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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


domingo, 20 de maio de 2012

EITA SUMPALO MEDÕE! Por Mundim do Vale

Reprisado para Carla Meneses e Danúbio Primo
Todas às vezes que os nossos conterrâneo vinham de São Paulo para passarem férias em Várzea Alegre, Assis de Pacim não saía de perto deles. Aquelas gírias, as vestimentas e os objetos que eles traziam, deixava Assis mais admirado do que cachorro em porta de açougue. Assis só falava em viajar para São Paulo, para vir passar as férias na cidade.
Conversando com amigos ele dizia:
- Eu tem fé im meu Padim Ciço Romão, qui eu ainda ei de ir pra Sumpalo. E tem mais uma. Quando eu vortar vou trazer meia dúzia de misampri pra Gulora minha prima, um relojo oriento pra pai, um cachimbo novo pra mãe, um sapato cavalo de aço pra Enoque, uma camisa banlon pra Paulo meu primo e um gravador pra eu. O assunto de Assis era só viajar pra São Paulo, mas nada de dar certo.
Luís Justino e Luís Clementino estavam carregando os caminhões de lã de algodão na Usina Diniz, para transportar até Campina Grande na Paraíba, quando lembraram de fazer uma brincadeira com Assis.
Mandaram chamá-lo e Luís Justino falou:
- Assis nós vamos deixar essa lã em São Paulo, se você quiser ir com a gente, pode ir se arrumar que nós não vamos cobrar nada. Assis ficou mais satisfeito do que menino amorcegado em bigu de carroça.
Chegou em casa e falou para a mãe:
- A bença mãe! Ajeite aí meus terém qui eu vou agora mermo pra Sumpalo, diga a pai qui eu deixei a bença e qui assim qui eu puder vou mandar uma naváia nova pra ele.
Saíram por volta das oito horas da manhã, quando foi as sete da noite, estavam chegando em campina. Quando avistaram o clarão da cidade Luís Justino falou:
- Pronto Assis, estamos chegando em São Paulo.
Assis olhou admirado e falou:
- Eita Sumpalo medõe de grande!
Chegaram na cidade e foram direto para os armazéns da rua Manoel Pereira de Araújo, onde os carros ficaram para serem descarregados. Como já era noite resolveram descansar para no dia seguinte mostrar a cidade a Assis.
No outro dia pela manhã eles saíram mostrando tudo. Assis estava muito mais curioso do que mulher que transporta bilhete. Mostraram a Avenida João Pessoa, a Rádio Borburema, o colégio Alfredo Dantas, a Praça da bandeira, a rodoviária, o trem e o cinema. Tudo era como um sonho para Assis.
Depois do almoço os carros já estavam carregados com tecidos para o comércio de várzea Alegre, Quando Luís Justino falou:
- Assis. Eu me lembrei de uma coisa muito importante. Tu trouxe os teus documentos?
- Não. Eu truve só o papé do batistero.
- Pois nós vamos embora logo agora, porque se a ronda da Bacural te pega sem documento, vai te prender e não solta nunca mais.
Luís viu que Assis estava mais triste do que filho de viúva pobre, aí falou:
- Mas não tem problema não. Você vai providenciar seus documentos e na outra viajem você vem pra ficar.
Chegaram em Várzea Alegre no amanhecer do dia e Assis foi direto pra calçada da capela de Santo Antônio, onde estavam alguns vizinhos.
Quando subiu a calçada foi logo dizendo:
- Eita Cuma eu tou cansado. Sumpalo é munto longe.
Zé Preto perguntou:
- E aí Assis. É bom im Sumpalo?
- É bom qui faz inté gosto. A vinida João Pessoa é mais laiga do que a rua do Imboque, o otel Eldorado é munto mais maior do que a pensão de Leontina, O cinema de lá cabe dez Cine Odeon desses daqui dento dele, o trem é mais maior do que o carro de Miguel Mandinga.
E cadê os presente qui tu dixe qui ia trazer?
- Deu certo não. Lá tem munta coisa, mais tudo já tem dono. Pode inté ser qui qando eu for de novo eu traga.

2 comentários:

  1. Mundim.

    Essa sua historia deve ser reprisada mil vezes. Por vários motivos, principalmente por este:

    "Quando eu vortar vou trazer meia dúzia de misampri pra Gulora minha prima, um relojo oriento pra pai, um cachimbo novo pra mãe, um sapato cavalo de aço pra Enoque, uma camisa banlon pra Paulo meu primo e um gravador pra eu".

    Parabens pela memoria prodigiosa.

    Abraços.

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  2. Agradeço a consideração de todos que fazem esse blog pois meu nome está sempre sendo lembrado,isso demonstra a amizade que todos demonstram por minha pessoa.Esse episódio é ótimo,dei boas gargalhadas,o que eu mais gosto é o linguajar matuto genuíno do nosso povo.Essa frase que o amigo Antonio Morais citou no seu comentário retrata com fidelidade o povo do Iputí,Varas,Charneca,Fantasma,Rubão,Vacarias,e todas as localidades que jamais perderam essa autenticidade cultural do nosso povo.Bom domingo para todos.

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