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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 26 de abril de 2013

Uma prosa - Por Claude Bloc

Outras palavras

(Claude Bloc)



A cidade vibra, efervesce, canta e cantamos junto, pois se a gente se fecha, as palavras ficam murchas e vão secando e descendo pelas paredes, pelos vãos, perdendo-se no abstrato da nossa existência. Depois, batem bruscas nas janelas e de encontro a elas para depois se desfazerem em silêncios de pó!


São momentos. E meu sonho interior é assim: agreste e quieto e tenta varrer para longe esse pó que sufoca a cidade e que assola os pensamentos soltos.


Por isso, arrumo tudo num cantinho, sopro as lembranças e pouco a pouco se enche de alegria esse deserto interior que a cidade não mostra.


Sinto, então, que tenho que dar vida às palavras. A essa inquietação que começa a tomar conta de mim. A essas palavras serenas e adormecidas, montinhos de quase pó, prestes a se desfazerem para começarem a ganhar vida.


E as palavras começam a ficar viçosas e a andar novamente pela calçada, pelo pensamento. Toco-as, sinto-as e ficamos a sós. A essa altura tudo em volta deixa de existir. Estamos ali: somente eu e as palavras. Eu a cuidar delas, a regá-las, a embelezá-las, tentando fazer a mistura certa, nas proporções certas. Pensamento me fazendo cócegas nos dedos, palavras escorregando pelo gargalo da caneta, pela franqueza do lápis e colorindo o branco da página.


Finalmente as palavras eclodem. A aridez que varria o interior da cidade transforma-se num riacho fresco e fértil. Sumiu o silêncio. Em frente ao azul da chapada os “soldadinhos”. Misturo-me com eles, eu e as palavras, e nos sentamos no risco que desenharam no ar. Balançamos as pernas de um lado para o outro como crianças felizes, contemplando o vale. Damos as mãos e começamos a sorrir. Os pássaros passam voando e sorriem para nós: as palavras e eu.

7 comentários:

  1. Parabens Claude.

    Voce demorou um pouco, mas a volta foi 10 pela foto e pelo texto.

    Obrigado.

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  2. estudei no colegio diocesano do crato e minha professsora de françes era claude bloc boris, gostaria de saber se e a mesma pessoa.Aprendi a gostar do idioma por causa dessa professora,ate hoje,musicas, filmes e tudo que se relacione com a frança eu gosto.Adoro suas cronicas,pois acesso diariamente esse blog,inclusive ontem fui homenageado por meu amigo A Morais.

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  3. Caro Danubio.

    Certamente a Claude passará por aqui para confirmar.

    Abraços.

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  4. Morais, minha vida anda que nem lançadeira: pra lá e pra cá... Sobral-Fortaleza-Crato... Por isso ando demorando um pouco a postar, inclusive no Cariricaturas...

    Mas o amigos do Sanharol estão bem guardadinhos no meu coração...

    Abraço,

    Claude

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  5. Danubio

    Meu nome ainda e novamente é Claude Bloc Boris.

    Fui professora de Francês no Diocesano com apenas 15 anos de idade. Era dispensada das aulas de Inglês com Monsenhor Montenegro e seguia o exemplo dos mestres ensinando o que eu sabia bem.
    Fico contente em saber que minhas aulas lhe foram úteis e mais contente ainda que goste do que escrevo.

    Um abraço...

    Claude

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  6. Claude,muito obrigada, por nos mostrar sua alma sempre em festa e pelas belas fotografias que tão generosamente nos presenteias. Abraço Carinho e fraterno. Fatima Bezerra.

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  7. Como é bom começar o dia lendo um texto tão bonito! Tocou a minha alma. Parabéns Claude! e que venham muitos outros.
    Bom dia a todos.

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