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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quarta-feira, 17 de julho de 2013

CASOS LÁ DE NÓS - Por Bezerra de Morais.

CADÊ  O  MEU  SOFREU.

Natércio Andrade, de saudosa memória, possuía um sofreu, que era a sua prenda preciosa. Quando Natércio chegava em casa que o sofreu ouvia a sua voz, começava a cantar com alegria, o dono do pássaro abria a porta da gaiola e ele vinha cantar no seu ombro. Não tinha nenhum negócio para o pássaro. Fizeram várias propostas milionárias, mas ele rejeitava sempre.
Uma vez Natércio viajou e Chiquim de Pedro Belo foi bater na casa dele. Foi atendido por uma senhora já idosa que era tia de Natércio. Chiquim deu bom dia e foi logo dizendo:
- Seu Nateço dixe qui mandasse o sofreu,
A ingênua senhora sem imaginar que aquele portador estava mentindo, entregou o pássaro.
Quando Natércio voltou de viajem chegou em casa logo falando alto, para o sofreu responder cantando, mas não teve a resposta. Foi até o local onde ficava a gaiola e encontrou o canto limpo. Foi até onde estava a tia e perguntou:
- Tia cadê o sofreu?
- Você não mandou o homem vir buscar?
- Que homem?
- O homem que você mandou.
- E como é o nome dele?
- Eu não perguntei, não.
- E como foi que a senhora entregou sem conhecer?
- Mas eu sei quem é ele.
– E Quem é?
- É aquele homem que trabalha fazendo calçamento. Aquele que fica assoviando e batendo com a colher de pedreiro nas pedras.
- Já sei quem é. É Chiquim de Pedro Belo. Eu vou buscar.
Natércio chegou na casa de Ciquinho e bateu palmas na janela. Chiquinho que estava no corredor, viu que era o dono do sofreu e falou de lá:
- Isbarre aí, Seu Nateço. Eu vou já.
Antes de atender a visita, Chiquim pegou a gaiola com o sofreu e escondeu debaixo de um fogão a lenha e foi receber a visita:
- Diga Seu Nateço, pode entrar.
- Chiquim. Cadê meu sofreu?
- Eu num sei de sofreu seu não.
- E você não pegou com a minha tia?
- Eu mermo não. Ela tá é caducando.
- Pegou, que ela me disse que foi você.
- É mentira dela.
- Você respeite minha tia, que ela não mente não.
- Apois pode precurar dento de casa.
Natércio foi entrando e nada de encontrar, mas quando chegou na cozinha, falou um pouco mais alto e o sofreu respondeu num canto bem abafado. Ele foi falando e seguindo o canto, até que chegou no fogão e encontrou a gaiola que foi logo tirando e dizendo:
- Tenha vergonha. Chiquim !
Chiquim sem ter o que fazer mais, só fez dizer:
- Quem terá sido qui butou o bichim aí?

Um comentário:

  1. Muito boa. Gostei. Conheci o Sr. Natércio e conheço o Sr.Chiquim de Pedro Belo. Bela recordação.

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