O Seminário São José de Crato foi fruto de um desejo de Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará, com o objetivo de ampliar a divulgação da Boa Nova de Cristo e salvar almas, no território da sua vasta diocese, a qual, à época, compreendia todo o nosso Estado.
Para concretizar esse anelo, e depois de ter recebido sugestão nesse sentido, em 1871, do recém-ordenado Padre Cícero Romão Batista, Dom Luís encaminhou – em 1872 – dois padres lazaristas, – padres Guilherme Van den Sandt (alemão) e José Joaquim de Sena Freitas (português nascido no arquipélago dos Açores) – para realizarem uma missão religiosa, em terras do Cariri cearense. Os dois missionários lazaristas ficaram encantados com o progresso da cidade e com o entusiasmo com que a população acolheu as missões.
Os dois padres receberam orientação para angariar doações visando à construção de um Seminário Diocesano, na cidade de Crato. Depois disso Dom Luís Antônio enviou para Crato o padre italiano Lourenço Vicente Enrile, para acompanhar a construção do vasto prédio, que seria erguido em grande terreno doado pelo coronel Antônio Luís Alves Pequeno, no aprazível subúrbio, à época conhecido como Grangeiro, hoje denominado bairro do Seminário. Logo faltaram os recursos para dar continuidade à construção. Então Dom Luís Antônio resolveu deslocar-se de Fortaleza para Crato, ficando ele próprio à frente dos trabalhos. Aqui chegou no dia 31 de dezembro de 1874.
Durante sua estada em Crato, foi-lhe preparada uma residência episcopal pelo seu grande amigo e compadre, coronel Antônio Luís Alves Pequeno, que arcou também com as despesas de cama e mesa de Dom Luís Antônio e sua comitiva. A residência ficava num sobrado localizado na esquina da atual Rua João Pessoa com Praça Juarez Távora. Como sempre, a população de Crato acolheu com festas, respeito e muita alegria o primeiro Bispo do Ceará. Era diferente a mentalidade da população cratense no século 19!
Pôs-se Dom Luiz à frente da construção, mas, dada a grandiosidade da obra, o Seminário São José foi inaugurado, em 07 de março de 1875, em barracões provisórios, feitos de taipa e cobertos de palha, enquanto a construção dos blocos de alvenaria tinha prosseguimento. O povo cratense apelidou os barracões de taipa de “seminarinho”. Este funcionou com salas-de-aulas, dormitório, refeitório, cozinha e uma pequena capela até o mês julho, quando foi concluído o lado sul do atual prédio do Seminário São José.
Estava realizado o grande sonho de Dom Luís, dotar Crato do seu Seminário, que vem funcionado, com algumas interrupções nos primeiros anos, até os dias atuais. Nos início de agosto, Dom Luís Antônio retornou a Fortaleza para nunca mais voltar às terras caririenses. Em 1881, Dom Luís foi transferido para Salvador, como Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil, e lá permaneceu até 11 de março de 1891, data do seu falecimento. Foi sepultado na capela do Santíssimo Sacramento da Catedral de Salvador.
Uma curiosidade: A fama de que Crato é uma cidade ingrata para com seus bispos vem de longe! Não é de agora, quando até desclassificados "coroinhas" usam as redes sociais para criticar (e até caluniar) essa autoridade religiosa. Dom Luís Antônio dos Santos fez muito pelo Crato. Mas, sequer, existe uma rua em Crato com o nome dele. Já em Aracati, onde Dom Luís esteve apenas em visita pastoral, existe um grande monumento comemorativo da sua viagem àquela cidade jaguaribana. Erigido em comemoração à primeira visita pastoral de Dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará, situa-se à entrada norte da rua Coronel Alexanzito. Consta de uma pirâmide de alvenaria, com altura de aproximadamente 10 metros. Numa das faces do monumento encontra-se a seguinte inscrição: “Esse monumento da primeira visita pastoral que aos 30 dias de julho de 1863 se dignou fazer a esta cidade o Exmº. e Revmº. Sr. Dom Luiz Antonio dos Santos, primeiro Bispo desta diocese do Ceará e em testemunho de inteira veneração à pessoa de seu primeiro prelado, fez construir esta pirâmide a cidade de Santa Cruz do Aracati”. O local onde se encontra o referido monumento chama-se "Praça Dom Luiz".
E o Crato? O memorialista Huberto Cabral vem tentando, pelo menos, que a omissa Câmara de Vereadores desta cidade denomine de Dom Luís, a minúscula pracinha recém-construída pelo Governo do Ceará e localizada em frente ao Seminário São José.
(Texto e postagem de Armando Lopes Rafael)
Idéias nascidas de homens de mentes sadias, sentimentos humanos e nobreza virtuosa e cristã.
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