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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

DO TEMPO DO BUMBA - Por Mundim do Vale.

VOCÊ  ESTÁ  PERDOADO.

O Coronel Antônio Correia e José Joaquim Vieira ( Joaquim Piau )
Eram amigos e correligionários na política em Várzea Alegre-Ceará. Os dois também faziam parte  das campanhas de arrecadações de fundos para a paróquia. Nas quermesses Joaquim Piau conduzia o Partido azul e o coronel o encarnado.
Antônio Correia era propritário de umas terras no pé da serra do Gravié, onde tinha uma lagoa que era a menina dos seus olhos.
No ano de 1935, um grupo de rendeiros procurou o coronel a fim de arrendarem as suas terras para o plantío de arroz. Entre os rendeiros estava o meu avô Joaquim Piau na posição de líder do grupo. Os outros eram os Joaquins, os Lobos e os Marcianos da Unha de Gato.
Feito a proposta ficou acordado que havendo a safra os rendeiros pagariam  vinte por cento da produção, se não houvesse inverno para segurar o legume todos perdiam. Fizeram as plantações em janeiro, as chuvas vieram, a lagoa encheu e o arroz crescia mais do que os fuxicos da Varzinha.
Quando foi no final de abril o arroz já estava embuchando e faltaram as chuvas. Nós sabemos que quando o arroz está embuchando, se a terra não estiver mollhada  o caroço não enche e o prejuízo é certo.
Um dia o líder Joaquim Piau recebeu a visita dos outros rendeiros, que traziam uma idéia para salvar a safra. Um deles dirigiu-se ao meu avô e falou:
- Cumpade. Se nóis num tumar uma providença, nóis ramo perder a safra.
- E qual seria a providência?
- É nóis falar cum o coroné pra ele arrumar água da lagoa prumode nóis aguar.
- Eu acho muito difícil Antônio concordar. Há não ser que nós arrombe.
- Mais omi, o coroné é valente e a casa dele é cheia de jagunço.
- Mas ele não precisa saber. Nós vamos à meia noite, abre a parede, solta a água e depois fecha novamente.
Assim foi feito; O grupo foi à meia noite, formaram os baldes, fiseram as contenções para que a água não saisse da roça, cortaram a parede e depois fecharam.
O arroz segurou, mas os rendeiros ficaram inseguros, por conta do ódio explícito do coronel, que dizia na rua:
- Se eu descobrir quem foi que fez aquela desfeita,ele vai receber um castigo para nunca mais desmoralizar um homem de bem.
Os rendeiros pagaram a renda combinada, mas o coronel não se conformava, estava sempre especulando para descobrir os malfeitores.
No mês de agosto do mesmo ano, o coronel e Joaquim Piau foram para uma reunião na paróquia, onde desenvolveram a estratégica da campanha para a festa do padroeiro. Terminada a reunião, o meu avô colocou a mão no ombro do coronell e falou:
- Antônio. Eu tinha dois assuntos para falar hoje. Um nós já resolvemos e o outro é sobre a lagoa.
- E o que é que tem a lagoa?
- Você não tá querendo saber quem foi que arrombou? Pois eu vou lhe diizer. Quem arrombou a sua lagoa fui eu.
O coronel afastou-se, arregalou os olhos, mordeu a língua e falou:
- Joaquim Piau! Como foi que você teve coragem de fazer uma coisa dessa comigo? Se você tivesse me pedido a água eu lhe dava até a lagoa toda para agoar o seu arroz.
- Eu sei Antônio, mas acontece que se eu lhe pedisse a água, eu segurava o meu, mas o restos dos rendeiros perdiam os deles, você perdia a renda e São Raimundo perdia a esmola. E eu sei que você não morreu de sede por cauza disso.
O coronel aproximou-se novamente e disse:
- Pois bem Joaquim. Já que a sua atitude foi em prol da comunidade. VOCÊ  EST[Á  PERDOADO.

Fonte: Paulão Piau.
Dedico esse cauzo a Luís Carlos Correia.

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