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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 18 de junho de 2013

DO TEMPO DO BUMBA - Por Mundim do Vale.

BARRÃO  TEIMOSO.

Esse causo aconteceu no ano de 1955, no sítio Vazante em Várzea Alegre – Ceará. Certo dia o Sr. Raimundo Beca, chamou seu filho Benedito e falou: Benedito. Vá lá na casa de Zé Piau na Lagoa do Arroz e diga a ele que eu mandei pedir o barrão dele emprestado, para cruzar com a minha novia de porca.
Benedito pegou uma corda e disse:
- É pra já!
Chegou na casa de Zé Piau, deu o recado do pai e Zé piau disse:
- Pois não. Pode levar, mas ele vai lhe dar um certo trabalho.
O barrão não queria fazer aquela viagem, Benedito passou mais de uma hora só para conseguir amarrar a corda no mocotó do porco. Depois foi outra luta para chegar até a estrada. Vocês sabem como são os porcos, eles andam dez metros para a frente e vinte para trás.
Benedito chegou na cerca, passou primeiro o porco, depois ficou tentando passar, foi quando o bicho deu uma arrancada. O condutor caiu por cima de umas raízes de oiticica, o barrão aproveitou e ganhou o mundo em direção do baixío de João do Sapo. Saiu o porco gritando na frente e Benedito gritando atrás. Felizmente tinha um pessoal limpando arroz e fizeram uma barreira humana para imobilizar o porco. Benedito agradeceu e voltou com o porco para a estrada. Suviu a ladeira de Cirilo com muito trabalho, mas quando chegou na cancela de Zé Vicente, o barrão escapou novamente e partiu na direção do Ronca. O barulho dos dois era tão grande que todo o pessoal da Lagoa do arroz escutou.
O porco que estava mais cansado do que Benedito, chegou no pé da serra do Gravié e não conseguiu mais correr.
Benedito chegou, botou o joelho na cabeça do porco e falou:
- Cabra teimoso. Se você subesse o qui é qui vai fazer, num pricisava deu levar na marra. Mais agora você vai nem qui num queira.
Juntou as duas patas dianteiras com uma mão e as duas trazeiras com a outra, jogou o Barrão no ombro e disse:
- Você tá pegado é cum um omi!
Saíram o porco gritando e ele cantando:
- “ Quer ir mais eu ramo,
Quer ir mais eu rambora. “
Quando passaram na casa de dona Mimosa, o barrão já ia sem o rabo e benedito sem um pedaço da orelha.
Finalmente chegaram em casa, Benedito foi subindo a calçada, quando a sua mão Maria gritou:
- Êpa! Por dentro de casa não. Podem ir pelo terreiro, que vocês dois tão muito fedorentos.
Benedito foi pelo oitão e jogou o barrão quase nos pés de Raimundo Beca. Raimundo olhou para o filho com um certo despreso e falou:
- Mas Benedito. Como é que você saiu daqui às sete horas da manhã e vem chegar às cinco da tarde. Agora não vai mais precisar do barrão não, porque você tava custando e eu mandei João pegar o de Caetano. Você volte com o porco entregue de volta e diga a Zé Piau qe eu mandei agradecer.
- Pai. Apois deixe eu tumar um bãe premêro pruque esse infiliz me cagou todim.
- Deixe pra tomar banho quando voltar, porque você vai se sujar de novo.
Benedito concordou e estirou a mão para o pai. O pai zangado falou:
- Praque essa mão. Eu não já lhe abençoei hoje?
- Já. Mais é pruque eu sei qui num vorto mais hoje.
- E não volta porque? A Lagoa do Arroz é bem alí.
- É pruque pai num intende. Poico é o bicho mais teimoso do mundo. Só que fazer o contraro. A gente quer lavar ele pru lado do nacente e ele só quer ir pru lado do poente.
- Pois você faça assim; Diga a ele que vocês vão para os grossos. Mais arribem logo daqui, que eu  não aguento mais essa catinga.

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