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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 26 de março de 2019

019 - O Crato de Antigamente - Por Ronald Brito.


Belchior Araújo, foi um iguatuense de família tradicional e abastada, que desviou-se da orientação familiar e quando em idade adulta passou a dar trabalho ás autoridades  de segurança.

Pelos conceitos policiais ele não era tão valente como se dizia, mas quando bebia criava confusões e não respondia pelos seus atos. Conta-se que quando estava melado e chegava num samba, saia tomando adereços de homens e mulheres, embora, as vezes, no dia seguinte mandasse entregá-los aos donos. 

Segundo os do seu tempo, uma vez ele chegou num forró na localidade de Mata Fresca e saiu tomando óculos, cordões, relógios da matutada presente, até que chegando num jovem moreno, a conversa foi diferente: 

Pare aí doutor, este relógio eu comprei com o meu dinheiro e não vou lhe entregar. E ele olhando bem dentro dos olhos do matuto falou: Até que enfim encontrei um homem disposto.

A partir daquela noite o rapaz ficou conhecido como Raimundo Mata Fresca e passou a ser o lugar temente do arruaceiro.

Belchior, continuou assombrando os sambas e as viagens de trem que subia para Fortaleza  ou desciam para o Cariri. No dia em que resolveu ir de carro para o Crato, o veiculo deu prego nas proximidades de Barbalha. Nisso, passa um cidadão barbalhense de Jeep e como este não concordou em ceder seu transporte para Belchior terminar sua viagem, levou um grande tapa na cara.

Recompondo-se o cidadão foi até a cidade e acionou a policia que saiu na direção da estrada para prender o agressor. Quando chegaram ao local não mais o encontraram, então saíram em perseguição. Quando chegaram no São José, avistaram novamente o veiculo parado em uma elevação próxima, mas não fizeram abordagem porque foram recebidos a bala. A patrulha respondeu a agressão com tiros de fuzil e Belchior foi atingido por um deles. Depois que identificaram o morto, o Cariri viveu dias de agitação.

Conforme tradição do sertão, no lugar onde morre um cristão uma cruz deve ser colocada, e ali erigiram uma. A moçada evoluída  do Crato, descobriu que aquele outeiro era muito tranquilo e as luzes da cidade não ofuscavam o céu estrelado, então passaram a usá-lo para encontros amorosos noturnos. 

Não demorou muito para que os empresários observadores construíssem vários motéis na circunvizinhança o que acabou definitivamente com o ponto turístico cratense, que por alguns anos foi chamado de " A Cruz de Belchior ".

Um comentário:

  1. Todo cratense com cinco ou seis décadas nos costados conhece a história do Belchior Araujo. E a Cruz.

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