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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 26 de janeiro de 2013

CAUSO LÁ DE NÓS. Por Mundim do Vale.


BANHO  DE  GATO.

Certa vez, Antônio de Valdivina foi passar um domingo na casa da sua tia Isaura no sítio Vazante. Lá chegando encontrou meus primos Cascudo e Ildefonso. Antônio conversou um pouco por ali e em seguida pegou a espingarda Pó de Cupim e falou:
- Tia Isaura. Eu vou dar uma volta ali no fim da manga pra ver se acho alguma caça para fazer a mistura.
Cascudo disse:
- Nóis ramo tombém !
- Tá certo, mas tem que ser em silêncio.
Desceram os três, quando chegaram na margem do Riacho do Machado Antônio agachou-se para surpreender uma cordoniz que tinha numa moita de mofumbo. Quando preparou o tiro cascudo gritou:
- Ei Ontõe ! Onde é qui fica o fim do mundo?
A caça fugiu e Antônio respondeu zangado:
- Eu sei lá Cascudo. Você tá me atrapalhando.
- Apois eu sei. É do ôto lado do cumêço.
Mas na frente Antônio  preparou-se para atirar num casal de rolinhas que estava num galho de moquém.
Cascudo gritou novamente:
- Ei Ontõe ! O qui é qui eu tem, qui Deus num tem?
- É Ruindade.
- É não, é pecado.
Quando passavam no cacimbão de Raimundo Beca, Antônio viu o gato de Raimundo e teve a sinistra ideia de ocupar os garotos:
- Vocês tão vendo aquele gato? Pois ele é o xodó de Raimundo Beca. Raimundo quer mais bem a esse gato do que a Benedito filho dele. Nós vamos fazer o seguinte: Eu vou botar uma armadilha na boca do cacimbão pra ele cair dentro. Vão atrás  de capim que eu vou matar uma lagartixa para servir de isca. Quando o gato subir vai cair no cacimbão. Fizeram uma  base de capim e colocaram a isca, mas Antônio sabia que o gato não caia. Depois da arrumação Antônio falou:
- Agora vamos fazer disso: - Eu vou tomar um café na casa de tia Isaura e vocês vão ficar atrás daquela moita, quando o gato cair, vocês vã me avisar.
Antônio subiu e foi jogar sueca com Paulo Piau, mas quando foi com trinta minutos, os garotos chegaram mais cansados do que tirador de coco no inverno. Cascudo partiu  na frente todo azunhado e foi logo gritando:
- Ei Ontõe ! A sua armadilha num teve sirvintia não. O infiliz do gato passou pra lá e pra cá mais num subiu. Foi o jeito eu me abufelar cum ele pra jogar dento do cacimbão.
- E você jogou ele dentro do cacimbão?
- Num era pra jogar? Eu joguei. Mais ele num quiria não, repare o sirviço qui ele fez neu.

Um comentário:

  1. Prezado Mundim do Vale.

    Este causo é um primor, especialmente para quem conheceu os personagens como eu.

    Você descreve com uma perfeição divina. Agora meu amigo: se Raimundo Beca apanha Cascudo fazendo essa malinação, ia ser pior do que o gato.
    Abraços.




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