Páginas


"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O ESPÍRITO DA "COISA" - Por Vicente Almeida

Hoje amanheci com vontade de mostrar as "coisas" que já aprendi. Por isto vamos falar de uma “COISA” diferente e instigante.

Antecipo que não se trata de uma aula de Português, História ou Geografia, embora pareça.

Se você for observador, já percebeu que o termo "COISA" está entrelaçado em nossa linguagem sendo infinitas as situações em que é utilizada. A orígem desta palavra remonta ao início dos tempos.

Em nossa gramática, a palavra "
coisa" funciona como o Bombril do idioma português tem mil e uma utilidades. É aquela palavra-chave, a qual a gente recorre sempre que nos faltam outras expressões para exprimir uma ideia. hora é substantivo, hora advérbio ou adjetivo. Numa hora é masculino, em outra é feminino.

Às vezes funciona até como verbo, segundo o Dicionário Houaiss que registra a forma "coisificar". Mas o “Aurélio” registra “coisas” como sinônimo de órgãos genitais.
“Coisa” às vezes é um termo depreciativo levando o ser a insignificância absoluta na boca dos exagerados,
"coisa" nenhuma" vira "coisíssima alguma".

No Nordeste brasileiro podemos identificar em uma única frase, várias situações gramaticais de
"coisa": "Ô seu "coisinha", você já "coisou" aquela "coisa" que eu mandei você "coisar?". 

O Nordestino também identifica “coisas” como órgãos genitais. Assim descreve o Paraibano José Lins do Rego em seu romance “Riacho Doce” “E deixava-se possuir pelo amante, que lhe beijava os pés, "as coisas", os seios...”.

Na Paraíba e em Pernambuco, "coisa" é também identificação de cigarro de maconha. Em Olinda há o bloco carnavalesco mirim denominado: “Segura a "Coisinha”.

CURIOSIDADE:
Em Minas Gerais, todas as
"coisas" são chamadas de trem. Menos o trem, que lá é chamado de "a coisa". Quer ver? A mãe está com a filha na estação, o trem se aproxima e ela diz: "Minha filha, pega os trem que lá vem “a coisa”!

Em São Paulo temos Silvio Santos e o seu o Show de Calouros: Coisa Nossa”.
 

Coisa não tem sexo: pode ser masculino ou feminino. "Coisa"-ruim é o capeta. Segundo os homens, "coisa" boa é uma bela e elegante mulher como a...

No cinema e em quadrinhos temos “O Coisa” do Quarteto Fantástico, que é um ser esquisito e todo rachado, formado de pedaços de qualquer
"coisa". Seu corpo é semelhante às margens de um rio ou açude ressecados, é ainda parecido com o solo do sertão esturricado no Nordeste Brasileiro.

A MPB é um mundo recheada de "coisas":

A
"coisa", No II Festival da Música Popular Brasileira, no Teatro Record, em 1966, estava na letra das duas vencedoras: Disparada, - de Geraldo Vandré, interpretada por Jair Rodrigues -"Prepare seu coração / Pras "coisas" que eu vou contar", e A Banda, de Chico Buarque -"Pra ver a banda passar / Cantando "coisas" de amor".

Para Maria Bethânia, o diminutivo de "coisa" é uma questão de quantidade, afinal: "são tantas "coisinhas" miúdas". 

para Beth Carvalho, é de carinho e intensidade "Ô "coisinha" tão bonitinha do pai".


Em garota de Ipanema, "coisa" vira gente: "Olha que "coisa" mais linda, mais cheia de graça." "Mas se ela voltar, se ela volta / Que "coisa" linda / Que "coisa" louca." São "coisas" de Jobim e de Vinicius, que sabiam muito bem das "coisas".

Na literatura universal, a
"coisa" é "coisa" antiga, e vem de longe, de além-fronteiras, do tempo dos hebreus, lá no começo da história.

Oswald de Andrade escreveu a crônica "O Coisa" em 1943.
O escritor norte-americano Stephen Edwin King escreveu o romance “A Coisa”.
A francesa Simone de Beauvoir, em seu terceiro livro de memórias escreveu "A Força das "Coisas"".
Michel Foucault, filósofo francês escreveu "As Palavras e as "Coisas".

Dizemos que o indivíduo é cheio de "coisas", quando é chato e cheio de não-me-toques. Dizem tambem: Gente fina é outra "coisa".

Para o pobre, a "coisa" está sempre preta ou feia: O pão cai, e cai com a manteiga pra baixo, e na terra.

Para uns o indivíduo pode ser: "Coisa" à toa ou qualquer "coisa". Por isto em represália feroz a esse estado de "coisas", Carlos Drummond de Andrade fez uma severa crítica no poema "Eu, Etiqueta", finalizando com: Meu novo nome é "coisa". Eu sou a "coisa", "coisamente".

Se as pessoas foram feitas para ser amadas e as "coisas", para ser usadas, por que então nós amamos tanto as
"coisas" e usamos tanto as pessoas?

Dizem: Bote uma
"coisa" na sua cabeça - As melhores "coisas" da vida, são "coisas" que o dinheiro não compra.

Esse papo já tá qualquer
"coisa" pirado. Vou parar por aqui, se não, você não conseguirá raciocinar o sentido das "coisas" que falei.

Vamos, pois, colocar cada
"coisa" no seu devido lugar. Uma "coisa" de cada vez é claro.

A bem da verdade, e não me xingue por isto, foi Deus quem no princípio implantou esse termo: "COISA", ao estabelecer no primeiro e grande Mandamento: "Amarás ao Senhor teu Deus sobre todas as "COISAS".

Será que você conseguiu entender como começou o espírito da "coisa"?
 

******************************************
Você poderá até dizer: Mas que besteira essa do Vicente Almeida! ele não disse "coisa" com "coisa".

Bom, eu tentei explicar as "coisas" partindo de uma situação que vivi na minha juventude, quando o meu futuro sogro me pôs o alcunho de "O COISA".

FOI ASSIM: Quando eu namorava com a minha Valdênia, o seu pai não queria nem saber do nosso namoro, e naquele tempo 1.968, eu possuía um motocicleta Jawa. Eles moravam no Sítio Pai Mané, Distrito de Ponta da Serra, e eu na cidade do Crato, distante uns oito quilômetros.

Como nosso amor era intenso, e continúa mesmo após 43 anos, ia visitá-la umas três ou mais vezes por semana, ele ficava invocado e não queria nem saber. Para chegar a casa dela precisava subir morros e descer ladeiras carroçáveis. O motocicleta fazia muito barulho, que era ouvido à longa distancia.

Assim, quando meu futuro sogro escutava o roncar do motor, coisa rara por aquelas bandas, não falava meu nome, simplesmente dizia: “O COISA" já vem aculá. Fiquei sabendo dessas "coisas" por meus informantes mirins e futuros cunhados.
 
******************************************
SE você leu até aqui e cansou relaxe e ouça, mas: "Cuidado com as "coisas"":


Escrito por Vicente Almeida
26/05/2012

2 comentários:

  1. Ei, Vicente, taí uma coisa que eu gosto, musica que fala de coisas e mais coisas, rsrs. abraço. Fatima Bezerra.

    ResponderExcluir
  2. Meu amigo Vicente Almeida, super interessante como agente convive com as coisas, e as vezes não vê as coisas. Ô coisa braba.
    Abraço,
    Carlos Airton

    ResponderExcluir