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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sábado, 17 de agosto de 2013

Democracia: Por onde começa - Por Sandro Vaia

O governo e os políticos entenderam mal. O que o povo pediu nas ruas não foi uma reforma política, mas uma reforma na política.

A observação, tão simples quanto sagaz, é de um tuiteiro. Por isso, as sugestões de uma Constituinte exclusiva ou de um plebiscito sobre reforma foram desprezadas ou simplesmente ignoradas até pelos próprios aliados do governo.

A panaceia tem um vício de origem: não é isso o que o povo está querendo. O que o povo está querendo também é indefinível , volátil e subjetivo, mas envolve ética, eficiência, fim dos privilégios, fim da malversação dos recursos públicos - o óbvio,enfim.

Os partidos políticos, incluindo o mais organizado e o mais popular deles - o PT - não chegam, juntos, a somar 50% de aprovação popular.

No Brasil, não existe sequer o espectro tradicional da representação de princípios que constitui o perfil tradicional dos partidos das democracias maduras do Ocidente, e que Norberto Bobbio, em seu clássico trabalho, Esquerda & Direita (editor UNESP), definiu e classificou assim:

a) na extrema-esquerda estão os movimentos simultaneamente igualitários e autoritários, a exemplo do jacobinismo;

b) no centro-esquerda, doutrinas e movimentos simultaneamente igualitários e libertários (o que ele chama de “socialismo liberal”), a exemplo dos partidos social-democratas;

c) no centro-direita, doutrinas e movimentos simultaneamente libertários e inigualitários, a exemplo dos partidos conservadores, “que se distinguem das direitas reacionárias por sua fidelidade ao método democrático”; e

d) na extrema-direita, doutrinas e movimentos antiliberais e antiigualitários, a exemplo do nazi-fascismo.

Aqui estamos ainda nos aspectos primitivos desse debate elementar: um partido social-democrata como o PSDB é definido na discussão ideológica pedestre que as redes sociais amplificam como “de direita” e “fascista”.

O PT, um partido de prática social democrática, é confundido com um partido revolucionário, ainda que algumas de suas facções militantes se considerem, com um certo orgulho, como tal.

O fato é que essa radicalização provocada pela pura ignorância política e possivelmente pelas sequelas dos 20 anos de ditadura militar, que interditaram a existência de um partido forte e consistente do que Bobbio definia como “centro-direita”, provocaram um estranho fenômeno que consiste no seguinte: provavelmente o conjunto do pensamento majoritário da sociedade brasileira - que é uma espécie de liberalismo conservador (de corte inglês) não tem representação no Brasil.

Todos os partidos aqui são de esquerda, ou querem ser, ou imitam, ou fingem que são, porque têm medo de defender publicamente opiniões contrárias. O único que pretendia isso - o DEM - cometeu hara-kiri publico moral ou conceitual e dissolveu-se politicamente.

Começa por aí: sem partidos consistentes não há representatividade e sem representatividade não há democracia.

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