VAI PERDER UM CHORADOR
Meu parente Antônio Inácio, ainda menino morava com os seus pais no sítio Serrote. Certo dia morreu um parente lá no mesmo sítio e quando foi por volta das 15 horas passou um portador avisando do velório para a família. O casal se preparava para ir quando o garoto Falou:
- Mãe deixa ei ir tombém pra sentinela. ( Naquele tempo era assim que chamavam velório )
- Não meu filho sentinela não é coisa pra criança.
- Mais eu quero mãe. Deixa mãe, deixa!
- Pois tá certo você vai. mas primeiro vá jantar que o de comer já tá pronto.
- Não mãe deixe pra volta, pruque nas sentinela sempre tem um quebra jejum.
Seguiram os três quando chegaram na casa do falecido o casal ficou dando os pêsames aos familiares e Antônio entrou logo na sala, onde o corpo estava sendo velado numa rede. O menino agarrou-se nas varandas e se danou a chorar. Chorava muito mais do que Madalena, quando Zé Vicente viajou pra trabalhar numa frente de serviço do DNOCS.
Por volta das 21 horas passaram uma mulheres servindo chá e café com cuscuz. Antônio aumentava o volume do choro toda as vezes que as mulheres passavam por perto dele, mas nada de ser servido. Naquele velório criança não tinha vez.
Quando o garoto notou que não seria servido, largou as varandas da rede, saiu soluçando em procura da mãe e falou:
- Mãe! Esse defunto vai perder um chorador! Eu vou pra casa pruque num tou apariado a passar a noite chorando sem comer nada não. Se eu ficar aqui é capaz de botarem eu junto cum o falicido.
- Pois vá meu filho. Eu deixei um prato de arroz dentro da gaveta do armário da cozinha.
Antônio chegou em casa mais abatido do que Judas de favela. Acendeu uma lamparina, que pouco iluminou, porque o gás estava acabando. Quando abril a gavetas viu uns pontos dourados sobre o prato e aí pensou com ele mesmo:
- Mãe tava era cum brincadeira cum eu. Ela dixe qui era só arroz branco, mais butou toicim torrado tombem. Se eu subesse disso num tinha ido chorar tanto.
Quando Antônio bateu com a colher no prato os toucinhos saíram todos correndo dentro da gaveta. Ele aproximou a luz mais um pouco, aí foi quando notou que eram baratas.
Prezado Primo Mundim.
ResponderExcluirVi e ouvir Antonio Inácio contar essa historia mais de uma vez. O morto era João Bitu, filho de Antonio Bitu e Madalena do Serrote.
Segundo Antonio Inácio ele fazia parceria no choro com Doca Bitu, irmão do morto. Quando deram caldo ao Doca e não lhe deram, perderam o chorador. Antonio foi embora pra casa.