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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Sem o Congresso, Conselhão é uma inutilidade - Josias de Souza.

“O Brasil está sedento por consensos, estabilidade e soluções para hoje e para o futuro”, disse Dilma Rousseff aos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. “Conto com vocês para fazer a travessia ao porto seguro da retomada do desenvolvimento e da geração de oportunidades a todos.”

Num esforço de interpretação, pode-se dizer que, nesse trecho do seu discurso, Dilma quis dizer que aquela mulher voluntarista e autossuficente que ela foi até o Réveillon não existe mais. A presidente que produziu a ruína governando na base dos rompantes e sob o lema do padrinho Lula —‘Nós contra eles’— deu lugar a uma cultora de consensos.

Consenso no Conselhão? Ainda não foi inventado nome mais apropriado para papo furado. O conselheiro Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria, quer que Dilma patrocine “reformas contundentes” na economia—entre elas a da previdência e a trabalhista. O conselheiro Vagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores, avisa que sua tribo não aceita reformas que suprimam direitos previdênciarios e trabalhistas.

Dito e feito. Tudo o que a presidente queria dizer para exibir sua nova pose foi dito na reunião do Planalto. Mas mesmo Dilma, um ser pouco afeito às mumunhas da política, sabe que sem o Congresso nada será feito. Sem o Legislativo, o Conselhão do Executivo é uma inutilidade que almeja a pompa, mas tropeça nas circunstâncias.

Em privado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desdenha da agenda que Dilma chama de “positiva”. CPMF? Não passa, sentencia Cunha. Reforma da Previdência? Sem o PT, pode esquecer. DRU? Deve passar, mas não do dia pra noite. Antes, será necessário decidir sobre o impeachment, ainda pendente de votação.

Líder de Dilma na Câmara, o petista José Guimarães quer retirar do caminho o pedido de afastamento da presidnete na primeira semana depois do Carnaval. Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho, retruca: “Não tem necessidade de tanta pressa. Esse tema terá de ser muito bem refletido, seguirá o rito normal. Decisão, só em março. Talvez abril.”

E quanto à mão que Dilma parece estender no rumo da oposição? “Para haver diálogo, precisaria existir uma pauta”, diz Mendonça. Essa agenda da Dilma não existe. A única coisa concreta é o aumento da carga tributária. Não dá para conversar. Por civilidade, podemos cumprimentar os negociadores do governo. Boa tarde, boa noite. E passar bem!”

A exemplo do líder do DEM, o presidente do PSDB, Aécio Neves, está à procura da agenda de Dilma: “O governo, mesmo depois de 13 anos no poder, não tem ainda convicção do que fazer. Qual a proposta do governo de reforma tributária? Qual a proposta do governo de reforma da previdência? Qual a proposta do governo para retomar os investimentos no setor de petróleo? Simplesmente não sabemos.”

Deve-se a suposta disposição de Dilma para o diálogo à flacidez do bloco governista. Apoiada por uma megacoligação partidária que soma perto de 400 deputados e mais de 50 senadores, a presidente poderia continuar governando de costas para a oposição. Mas a infidelidade dos aliados do Planalto aumenta na proporção direta da queda da popularidade de Dilma.

Vem daí que, à frente de um governo endividado até a raiz dos cabelos do contribuinte, Dilma tornou-se refém de um conglomerado partidário 100% custeado pelo déficit público. Em ano eleitoral, como 2016, quando acabam de comer o queijo, os governistas costumam entregar ao Planalto os buracos. A falta de credibilidade de Dilma eleva o preço da fatura. Não há conselhão que dê jeito nisso.

Um comentário:

  1. Um conselho para fazer média com os segmentos desde empregadas domesticas aos maiores empresários não será consenso nunca nem solução. Puro populismo e demagogia baratas.

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