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"Ultrapassa-te a ti mesmo a cada dia, a cada instante. Não por vaidade, mas para corresponderes à obrigação sagrada de contribuir sempre mais e sempre melhor, para a construção do Mundo. Mais importante que escutar as palavras é adivinhar as angústias, sondar o mistério, escutar o silêncio. Feliz de quem entende que é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo".

Dom Helder Câmara


quinta-feira, 24 de março de 2016

Desvendando nossa história: Juazeiro do Norte nasceu da devoção a Nossa Senhora das Dores – por Armando Lopes Rafael

A verdade concisamente
 Podemos afirmar, com toda segurança, que a cidade de Juazeiro do Norte teve início como fruto da devoção a Nossa Senhora das Dores. Embora a maioria das pessoas, por desconhecimento real da história, atribua ao Padre Cícero Romão Batista a fundação de Juazeiro do Norte, renomados historiadores afirmam ter sido o Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, um cratense nascido em 1740 no sítio Moquém, o verdadeiro fundador do núcleo primitivo que deu origem a atual cidade.
Amália Xavier de Oliveira, no livro “O Padre Cícero que eu conheci”, esclarece o motivo da construção de uma capela, em 18827, na fazenda de propriedade do Brigadeiro Leandro.

Ordenara-se sacerdote, o Pe. Pedro Ribeiro de Carvalho, neto do Brigadeiro (porquanto filho de sua primogênita, Luiza Bezerra de Menezes, e do primeiro marido desta, o Sargento-mor Sebastião de Carvalho de Andrade, natural de Pernambuco). Para que o recém-ordenado padre pudesse celebrar diariamente, sem lhe ser necessário ir a Crato, Barbalha ou Missão Velha, a família combinou com o novel sacerdote a construção de uma capelinha, no ponto principal da fazenda, perto da casa do proprietário, imóvel já existente. (cfe. Amália Xavier de Oliveira). “A capela foi consagrada a Nossa Senhora das Dores, cuja imagem foi trazida de Portugal”. (idem, idem na página 35 da obra citada). Na foto ao lado a imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, adquirida pelo Brigadeiro).

     Deve-se, pois, ao Brigadeiro Leandro a iniciativa da primeira urbanização da localidade – ainda conhecida por Fazenda Tabuleiro Grande – com a edificação da Casa Grande, de uma capela, além de residências para os escravos e agregados da família. A realidade histórica nos mostra: quando o Padre Cícero chegou ao “Joaseiro”, para fixar residência, – somente em 11 de abril de 1872 – como 6º (sexto) capelão, já encontrou um povoado formado em torno da capelinha de Nossa Senhora das Dores. Contava o lugarejo, à época da chegada do Padre Cícero, com 35 residências, quase todas de taipa, espalhadas desordenadamente por duas pequenas ruas, conhecidas por Rua do Brejo e Rua Grande.

      No povoado – à época da chegada do Padre Cícero – residiam cinco famílias, tidas como a elite do vilarejo: Bezerra de Menezes, Sobreira, Landim, Macedo e Gonçalves. É verdade, porém, que o povoado só veio a ter alguma projeção a partir da ação evangelizadora do Padre Cícero. E o vertiginoso crescimento demográfico da localidade só começou em 1889, motivado pela ocorrência dos fatos protagonizados pela Beata Maria de Araújo, que passaram à história como “O Milagre da Hóstia”.

A primitiva imagem da Mãe das Dores
        A imagenzinha de Nossa Senhora das Dores – adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, em Portugal – foi venerada como padroeira da Fazenda Tabuleiro Grande e, posteriormente, pela povoação do povoado de “Joaseiro”, por cerca de 60 anos. Zélia Pinheiro, escrevendo ¬– no opúsculo Sesquicentenário de Fé – sobre a inauguração, em 19 de agosto de 1884, da nova capela de “Joaseiro”, esta já construída pelo Padre Cícero, em substituição à primitiva, edificada pelo Brigadeiro, narra:
(…) Continuava como Padroeira Nossa Senhora das Dores e fora colocada no Altar a mesma imagem trazida de Portugal para a Capelinha da Fazenda Tabuleiro Grande. Era uma imagem em estilo bizantino, de madeira, muito bem esculpida, tendo setenta e cinco centímetros de tamanho e permaneceu no Altar-Mor até setembro de 1887, quando foi trocada pela imagem que até hoje está lá. (cfe. Zélia Pinheiro na página 26).

     Bom esclarecer que a atual imagem – ora pontificando no altar-mor da Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores – foi adquirida pelo Padre Cícero a fim de substituir a primeira imagem, a que tinha sido adquirida pelo Brigadeiro Leandro Bezerra. A atual imagem somente chegou a Juazeiro em 1887, proveniente da França.

    No entanto, a pequena imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, chamada antigamente pelo povo de “Carita”, encontra-se, ainda hoje, em perfeito estado de conservação. Ela, por questão de segurança, é guardada na Casa Paroquial. Geralmente é exposta à veneração dos fiéis em duas grandes procissões anuais: a de 2 de fevereiro (Nossa Senhora das Candeias) e 15 de setembro (Nossa Senhora das Dores).

Bibliografia:
OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci: verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3ª ed. Recife: Editora Massangana, 1981, 332 p.
PINHEIRO, Zélia. Sesquicentenário da Fé – Juazeiro do Norte – Ceará – 1827 a 1977. Crato (CE), 1977. 50 p.
(*) Armando Lopes Rafael é licenciado em História pela Universidade Regional do Cariri

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