Pode ser que os grandes momentos voltem. Mas a verdade é que a infalibilidade de Lula corre sério risco de deterioração. A soberba misturada com a arrogância, que a sabedoria grega chamava de húbris, incomoda os deuses, que costumam castigá-la com lições de humildade. As lições mais contundentes estão vindo do julgamento do mensalão, uma anomalia ética que o ex-presidente reconheceu com humildade num primeiro momento, chegando a pedir perdão por ela, e que depois renegou tentando dar-lhe o tratamento de uma invencionice “golpista” de uma suposta elite, que na verdade nunca deixou de bajulá-lo e adulá-lo sem nenhum pudor.
A posição firme da sólida maioria dos juízes do Supremo, com a notável exceção, até aqui, dos ministros Lewandowski e Toffoli, não deixa nenhuma dúvida não só sobre a independência do Poder Judiciário, como também da materialidade das ações criminosas detalhadas na denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República.
O patrimônio moral que o PT tentou construir desde a fase de sua fundação, vai ficando cada vez mais seriamente danificado com as sucessivas condenações que a Suprema Corte vem impondo aos envolvidos no esquema de corrupção ativa e passiva que forma o processo do mensalão. Mas a mitologia construída em torno da suposta genialidade política do ex-presidente não está sendo desgastada apenas pelo andamento do processo do mensalão.
Às vésperas das eleições municipais, delineiam-se pelo menos três cenários onde a participação pessoal ativa do ex-presidente gerou, pelo menos até este momento, a possibilidade da construção de três desastres eleitorais: A insistência na candidatura a prefeito de São Paulo do ex-ministro da Educação Fernando Haddad, em detrimento da senadora Marta Suplicy, candidata natural ao cargo que já ocupou e detentora do apoio inequívoco da maioria do partido para a disputa.
A ruptura da aliança histórica com o PSDB de Aécio Neves e o PSB mineiro em torno do prefeito Márcio Lacerda, desprezando uma reeleição quase certa para lançar a candidatura própria de Patrus Ananias.
A imposição ao PT de Recife da candidatura do ex-ministro Humberto Costa em lugar do atual prefeito João da Costa, candidato natural à reeleição, provocando um racha no partido e a consequente ruptura da aliança com o PSB de Eduardo Campos.
Os três candidatos impostos pelo diktat de Lula amargam maus prognósticos nas pesquisas eleitorais e têm escassas chances de vitória. O estrategista infalível perdeu a mão? O rei Midas não consegue mais transformar tudo o que toca em ouro?
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