Dado o inglório padrão do investimento público no país, não chegaram a causar surpresa o atraso e os custos extras da faraônica transposição do São Francisco. Há mais, no entanto: uma década depois do início da empreitada, constata-se agora que esteve subestimada também a severidade da degradação do rio. Conforme revelou reportagem desta Folha, restam dúvidas no governo federal quanto à disponibilidade de água para atender aos propósitos da obra polêmica, cuja inauguração está programada para dezembro.
Aprovou-se, diante disso, um plano para desembolsar, ao longo dos próximos dez anos, mais R$ 10 bilhões –além dos R$ 2,2 bilhões já gastos até aqui– em ações de revitalização socioambiental. Como de hábito, a conta adicional a ser transferida aos contribuintes vem embalada em marca publicitária e bons propósitos. Anuncia-se que o programa Novo Chico, como foi batizado, envolverá obras de saneamento, irrigação, remoção de entulhos e recuperação de nascentes na região da bacia hidrográfica.
Nada disso configura a novidade que o nome fantasia sugere. Em 2012, relatório do Tribunal de Contas da União considerou dispersas e insuficientes as iniciativas do programa de controle de processos erosivos e recuperação da área. Das providências então recomendadas, muito pouco se fez, como observou o mesmo TCU em 2015. Não se sai melhor no retrospecto a própria obra de transposição do rio. Orçada na origem em R$ 4,5 bilhões, a serem gastos até 2012, a construção dos canais que levarão as águas ao semiárido já consumiu mais que o dobro desse valor e se tornou alvo das investigações da Lava Jato.
São cifras às quais pouco se prestava atenção nos tempos de bonança orçamentária do governo Lula (PT), quando foi posto em andamento, sem suficiente cotejo de custos e benefícios, o projeto grandioso –hoje um fato consumado. Resta torcer para que a penúria dos dias atuais conduza os governantes ao planejamento e à temperança no manejo dos dispêndios restantes. Como pregava o santo que dá nome ao rio, que da pobreza venha a purificação.
("Opinião" do jornal Folha de S.Paulo)
Prezado Armando Rafael - O bispo que até greve de fome fez, dizia para quem quisesse ouvir. Essa é uma obra eleitoreira. Grande verdade. Se fosse levantado os desvios e a corrupção desta obra, todos, ficariam abismados e conhecendo o quanto o bispo tinha razão. Por falar nisso, a atriz Letícia Sabatella era contra, levou até um safanão do ministro Ciro Gomes. Alguém sabe informar o que a fez mudar?
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