O mercado imobiliário comercial é cíclico — algo natural, uma vez que acompanha os altos e baixos típicos de uma economia de mercado. No início da última década, houve uma queda brusca no preço dos aluguéis, o que vitimou empresários como o gaúcho Rafael Birmann, um dos grandes construtores do país (sua empresa tinha 400 funcionários e hoje tem 20). O bilionário Donald Trump pediu falência nada menos do que quatro vezes — e sempre voltou a construir assim que o mercado renasceu. Claro, há bolhas e bolhas. Como se sabe, a última euforia generalizada no setor imobiliário americano derrubou a economia mundial. Naquele caso, o que potencializou o problema foi o excesso de dívida envolvida. Tanto donos de casas quanto construtores de prédios tomaram dinheiro demais emprestado de bancos. Quando o mercado virou, em 2008, não tinham mais dinheiro para pagar suas dívidas — criando uma bola de neve que arrasou os bancos e levou a economia como um todo para a recessão. A cidade de Detroit, que já não vinha bem antes da crise imobiliária, pediu falência depois dela: hoje, há quase 80 000 imóveis vazios na cidade. Nossa bolha imobiliária terá efeitos semelhantes? Felizmente, não corremos esse risco. O volume de dívida contraída pelas empresas que constroem imóveis comerciais é relativamente baixo. Do total de crédito concedido pelos bancos às empresas do setor imobiliário, apenas 18% vão para as companhias que constroem escritórios, galpões e shoppings (o restante c direcionado ao segmento residencial). O crédito imobiliário equivale a 75% do PIB americano. No Brasil, a apenas 8%. Isso não quer dizer que a crise atual passará sem consequências. As varejistas que operam em shoppings estão perdendo dinheiro com o movimento baixo. Em fevereiro, as empresas de shoppings e as varejistas se reuniram num evento com 400 pessoas num hotel em São Paulo, para tentar chegar a um “acordo de paz” e repensar a estratégia daqui para a frente. Milhares de investidores estão pagando a conta pelos excessos do setor. Em cinco anos, o número de fundos imobiliários disponíveis no Brasil triplicou. Esses fundos são lastreados em imóveis que recebem aluguéis e, há três anos, eram propagandeados pelos bancos como uma opção segura de investimento. O total de cotistas saiu de 20 000 em 2011 para 104 000 em junho de 2013. Atualmente, quase 90% desses fundos estão no vermelho. É o caso do Cidade Jardim Continental Tower, que investe numa torre comercial ao lado do shopping Cidade Jardim, em São Paulo, e desvalorizou quase 50% em 12 meses. Mais de um terço do prédio está sem inquilinos.
O mercado imobiliário é um espelho da atual situação econômica brasileira.
Um segmento (o comercial) depende de empresas investindo, confiança no futuro da economia, sensação de que as coisas vão melhorar. Como se viu, esses são artigos um tanto raros no Brasil de hoje. Mas o outro segmento (o residencial) parece estar situado em outro país. Nele, o que importa é a combinação de desemprego baixo com crédito em alta. Nesse país, tudo vai bem. O crédito para a compra de imóveis residenciais dobrou nos últimos três anos, e pouca gente espera que vá parar de crescer tão cedo. O principal motivo para isso: esse tipo de empréstimo é um baita negócio para os bancos, que conseguem manter o relacionamento com os clientes por duas, três décadas — e, em caso de calote, podem, atualmente, retomar o imóvel com relativa facilidade. Isso ajuda a explicar por que o preço de casas e apartamentos continua crescendo enquanto o resto do mercado cai. Quanto tempo o mercado residencial resistirá? O economista Eugene Fama, que dividiu o Nobel com Robert Schiller, gosta de provocar seu colega ao lembrar que ele falava da bolha imobiliária americana anos antes do estouro. Segundo a maioria dos especialistas, o mais provável daqui para a frente é que o preço dos imóveis residenciais pare de subir de forma tão acelerada e passe a acompanhar mais de perto a taxa de inflação. Mas, de novo, é o consenso de que tudo está bem que leva os preços a subir mais do que devem. Em algum momento os preços cairão. Nessa hora — não importa se daqui a um, cinco ou dez anos —, lá estará Robert Shiller, o caçador de bolhas, dizendo: brasileiros, eu avisei.
Quem não acreditar nas informações do nobel de economia vá na onda e conversa do governo Dilma Roussef.
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