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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


terça-feira, 16 de setembro de 2014

O nobre político - Por Carlos Alberto Di Franco

A política brasileira está podre. Ela é movida a dinheiro e poder. “Dinheiro compra poder, e poder é uma ferramenta poderosa para se obter dinheiro. É disso que se trata as eleições”.

Assustador o dignóstico que o juiz Márlon Reis faz da política brasileira em seu livro O nobre deputado. Conhecido por ter sido um dos mais vibrantes articuladores da coleta de assinaturas para o projeto popular que resultou na Lei da Ficha Limpa, foi o primeiro magistrado a impor aos candidatos a prefeito e a vereador revelar os nomes dos financiadores de suas respectivas campanhas antes da data da eleição.

A radiografia do juiz acaba de ser poderosamente confirmada pelas revelações feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Em resumo, amigo leitor, durante oito anos –de 2004 a 2012 – os contratos da maior empresa brasileira com grandes empreiteiras eram usados como fonte de propina para partidos e políticos. Dá para entender as razões da crise da Petrobras. É pilhagem, saque, puro banditismo. Atinge em cheio os governos de Dilma e Lula.

O novo escândalo é a ponta do iceberg de algo mais profundo: o sistema eleitoral brasileiro está bichado e só será reformado se a sociedade pressionar para valer.

Hoje, teoricamente, as eleições são livres, embora o resultado seja bastante previsível. Não se elegem os melhores, mas os que têm mais dinheiro para financiar campanhas sofisticadas e milionárias.

Empresas investem nos candidatos sem qualquer idealismo. É negócio. Espera-se retorno do investimento.

A máquina de fazer dinheiro para perpetuar o poder tem engrenagens bem conhecidas no mundo político: emendas parlamentares, convênios fajutos e licitações com cartas marcadas.

Indignação? Desencanto? É óbvio.

O macroescândalo da Petrobras promete. O mensalão vai parecer um berçário.

O Brasil está piorando? Não. Está melhorando. A exposição da chaga é o primeiro passo para a cura do doente.

Ao divulgar as revelações do ex-diretor da Petrobras, a imprensa cumpre um papel relevante: impede que o escândalo fique na gaveta de uma CPI do Congresso.

Existem razões para otimismo? Acho que sim. A Lei da Ficha Limpa começa a dar seus primeiros frutos. Paulo Maluf (PP) e José Roberto Arruda (PR), entre outros, podem estar fora das próximas eleições.

A promiscuidade entre políticos e empresas parece estar com os dias contados. O Supremo Tribunal Federal (STF), provavelmente, votará pelo fim das doações de empresas, na ação movida nesse sentido pela OAB.

A imprensa de qualidade, livre e independente, está aí. Incomodando. Felizmente.

Leia jornais. Informe-se. Acredite no Brasil, não em salvadores da pátria. E vote bem. O caminho é longo. Mas vale a pena..

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