Como é possível que ninguém dentro do governo soubesse que Renan Calheiros, presidente do Senado e do Congresso, devolveria a Medida Provisória assinada por Dilma que tratava do aumento da contribuição previdenciária para as empresas, anunciada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na última sexta-feira?
Renan considerou a medida inconstitucional. Sob aplausos da oposição e perplexidade do PT, ele decretou: “O Executivo, ao abusar do uso de medidas provisórias, deturpa o conceito de separação dos poderes”.
Sempre se poderá dizer que o Executivo agiu assim até agora, e que Renan nunca reclamou. E daí? Haverá sempre a primeira vez.
O presidente do Senado escolheu a hora certa para agir, conquistando o apoio da quase totalidade dos seus pares.
Chega de o governo despachar para o Congresso tudo o que lhe interessa por meio de Medidas Provisórias.
Basta de o governo prometer que governará com os partidos, ignorando-os em seguida.
Razões menos nobres podem ter movido Renan. Do tipo: ele ainda não conseguiu empregar no governo quem queria. Ou Dilma não ajudou com dinheiro Renanzinho, o novo governador de Alagoas.
Ou o governo não se mexeu para evitar que o nome de Renan fosse citado na lista de políticos envolvidos com a corrupção na Petrobras.
Assinada por Rodrigo Janot, procurador-geral da República, a lista desembarcou no Supremo Tribunal Federal.
Fazem parte dela 54 nomes – entre eles o de Renan e o de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados.
Por mais que soe absurdo, Renan acha que o governo poderia, sim, ter dado um jeito de poupá-lo do vexame.
Não importa. Renan foi de um raro oportunismo. E é isso o que distingue um político arguto de um não arguto.
Se por acaso for aberto no Conselho de Ética do Senado algum processo para cassar Renan por quebra de decoro, o time de senadores capaz de derrubar a medida cresceu no rastro do episódio de ontem.
Quanto ao governo de Dilma...
Ou providencia uma nova articulação política ou continuará levando sustos. Ou muda de comportamento ou ficará cada vez mais sozinho.
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