“O Brasil está sedento por consensos, estabilidade e soluções para hoje e para o futuro”, disse Dilma Rousseff aos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. “Conto com vocês para fazer a travessia ao porto seguro da retomada do desenvolvimento e da geração de oportunidades a todos.”
Num esforço de interpretação, pode-se dizer que, nesse trecho do seu discurso, Dilma quis dizer que aquela mulher voluntarista e autossuficente que ela foi até o Réveillon não existe mais. A presidente que produziu a ruína governando na base dos rompantes e sob o lema do padrinho Lula —‘Nós contra eles’— deu lugar a uma cultora de consensos.
Consenso no Conselhão? Ainda não foi inventado nome mais apropriado para papo furado. O conselheiro Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, quer que Dilma patrocine “reformas contundentes” na economia—entre elas a da previdência e a trabalhista. O conselheiro Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores, avisa que sua tribo não aceita reformas que suprimam direitos previdênciarios e trabalhistas.
Dito e feito. Tudo o que a presidente queria dizer para exibir sua nova pose foi dito na reunião do Planalto. Mas mesmo Dilma, um ser pouco afeito às mumunhas da política, sabe que sem o Congresso nada será feito. Sem o Legislativo, o Conselhão do Executivo é uma inutilidade que almeja a pompa, mas tropeça nas circunstâncias.
Em privado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desdenha da agenda que Dilma chama de “positiva”. CPMF? Não passa, sentencia Cunha. Reforma da Previdência? Sem o PT, pode esquecer. DRU? Deve passar, mas não do dia pra noite. Antes, será necessário decidir sobre o impeachment, ainda pendente de votação.
Líder de Dilma na Câmara, o petista José Guimarães quer retirar do caminho o pedido de afastamento da presidnete na primeira semana depois do Carnaval. Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho, retruca: “Não tem necessidade de tanta pressa. Esse tema terá de ser muito bem refletido, seguirá o rito normal. Decisão, só em março. Talvez abril.”
E quanto à mão que Dilma parece estender no rumo da oposição? “Para haver diálogo, precisaria existir uma pauta”, diz Mendonça. Essa agenda da Dilma não existe. A única coisa concreta é o aumento da carga tributária. Não dá para conversar. Por civilidade, podemos cumprimentar os negociadores do governo. Boa tarde, boa noite. E passar bem!”
A exemplo do líder do DEM, o presidente do PSDB, Aécio Neves, está à procura da agenda de Dilma: “O governo, mesmo depois de 13 anos no poder, não tem ainda convicção do que fazer. Qual a proposta do governo de reforma tributária? Qual a proposta do governo de reforma da previdência? Qual a proposta do governo para retomar os investimentos no setor de petróleo? Simplesmente não sabemos.”
Deve-se a suposta disposição de Dilma para o diálogo à flacidez do bloco governista. Apoiada por uma megacoligação partidária que soma perto de 400 deputados e mais de 50 senadores, a presidente poderia continuar governando de costas para a oposição. Mas a infidelidade dos aliados do Planalto aumenta na proporção direta da queda da popularidade de Dilma.
Vem daí que, à frente de um governo endividado até a raiz dos cabelos do contribuinte, Dilma tornou-se refém de um conglomerado partidário 100% custeado pelo déficit público. Em ano eleitoral, como 2016, quando acabam de comer o queijo, os governistas costumam entregar ao Planalto os buracos. A falta de credibilidade de Dilma eleva o preço da fatura. Não há conselhão que dê jeito nisso.
Um conselho para fazer média com os segmentos desde empregadas domesticas aos maiores empresários não será consenso nunca nem solução. Puro populismo e demagogia baratas.
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