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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 25 de abril de 2015

CONTOS DE VARZEA-ALEGRE - POR PROFESSOR ANTONIO DANTAS


Meu Avô

Eu adorava meu avô paterno, Rafael Ferreira Lima porque, quando eu precisava de um peão, ele fabricava um com uma perfeição incrível. Ele ficou viúvo quando meu pai tinha 3 anos de idade. O luto demorou muito e ele não se conteve até que arranjou outra mulher. Nesse meio tempo, meu pai não teve chance, ficou vagando a mercê das irmãs mais velhas que já eram casadas. Meu avô, tinha começado a beber para controlar as saudades de Ana, minha avó. O problema é que ele bebia pra esquecer, mas o álcool jamais esqueceu dele. Mesmo depois que se casou, com Rosena, continuou bebendo até o fim da vida. 

Meu avo, reconhecia o perigo da bebida. Ela provocava descontrole físico e emocional. Lembro-me de que quando ele não tinha dinheiro e passava la pela bodega do meu pai pra tomar uma de graça, e dizia pra mim –  menino não pode tomar não que fica mole. Para evitar a vergonha da queda, assim que sentia o efeito do álcool, caía numa rede e só se levantava quando sóbrio. O que ele nunca imaginou foi que a queda dos sóbrios também podem ser fatal, especialmente numa idade avançada. Mas ele não parava de andar enquanto podia. Fisicamente, parecia frágil, mas enquanto bebia e nunca teve uma doença se quer e nunca caiu. 

Faleceu aos 88 anos de idade por causa de uma infecção que contraiu de uma queda quando estava sóbrio. Ele era controlado, assim que sentia o efeito do álcool deitava numa rede dormia até ficar sóbrio. A sobriedade, depois de um porre, reativava a mente. Aqueles eram os melhores momentos da vida; ele ficava de bom humor, altivo e brincalhão. 

Ainda durante a II guerra mundial, os missionários americanos começaram a visitar o baixio, com as pregações protestantes. Trouxeram um alto falante para badalar em voz alta as palavras de salvação pelos vales e serrotes do Baixio. Todos tinham que ouvir “a palavra de Deus” de qualquer jeito. Lembro-me de um dia quando a pregação fora sobre a bondade divina para aqueles que contribuíam para espalhar o evangelho.

Numa pregação animada, o pastor, para provar que Deus era bondoso, deu exemplo. Explicou que João Rockfeller contribuiu tanto para igreja que ficou rico e deixou uma fortuna para os filhos distribuírem para os pobres. A benção foi tão grande que a fortuna continuou aumentando sem parar. Meu avô, que tinha acordado do porre costumeiro, não titubeou e disse – isso é porque eles nunca passaram lá em casa!

Um comentário:

  1. Prezado Antonio Dantas.

    É prazeroso ler historias dos nossos antepassados. Estamos agradecidos por sua valiosa contribuição com o Blog. Estamos orgulhosos de ajuntar neste canto e guardar sem perigo da traça destruir essas memorias. Qual neto não as tem? Qual neto não ouviu do avô conselhos e orientações? Eu mesmo sou apaixonado pela historia de familia. Embora saiba que poucas pessoas se interessam, hoje em dia.

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