É conhecido o provérbio: “Devo, não nego, pagarei quando puder.” Lembrei-me da frase quando o governo federal, estrategicamente na sexta-feira de carnaval — ocasião em que os brasileiros já estavam mais preocupados com Momo do que com Mantega —, anunciou o resultado fiscal de janeiro.
É impossível dissociar o primeiro mês de 2014 com o que aconteceu no fim do ano passado. À época, com intenção clara de exibir números que não decepcionassem, ainda mais, o mercado financeiro e as agências de risco, o governo postergou despesas de dezembro para janeiro deste ano, inflando o superávit primário de 2013.
Certamente não foi a primeira vez — e não será a última — que um burocrata maquia o resultado de um determinado período, sobretudo em ano pré-eleitoral. A contabilidade postergada é popularmente chamada de “pedalada”.
De 2013 para 2014, entretanto, foi um verdadeiro “Tour de France”. O absurdo foi tal que, pela primeira vez, desde o início da série histórica do Banco Central, em 1997, as despesas de janeiro superaram as de dezembro.
Os truques que fizeram as despesas de dezembro desaparecerem para ressurgirem em janeiro de 2014 passaram, entre outras mágicas, pelo crescimento de 27,8% dos restos a pagar processados (quando só falta o pagamento do serviço prestado), pela emissão de bilhões de reais em ordens bancárias nos últimos dias do ano — para que fossem sacadas apenas nos primeiros dias de 2014 — e também pela retenção de receitas estaduais e municipais.
Em dezembro, do dia 1º ao dia 27, a União pagou R$ 2 bilhões em investimentos (obras e equipamentos). No entanto, entre os dias 28 e 31 foram lançados R$ 4,1 bilhões.
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