Eu estava conversando
Com o meu primo Nonato,
Num papo muito sensato
Lá na loja Zabumbando.
De repente vi chegando
Cláudio Souza com um tição,
Amarrado de cordão
Parecendo a Besta Fera.
Diz aí! Que o bicho era
Joãozinho de Damião.
O boneco já chegou
Com aquela presepada,
Não gostei da palhaçada
Nem o meu primo gostou.
Quando o bicho encostou
Eu disse: - Ninguém merece!
Tudo comigo acontece,
Confusão chega é de ruma.
Eu não posso tomar uma
Que essa coisa aparece.
O boneco reagiu
Me chamando pra porrada,
Tacou o pé da calçada
Disse: - Puta que o pariu.
Mundim do Vale fugiu
Do Instituto Penal,
Já passou no Juremal
E furtou Nonato Beca.
É bem capaz da cueca
Tá lotada de real.
Mundim:
Eu não lhe dei liberdade
Para ser assim tratado,
Você é muito abusado
Todo cheio da verdade.
Mas se está com vontade
De partir pra baixaria,
Eu vou só lembrar o dia
Que tu levou uma surra,
Quando estava atrás da burra
De José de Zacaria.
Joãozinho:
Era só o que faltava
Tu querer entrar na linha,
Quando pro Vale tu vinha
Eu no Vale já estava.
Se lembra que eu dançava
No forró de Zé Pereira
Com uma cabocla faceira
Que chega suava a tanga?
E tu fazendo munganga
Com Zé de Lula Goteira.
Mundim:
Não diga isso Joãozinho
Que isso nunca aconteceu,
Tenho no propósito meu
Não gostar de burburinho.
Eu faço tudo sozinho
Sem boneco e nem palhaço,
E quando sozinho eu faço
Respondo pelo que fiz.
Já você só é feliz
Se andar com João Sem Braço.
Joãozinho:
Cláudio Souza fez questão
Pra eu vir aqui com ele
Mas tem cada amigo dele
Que não merece atenção.
Não vale mais que um tostão
É igual papel queimado
E eu já fui convidado
Na posição de boneco,
Pra tocar no reco-reco
Na escola do Roçado.
Mundim:
Eu também fui convidado
Por Nonato e por Vicente,
Para a comissão de frente
Da escola do Roçado.
Mas lá eu sou respeitado
Como foi o Mestre Tim.
Se falar em Raimundim
A escola fica vibrando.
E eu vou no meio tocando
Agogô e tamborim.
Joãozinho:
Apois eu não vou mas não
Que eu sou individualista,
Sou boneco muito artista
Pra ficar perto de anão.
O cigarro em tua mão
Diz muito bem quem tu é,
Cachaceiro da ralé
Vadío, doido e fumante,
Inda tem a agravante
Da catinga de xulé.
Mundim:
Não há ninguém que aguente
Esse bicho desumano,
Rouba mais do que cigano
Mente mais que presidente.
Essa figura de gente
Nunca fez calo na mão,
É homicida e ladrão
Vive direto na pêia.
Vai já voltar pra cadêia
No Ronda do Quarteirão.
Joãozinho:
Mundim deixe de besteira
Que eu sou um boneco quente,
Vou desfilar bem na frente
E você vai na rabeira.
Fique com Sávio Teixeira
Dois poetas do fracasso,
Dançando no embaraço
Todo tempo reclamando.
E eu só arrodeando
Minha gata num abraço.
Mundim:
Boneco eu vou lhe falar
Sua gata tá maluca,
É mesmo lelé da cuca
Quem procura sem achar.
Mas se ela quiser ficar
Com um macho que se garante,
Levo ela pra vazante
Para fazer um fuxico.
Depois eu corro pro Chico
Para livrar o flagrante.
Joãozinho:
Não sou Joãozinho Prefeito
Sou o Boneco Joãozinho,
Eu faço tudo sozinho
Porque sei fazer bem feito.
Você não tem o direito
De querer tirar um sarro.
Acabe com esse esparro
Deixe de falar de mim.
Porque pra falar assim
Tem que deixar o cigarro.
Mundim:
Joãozinho eu sou viciado
Mas não é da sua conta,
De boneco que apronta
Eu não preciso cuidado.
Sei que estou adoentado
Sei que o bicho me faz mal,
Mas só vou pro hospital
Quando tiver só o caco.
Não vou deixar o tabaco
Nem que ele cheire mal.
Joãozinho:
Sou boneco folião
Sou Joãozinho da folia,
Eu carrego essa alegria
Do tempo de Damião.
Não quero entrar em questão
Com quem gosta de teimar,
Mas você vai se calar
Ou que queira, ou que não queira.
Porque vai ver terça feira
O boneco desfilar.
Mundim:
Tu disse que é folião
Mas só se for de curral,
Para dançar carnaval
Tem que ter os pés no chão.
Em me lembro do São João
Lá do Maria Afonsina,
Que tu levou a menina
Mas foi grande o escandêlo.
Tu fez muito desmantelo
E dançou na margarina
Joãozinho:
Você não tem argumento
Pra terminar esse embate,
É melhor deixar empate
E esquecer o evento.
Vou lhe dar essa abertura
Pra numa teima futura
Você saber como entrar.
E sabendo respeitar
O boneco da cultura.
Mundim:
Joãozinho você merece
O que Luzia ganhou.
O que o gato enterrou
E o que padrasto oferece.
Eu sei que você esquece
Sua família real,
Dançando no carnaval
Dando uma de bichão.
Mas lembre que Damião
Foi o seu pai natural.
"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".
Dom Helder Câmara
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Belíssimo trabalho.
ResponderExcluirParabéns Mundim do Vale!
Dissestes tudo! Minha intenção aqui é aprender!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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