Serviços públicos para lá de precários, preços que doem no bolso desafiando o blablablá oficial, insegurança, roubalheira, um sem fim de promessas que não se concretizam. São motivos mais do que suficientes para que a mudança seja a reivindicação primeira dos brasileiros.
Mas mudar o quê? Tudo ou muita coisa, respondem 65% dos entrevistados pelo Ibope. Dito assim parece que o eleitor se renderá àquele que oferecer o pacote mudança-já mais palatável.
Bastará prometer seis mil creches, saúde de Primeiro Mundo ou energia renovável, mais barata e não poluente, como fez Dilma Rousseff em 2010? No horário eleitoral da época, a presidente apareceu sorridente ao lado de torres e pás eólicas que até hoje não iluminam uma única casa. No total, são 48 parques eólicos prontos, caríssimos, e que não geram um único watt por falta de linhas de transmissão.
O eleitor dá sinais de que se cansou de coisas assim. Está incomodado, inconformado.
Encarnar a mudança não é fácil para ninguém. Pela lógica, seria menos complicado para a oposição do que para quem quer continuar na cadeira. Mas não com o tipo de presidencialismo centralista em que o Executivo tudo pode. E que, a partir do PT, passou a poder ainda mais, não raro acima das leis.
Dilma pode até proclamar a mudança por decreto, como fez durante as manifestações de junho do ano passado, ao lançar um pacto nacional, de cara fadado ao insucesso.
Ainda que aliada ao atraso – Sarney, Collor, etc., e uma agenda estatizante que aproxima o País dos anos 1950 –, a presidente conta com exposição maciça: rádios regionais, rádio oficial uma vez por semana, publicidade estatal e possibilidade de usar rede nacional em horário nobre sempre que lhe der na telha.
Os opositores, nada disso. Mesmo que consigam reunir ideias inovadoras, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) terão de fazer mágica para chegar ao público. Não serão páreo nem mesmo quando vier o discutível horário eleitoral compulsório, espaço que Dilma dominará quase que por inteiro.
O quadro é cruel. O Brasil quer mudança e não há a menor possibilidade de se criar fóruns de massa para a apresentação e discussão de propostas. Jornais? Chegam a uma parcela mínima, que já tem opinião formada. Redes sociais? Mexem com turmas aguerridas ou remuneradas, defensoras de seus lados. Debates na TV? Acontecem tarde da noite, em horários proibitivos. E, possivelmente, se darão sem a presidente-candidata. Comícios? Caíram em desuso. Espaços terão de ser cavoucados à unha.
À mudança antecede outra exigência: respeito, artigo há muito em falta no estoque do atual governo e que a oposição tem a obrigação de tentar repor. Seria de grande valia, independente do resultado eleitoral.
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