisam ser resgatados.

    Antonio Morais.

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    Respostas
    1. Parabéns! Lourdes.
      Aqui quem parabeniza é a sua tia muito orgulhosa.

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    2. Parabéns! Lourdes.
      Aqui quem parabeniza é a sua tia muito orgulhosa.

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  2. Muito bom! Não sabia dessa fase na história dos que vieram antes de nós. Vamos aguardar mais, parece com a história dos botadores de água, se não me engano o Dr. Iran era um deles, sendo que a lenha não resta nem dúvida que era um serviço pesado e desgastante.

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  3. Como era difícil e sofrida a vida daquela gente!

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  4. Prezado amigo Robson.

    Antonio Alves de Morais, o conhecido Antonio Alves, encontrava no comercio de lenha uma de suas rendas. Filho de Ana Feitosa Bitu, a conhecida Mãe Doar, e primos dos Bitus todos.

    Ele tinha uma jumentinha chamada "panqueca" e diariamente Panqueca dava a direção da roça. Um dia para o picoroto, outro dia para boagua ou o Inharé.

    Depois vou fazer uma postagem com uma bela historia de "Lenha, Antonio Alves e Panqueca".

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  5. Muito bom o texto da minha tia, LOURDES DE MORAIS CÉZAR , assim como a linguagem utilizada pela mesma...bem retratada a dura vida do sertanejo, a qual,em alguns locais,ainda é sofrida deste modo (:

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  6. maria Clara.

    Seja benvinda. O seu comentario é de grande importancia. A Lourdes descreve com muita propriedade, com as mesmas palavras e modos de falar, os costumes de nossa gente. Os costumes de antanho.

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  7. Ta aí um ofício que vi muitos meninos realizando.Os favores prestados ao Pai que eram preciso ser pago pleas cargas de lenha que por vezes nem entravam na Rua se viessem do lado do Roçado de dentro ficavam logo ali na entrada da cidade no B. Varjota. Outro que era feito por meninos montados era a entrega de leite em Baldes. outro que também acabou. Geralmente quando dava eles voltavam chupando um delicioso dindin de morango.

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  8. Menino lenheiro...ou "CAMBITEIRO"...seria esse também um título apropriado.

    O problema maior da "deitada" do jumento era a quebra do cambito...e como naqueles tempos ninguem carregava um "cambito estepe", perdia-se um tempo "medonho" para se reorganizar a carga...

    Mas o jumento, como animal inteligente que é, pensava duas vezes antes de deitar, vez que o mininu, então "ensinado" por LUIZ GONZAGA, já sabia como proceder caso o danado deitasse: um foguinho por di baixo da rabichola.

    Mas voltando ao MENINO LENHEIRO, tratava-se, ou trata-se, de TRABALHO INFANTIL, DESGASTANTE, DEGRADANTE, SEMI-ESCRAVIZANTE E HUMILHANTE, vez que invariavelmente "toda" essa lenha era extraída de terras de terceiros, dos CORONÉIS, que quando não HUMILHAVAM o lenhador e os botava prá correr, cobravam do fariseu, pelo menos, 50% da carga...

    Tratavam-se (ou tratam-se) o minino, seus irmãos e pais de POBRES E "F - - - - - -" TRABALHADORES RURAIS: SEM TERRA, SEM LENHA, SEM COMIDA E QUASE SEM ESPERANÇA.

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